Teste instrumentado Suzuki Vitara 4Sport - Quem vê cara não vê emoção
Por baixo do design discreto do SUV, se esconde quase um hot hatch
O Suzuki Vitara chegou ao Brasil em 1991, ainda no inicio da liberação de importação de veículos. Fez fama com seu tamanho compacto, motor econômico e uma capacidade off-road de dar inveja a modelos maiores e mais caros. A quarta geração, lançada em 2016, é um pouco menos aventureira e mais urbana para tentar fazer frente aos novos concorrentes (que atendem por Jeep Renegade, Honda HR-V, Nissan Kicks e Hyundai Creta, entre outros) e ser uma figura mais presente pelas ruas.
A versão de topo, 4Sport, foi a escolhida para este teste por ser a portadora de um dos maiores trunfos do modelo na briga por mercado: o eficiente motor 1.4 turbo (BoosterJet) com injeção direta de gasolina, de 146 cv e 23,5 kgfm de torque desde os 1.700 rpm, ligado ao câmbio automático de seis marchas. Testamos a versão com tração apenas dianteira, mas há opção de 4x4, outro diferencial do Vitara.
Foguetinho peso-pena
Usando o Vitara no trajeto diário, já tinha percebido um carro rápido. Mas quando chegaram os números de desempenho na pista, ele surpreendeu mais ainda. Com os dados em mãos, o "Suzukinho" (como carinhosamente o apelidamos) deixou todos os concorrentes diretos comendo poeira e se igualou a modelos que usamos como referência em motores turbinados de baixa cilindrada.
Por exemplo, os 8,5 segundos para ir de 0 a 100 km/h deixam o Chevrolet Tracker 1.4 turbo para trás (9,3 s). É número para bater inclusive o Chevrolet Cruze Sport6 1.4 turbo (8,7 s) e o VW Golf 1.4 TSI (8,6 s). Na frenagem, a coisa ficou ainda mais séria. Os 37,5 metros de 100 km/h a 0 mostram que se achávamos o Hyundai Creta (39,7 m) a referência, a coisa mudou depois deste japonês. Em resumo, se ele estivesse no nosso supercomparativo de SUVs, levaria todos os pontos de performance. Em alguns quesitos, com ampla folga.
A mesma surpresa apareceu nos números de consumo. Bebendo apenas gasolina (ele não é flex), não temos como comparar o consumo do Vitara com os concorrentes diretos, que foram testados com etanol, porém os 13,5 km/l na cidade e 17,6 km/l na estrada são marcas de respeito e que compensam o pequeno tanque de 47 litros - resultando em uma autonomia urbana de quase 635 km e rodoviária além dos 820 km! Aquele papo de "cavalo anda, cavalo bebe" não se enquadra aqui.
Dois detalhes ajudaram o Vitara a chegar nestes números. O primeiro é ser leve: com apenas 1.170 kg, ele só é mais pesado que o Nissan Kicks (1.142 kg), o "peso-pena" do segmento. O Tracker, por exemplo, tem 1.413 kg.
O segundo é o câmbio automático de seis marchas com configurações distintas dependendo do pé direito do condutor. Nas acelerações, temos trocas rápidas e reduções permissivas pelas borboletas no volante para quem quer uma tocada esportiva. No dia a dia, temos suavidade, mudanças sem trancos e bom aproveitamento do torque do 1.4 turbo para economizar combustível.
De tão divertido, esqueceu que é SUV
Se o Vitara fosse um hatch, seu nome seria Swift Sport. O hot hatch foi várias vezes lembrado por quem dirigiu o SUV. Não apenas pelo volante idêntico, mas também pela posição correta de dirigir. Volante e pedais estão alinhados e os bancos, em couro e suede, abraçam o corpo e convidam a matar o tédio diário reduzindo marchas pelas aletas de marcha e cravando o pé no acelerador, com pedaleira em alumínio.
