O Kia Picanto é um dos carros que colocaram a companhia no mapa mundi das montadoras. Compacto, econômico e acessível, ele foi o responsável por milhares de consumidores conhecerem a marca coreana. Uma vez estabelecida, a Kia nos bridou com carros maiores e melhores como o Sportage - mas não esqueceu sua gratidão ao Picanto. Então, para 2017, temos um Picanto completamente novo.
A Kia se orgulha do fato de esta ser a terceira geração do urbaninho, um carro que compete num segmento (sub-compactos) relativamente novo - no Brasil ele vai enfrentar VW up!, Fiat Mobi, Chery QQ e Renault Kwid. No visual enxergamos alguns traços que remetem ao modelo antigo, mas a Kia não se focou no passado. O objetivo do desenvolvimento do novo Picato era claro: fazer o melhor city-car do mercado.
Numa classe com rivais de talento como o próprio up!, isso não será tarefa fácil. Mas, tendo vendido 1,4 milhão de unidades do Picanto anterior no mundo todo, sendo 300 mil somente na Europa, a Kia reconhece que "manja" uma ou duas coisas sobre esse tipo de carro. Então é hora de conferir se o novo Picanto sobe o sarrafo da categoria.
O novo Picanto se aproveita mais do estilo germânico de precisão associado ao chefe de design da Kia, Peter Schreyer, em relação ao antigo modelo mais suave. As linhas são limpas, com cortes precisos e janelas maiores para torná-lo mais equilibrado visualmente.
A distância entreeixos alongada ajuda nesta percepção. E a Kia fez isso sem alterar sequer um milímetro do comprimento total: ele continua um compacto de 3.595 mm. Ela encurtou um pouco a dianteira e aumentou a parte traseira para criar uma "botinha" maior. Resultado: um estilo sólido reforçado pelos arcos de roda destacados, que adicionam um pouco de robustez ao conjunto.
Nosso Picanto favorito é o GT Line. Esta versão esportiva usa rodas aro 16" e uma roupagem que inclui escape duplo e difusor traseiro, além do para-choque dianteiro com desenho bem mais agressivo. Ele inclui "cortinas de ar" nas tomadas de ar inferiores, para aumento o fluxo de ar entre as rodas dianteiras de modo a melhorar a aerodinâmica. Adicione ainda os faróis com forma de U e luzes de LED, e você tem um atraente compacto de 5 portas.
Aparentemente, as pessoas que compram carros urbanos ganham mais do que as que compram compactos. Sim, não é uma escolha baseada em orçamento - as pessoas os escolhem porque querem um carrinho para a cidade, não porque não conseguem comprar um compacto. Respondendo a isso, a Kia fez um Picanto mais refinado, principalmente por dentro. A qualidade foi significativamente elevada, com superfícies mais inteligentes, acabamento mais agradável e maior nível de atenção aos detalhes. O acabamento prateado no painel é bonito, os grandes relógios do quadro de instrumentos lembram os Audi e o black-piano do display do ar-condicionado é muito BMW.
A estrela do show é o primeiro sistema de multimídia "independente" do segmento. Você sabe, montado no alto do painel, como nos Audi ou Mercedes-Benz. A tela sensível ao toque é grande e nítida, além de possuir conexão Apple CarPlay e Android Auto. O navegador em 3D está chegando e há um decente sistema de áudio como item de série. Nestes dias em que a conectividade e a central multimídia são critérios de compra, o Picanto agora lidera a categoria nesse aspecto.
A Kia admite que um problema do Picanto antigo era o porta-malas pequeno. Certo, disseram os engenheiros: vamos resolver isso de uma vez por todas. Então, eles fizeram um compartimento de 255 litros, que não faz feio diante do up! brasileiro (com a traseira alongada em relação ao europeu e que leva 285 litros) e é maior que o do Mobi (215 litros) por boa margem. Os bancos podem ser rebatidos facilmente para criar um espaço de 1.110 litros - e há um piso de dupla altura que facilita a acomodação dos objetos.
Segundo a Kia, dois a cada três compradores do Picanto são mulheres - o que é a maior proporção feminina do segmento. A marca diz que esse é o motivo de desenvolver um novo espelho com múltiplas fontes de luz, para replicar um espelho profissional de maquiagem. O que mostra atenção aos detalhes e uma bela peça de design.
