Na avaliação do novo Kia Picanto, que virá ao Brasil até o fim do ano, nosso colega do Motor1 britânico disse que as pessoas compram carros subcompactos porque desejam um carro pequeno, e não necessariamente porque não têm dinheiro para comprar um modelo maior. Isso explica a evolução do carrinho coreano em refinamento e mimos. Mas por que estamos falando disso no texto do up! brasileiro? Porque, assim como o Picanto, o up! subiu de patamar e invadiu a faixa de preço de hatches maiores. Com novidades no visual, acabamento e equipamentos, o up! evoluiu e deixou para o Gol o selo de carro de entrada da VW por aqui.
Para começo de conversa, não existe mais versão duas portas, o que elevou o valor de partida do up! para R$ 37.990 na versão Take. Só que esse modelo continua a vir sem os praticamente obrigatórios ar-condicionado, direção assistida e vidros elétricos dianteiros. Com eles, o up! mais barato custa R$ 43,2 mil - o que é mais do que um Hyundai HB20, maior e mais espaçoso. Mas, como dissemos no começo, o cliente do up! não está necessariamente em busca de preço baixo. Prova disso é que metade das vendas do Volkszinho são com motor 1.0 TSI (turbo e injeção direta), só disponível a partir da versão intermediária Move e com preços começando em R$ 52.790 na linha 2018. A mesma configuração com motor 1.0 aspirado sai por R$ 48.290.
Nessa linha de refinar o up!, as mudanças foram baseadas no carro europeu. O carro nacional, maior que o original na parte traseira, teve o comprimento aumentado em 84 mm com os novos para-choques - agora com o frontal igual para as versões aspirada e turbo, sendo que antes a TSI tinha 40 mm extras. Faróis mudaram por dentro e as lanternas ganharam nova disposição de luzes e lente escura. No geral, o up! perdeu um pouco da cara de "bonzinho" e ficou mais invocado, no que ajudaram também as novas rodas de liga. Deixam de existir as versões "coloridas" Red, White e Black, até como forma de o up! assumir uma postura mais séria. E os modelos TSI recebem outros diferenciais além da tampa traseira preta: há um friso vermelho vermelho na grade (como no Golf GTI), para-choque frontal com aplique em black piano e o logotipo TSI nas colunas centrais.
A aposta no motor turbinado também fica clara na oferta de versões mais enxuta do up! 2018. A de entrada Take segue disponível apenas com o 1.0 aspirado; a intermediária Move pode ser 1.0 aspirada manual, 1.0 aspirada automatizada (I-Motion) ou 1.0 TSI; a top de linha High agora vem exclusivamente com o 1.0 TSI. A "esportiva" Speed foi descontinuada, mas em compensação temos agora esta Connect avaliada aqui. Trata-se de uma série feita sobre a versão Move TSI que traz acabamento interno escuro, rodas aro 15" diamantadas, teto na cor preta e sistema de som Composition Phone com tela colorida de 5" e entradas auxiliar, USB e SD Card. Estamos falando de um up! de R$ 56.390 e que ainda não é o mais caro deles, o High, que passou a R$ 57.100.
Se você pensa "quase R$ 60 mil num carro desse tamaninho" o up! certamente não foi feito para você. A decisão por ele passa por aspectos como construção, segurança, tecnologia, desempenho e economia. Não tem outro carro desse preço que acelere de 0 a 100 km/h em cerca de 10 segundos e consiga consumo próximo de 20 km/l na estrada - milagres do motor 1.0 turbo com injeção direta. Mas vamos falar das novidades.
Por dentro, o aspecto simplório do up! foi reduzido drasticamente. O quadro de instrumentos é novo, com mostradores maiores (lembra muito o do Fusca), e o volante agora é o mesmo do Golf, mais bonito e de melhor pegada que o antigo. O painel passou a trazer um plástico texturizado de bom aspecto, na parte central da peça. Nas versões TSI, há um friso de LEDs na divisão do painel que confere uma elegância inesperada à noite. Uma pena as janelas dianteiras continuarem sem comando "um toque" e com os botões não iluminados - o mesmo vale para o comando elétrico dos retrovisores. Também faltou rever os painéis de porta, que seguem deixando a carroceria exposta na cabine - item de rejeição no primeiro up!.
Uma ausência que não será sentida é a da antiga central Maps&More, trocada por um aplicativo que o cliente baixa no próprio celular. Ao contrario do sistema antigo, que vivia travando e ainda precisava ser destacado do painel ao estacionarmos o carro (sob pena de ser furtado), agora a gente desfruta das mesmas informações pelo nosso celular, que ganhou uma base no painel semelhante à do Gol. Pelo aplicativo podemos interagir com o carro como uma espécie de computador de bordo, além de usar apps de navegação como o Waze ou de músicas como o Spotify. É mais ou menos o que faz o sistema Live On do Fiat Mobi, com a diferença de que o up! mantém o radio separado. Para além do novo recurso, o computador de bordo do up! passou a exibir um velocímetro digital, de série a partir da versão Move.
Em movimento, o up! segue como antes. O fôlego do motor TSI impressiona tanto que ele parece ter mais que os 105 cv declarados, muito por conta de o torque máximo de 16,8 kgfm ser entregue totalmente logo a 1.500 rpm. É tanta força para empurrar um carrinho de 955 kg que a VW adotou uma relação de transmissão bastante longa, o que faz com que tenhamos de reduzir marchas caso a ideia seja ter uma retomada mais esperta. Particularmente eu gostaria de uma relação mais curta nas três primeiras marchas, mas isso prejudicaria uma das coisas mais legais do up!, que é o baixo consumo. Na cidade, nossa média com gasolina foi de 13,4 km/l. Na estrada, passou a 18,7 km/l.
Rodando na cidade, a "formiga atômica" garante sempre um sorriso no rosto nas saídas de semáforo e entradas de pistas expressas, tamanho o empurrão do turbo nas acelerações. Só não espere a mesma alegria ao lidar com as irregularidades do piso, que são passadas em tempo real à cabine pela suspensão um tanto dura. Também a direção é um pouco pesada para um sistema elétrico, mas garante confiança na estrada. Quanto à dinâmica, embora seja firme, o up! é alto e estreito - ou seja, anda na linha, mas não é dado a estripulias.
Nesta reestilização, talvez a melhor notícia para o up! seja o fato de que ele ganhou liberdade para voos mais altos. Não precisa ser mais o popular barato (apenas o Take segue com essa missão), mas sim o urbaninho esperto, econômico, refinado e equipado. E já que o preço baixo deixou de ser prioridade, que tal um câmbio automático para as versões TSI, hein, VW?
Fotos: Mario Villaescusa
MOTOR | dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, 999 cm3, comando variável na admissão e escape, turbo, injeção direta, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 101/105 cv a 5.000 rpm / 16,8 kgfm a 1.500 rpm |
TRANSMISSÃO | manual de 5 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 15" com pneus 185/60 R15 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira com ABS e EBD |
PESO | 987 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 3.689 mm, largura 1.645 mm, altura 1.504 mm, entre-eixos 2.421 mm |
CAPACIDADES | tanque 50 litros; porta-malas 285 litros |
PREÇO | R$ 56.390 |
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