Pelas fotos em movimento, dá para perceber que curvas não são problema para o Vitara. Mesmo sendo mais alto que um Swift, ele agarra com firmeza no asfalto e se mantém no trilho, com o controle de estabilidade só atuando se for realmente necessário. Mesmo usando suspensão com eixo de torção, a traseira é equilibrada. A direção ganha peso exato, deixando a leveza e falta de comunicação para a hora de manobrar na garagem e no trânsito.
Mas o Vitara não é um hatch e precisa aceitar isso. O público do utilitário esportivo busca algo mais do que emoção e acelerações vigorosas. Para começar, toda essa esportividade prejudica o conforto. Não que seja duro, mas a suspensão parece ter sido mais calibrada para o asfalto do Japão do que para o nosso, então não é difícil ouvir alguns barulhos e pancadas secas nos buracos.
O mesmo vale para o espaço interno. É maior que o do Jeep Renegade, mas não tanto quanto o do Honda HR-V ou Hyundai Creta. Dois adultos viajam bem no banco traseiro, mas um terceiro não vai ficar feliz em percursos mais longos. O mesmo vale para o porta-malas de 375 litros, maior apenas que o do Jeep e o do Tracker. Isso sem falar no acabamento, que lembra os Honda e Toyota dos anos 2000, com peças bem encaixadas e sem rebarbas, mas com aparência pra lá de simplória. E convenhamos que esse relógio analógico no centro do painel não combina em nada com a proposta do Vitara. Sugerimos um manômetro com, por exemplo, a pressão do turbo, Suzuki. O que acham?
O preço é de R$ 107.990 pelo Vitara 4Sport 4x2 com uma bela lista de equipamentos, que inclui chave presencial, sensor de chuva e luz, Isofix no banco traseiro, sistema start-stop, LEDs diurnos, faróis de LEDs, ar-condicionado automático (com apenas uma zona), sensores dianteiro e traseiro de estacionamento, uma gigantesca tela de 10" com sistema Android para a central multimídia e câmera de ré, sete airbags (frontais, laterais, de cortina e de joelho para o motorista) e controles de tração e estabilidade.
A clássica briga entre razão e emoção
O Vitara 1.4 turbo justifica parte de seu preço sendo rápido, divertido, bem equipado, econômico e diferenciado nas ruas. A questão é que, além de uma rede de concessionárias limitada, peca em pontos importantes para quem vai comprar um SUV, como conforto, espaço e acabamento. Ou seja, o lado racional não vai te levar ao Vitara. Mas qual lado do cérebro você prefere seguir?
Fotos: Mario Villaescusa
FICHA TÉCNICA SUZUKI VITARA 4SPORT
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.373 cm3, duplo comando, injeção direta, turbo, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE | 146 cv a 5.500 rpm / 23,5 kgfm de 1.700 a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de 6 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira, semi-independente eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio de aro 17" com pneus 215/55 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e discos sólidos traseira com ABS e EBD |
PESO | 1.170 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.175 mm, largura 1.775 mm, altura 1.610 mm, entre-eixos 2.500 mm |
CAPACIDADES | tanque 47 litros; porta-malas 375 litros |
PREÇO | R$ 107.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
Suzuki Vitara 4Sport 1.4 Turbo | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 3,8 s | |
0 a 80 km/h | 5,9 s | |
0 a 100 km/h | 8,5 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em D | 6,7 s | |
80 a 120 km/h em D | 6,3 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 37,5 m | |
80 km/h a 0 | 23,3 m | |
60 km/h a 0 | 13,0 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 13,5 km/l | |
Ciclo estrada | 17,6 km/l |
Galeria: Suzuki Vitara 4Sport - Avaliação
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Suzuki S-Cross e Vitara saem de linha e marca terá híbridos no Brasil
Senador dos EUA quer Jeep, Ram, Dodge e Chrysler fora da Stellantis
Os 10 SUVs e crossovers compactos com motores turbo no Brasil
Kia Sportage: a história da primeira geração do SUV sul-coreano
Novo Suzuki Vitara 2021 será lançado em outubro com sistema híbrido-leve
Chineses são maioria no primeiro turno da votação do World Car Awards 2025
Novo Suzuki Vitara estreia no fim do ano para encarar HR-V e Creta