Esse é um carro "entre e dirija", com os comandos de uso fácil e uma natureza descontraída. É leve, preciso e simples, que transmite ser bem construído e íntegro. Nada parece barato, frágil ou feito com economias. O carro é surpreendentemente refinado em velocidades, tem rodar silencioso, e os bancos são cômodos e estáveis em todo tipo de estrada.
Quanto mais dirigimos, mais impressionados ficamos. O novo Picanto é realmente muito mais refinado que o anterior, encarando a maioria dos pisos com elegância - raramente transmite alguma pancada para a cabine. Ele tem ainda um diâmetro de giro reduzido, que ajuda nas manobras, e se revela confortável na batalha com os buracos nesta versão com rodas aro 15". A direção elétrica é comunicativa e bem acertada em termos de peso, enquanto o para-brisa profundo colabora na visibilidade ao reduzir os pontos cegos.
Com essas rodas, a dinâmica é segura, mas o carro fica um pouco macio no limite. A versão GT Line, com pneus 195 em rodas aro 16", oferece maior grip. Nós ficamos surpresos por descobrir uma comunicação eficiente da direção tanto em condução normal quanto dirigindo forte. Isso se reflete em diversão nas estradinhas de serra: a carroceria rola, mas se mantém bem controlada e os pneus mais largos garantem uma tomada mais incisiva das curvas. O rodar é mais firme, batendo um pouco em pisos ruins, mas ainda mantém certa compostura, a despeito dos pneus de perfil 45.
Experimentamos os dois motores. O 1.0 3 cilindros é um girador suave, com boa força em baixas e médias rotações. A entrega de potência não é muito linear, embora produza um som agradável, e não há ponto da gama de rotações em que falte força. Mas o acelerador é um tanto sensível em primeira marcha, fazendo a tocada na cidade ficar um pouco sacudida.
O motor 1.2 de 4 cilindros é um pouco mais vocal e fica meio estridente em altas rotações. Também não tem a elasticidade do 1.0 em baixos giros. Mas é um propulsor "redondo" de forma geral, com uma boa entrega de torque acima de 3.500 rpm e uma entusiasmante esticada, desde que você troque de marcha antes das 5.500 rpm - acima disso é só barulho. Também achamos o câmbio manual de cinco marchas mais ágil nas trocas que o do 1.0 (há uma opção de transmissão automática para o 1.2).
Na parte de auto-estrada da avaliação, dirigimos o 1.0 e sentimos um pouco de falta de fôlego para manter velocidades acima de 110 km/h - exige pé embaixo para embalar. Já o 1.2 tem um pouco mais de reserva e faz do Picanto um carro mais completo em suas tarefas, enquanto os passageiros podem aproveitar seu refinamento, estabilidade e seu comportamento de carro maior. É um carro urbano que não precisa ficar restrito às cidades - também porque ele é surpreendentemente espaçoso na dianteira, sem apertar dois adultos atrás.
Já em testes no Brasil, o novo Picanto deverá ser lançado no segundo semestre para disputar um segmento cada vez mais disputado. O VW up! é excelente e deve melhorar sua posição com a reestilização da linha 2018, mas o Fiat Mobi também é competitivo e o novo Chery QQ está com preço extremamente agressivo. No entanto, novo Picanto pode fazer melhorá-los.
Na verdade, ficamos mais impressionados com o novo Picanto do que com o Rio, seu irmão maior. O Picanto é mais agradável, divertido de dirigir e mais prático para uso geral. Diríamos até que é mais interessante comprar um Picanto GT Line do que gastar o mesmo em um Rio intermediário.
Agora é esperar o modelo chegar ao país (e ter seus preços revelados) para vermos se ele tem mesmo condições de bater o up! como melhor subcompacto do mercado.
Fotos: divulgação
Kia Picanto
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Novo Kia Picanto 2024 ganha cara de Sportage e fica sem eletrificação
Fiat Mobi alcança 600 mil unidades produzidas em quase 9 anos de mercado
Latin NCAP: Kia Picanto repete nota zero em estreia do novo protocolo
VW revela novo Tiguan 2025 nos EUA e adianta SUV que pode vir ao Brasil
Kia Picanto 2021: modelo reestilizado aparece agora na versão aventureira X-Line
Quer apostar? Híbridos vão depreciar mais que elétricos daqui a 10 anos
Kia Picanto 2021 ganha estilo mais invocado em reestilização