GM 100 anos de Brasil: tudo começou em galpões para armazenar algodão
Em coluna mais do que especial, Jason Voguel relembra a história da marca no país, que não pensava em fabricar carros nos anos 50
Fundada por William Crapo Durant em 1908, a General Motors viveu uma fase de expansão mundial na década de 20. Nessa época, já rodavam no Brasil carros das marcas Buick, Oldsmobile, Cadillac, Oakland e Chevrolet — divisões da GM. Vinham, contudo, por meio de representantes ou como importação independente.
Enquanto isso, a rival Ford já tinha presença séria no país, com uma linha de montagem em São Paulo desde 1919 e o Modelo T dominando o mercado brasileiro. Assim, no dia 26 de janeiro de 1925, foi fundada a General Motors Brasileira S.A., com sede no bairro do Ipiranga, em São Paulo.
1920 - Antes mesmo da fundação da GMB já havia Chevrolet à venda no Brasil
A linha de montagem ficava em galpões originalmente usados para armazenar algodão e todas as peças dos carros e caminhões vinham dos Estados Unidos. Eis alguns fatos que ajudam a contar a história da marca no país:
ANTES DE 1925 - Desde a primeira década do século XX, as marcas do grupo GM chegam ao Brasil por meio de diferentes representantes, com destaque para a Mestre & Blatgé (mais tarde rebatizada de Mesbla).
1925 - Algumas das marcas do grupo - Cadillac Buick e Oakland
1925-1929: Em setembro de 1925, a General Motors of Brazil inicia a montagem de veículos em seu “escriptorio e fabrica” na Avenida Presidente Wilson 201, bairro do Ipiranga, São Paulo. O primeiro exemplar a sair da linha de produção é um furgão de entregas.
Ainda em 1925, a GMB começa a montar automóveis de passeio - a produção sobe de 3 para 25 carros por dia, todos com motor de quatro cilindros. Os motores de seis cilindros, que fariam a fama da marca nas décadas seguintes, começam a equipar os Chevrolet em 1929.
Os Chevrolet 1928 e 1929 - transição de quatro para seis cilindros
No mesmo ano, um Chevrolet Touring de série, batizado de “Passaro Amarello”, rodou 24.073 km ao longo de 48 dias, por estradas do Rio, São Paulo e Minas, sem cortar o motor nenhuma vez, em 1.170 horas. Bateu recordes internacionais de resistência e ficou famoso na época.
Caminhãozinho 1925 do acervo da GMB
ANOS 1930: A GM inaugura as instalações em São Caetano do Sul, sede da empresa até hoje. Começa a produção de carrocerias brasileiras para ônibus. Em 1936, a Opel (divisão alemã da GM) faz uma promoção inusitada: um carro do modelo Olympia é trazido de Friedrichshafen, na Alemanha, ao Rio de Janeiro no primeiro voo comercial do dirigível Hindenburg.
Foi a primeira vez na História que se transportou pelos ares um automóvel completo, pronto para funcionar. Ao longo das décadas seguintes, a GMB sempre teria modelos da Opel por aqui.
Anuncio Opel Hindenburg 1936
ANOS 1940: Os Chevrolet 1936 a 1941 são os táxis mais comuns em nossas ruas. Com a escassez de componentes importados para automóveis, a empresa começa a fabricar baterias e molas. O Brasil entra na Segunda Guerra, vem o racionamento de gasolina e a companhia passa a fazer kits de gasogênio. Passada a guerra, desembarcam aqui os ônibus GM Coach, com motor a diesel instalado na traseira, uma revolução no transporte urbano (de tão confortável, o modelo foi apelidado de Gostosão). Por essa época, as Frigidaire já eram as geladeiras mais famosas do Brasil — na porta traziam a inscrição: “Made only by General Motors”.
Segunda Guerra - GMB fazia kits de gasogênio e geladeiras Frigidaire
1946 - Os ônibus urbanos GM Coach tomam as cidades brasileiras - no Rio, é apelidado de Gostosão
ANOS 1950: No início da década, a Chevrolet é a marca mais vendida no país — e um sucesso na praça, com seus confortáveis e indestrutíveis sedãs de 1949 a 1954.
Apesar da febre do automóvel nacional nos anos JK, a empresa deixa os carros de passeio de lado e prefere investir nos veículos comerciais: em 1958, começa a produzir os caminhões Chevrolet Brasil e as picapes Expresso de Aço — primeiros veículos genuinamente nacionais da marca. É inaugurada a fábrica de São José dos Campos.
O caminhão e o sedã Chevrolet 1951 eram parte da paisagem do Brasil
Pátio da GMB em 1948
Nacionalização_ caminhão Chevrolet 1957 e picape Chevrolet Brasil 1959
ANOS 1960: Nasce a linha C-14 (que daria na Veraneio) e o Opala — primeiro carro de passeio inteiramente fabricado pela General Motors no Brasil. O modelo tinha como base o modelo Rekord C, da alemã Opel, mas os motores eram derivados dos Chevrolet americanos. Há até uma crença de que o nome Opala é a mistura de Opel com Impala.
ANOS 1970: É tempo do Chevette, carro pequeno irmão do Opel Kadett C alemão. A linha Opala ganha versões brabas com o motor 250-S (1974) e a station wagon Caravan (1975).
Veraneio
Opala, o primeiro Chevrolet de passeio inteiramente fabricado no Brasil (1968)
Chevette foi carro global lançado primeiro por aqui
ANOS 1980: O projeto J, para um “carro mundial” da GM, dá origem ao Monza no Brasil, com o motor Família II que será usado nas três décadas seguintes por muitos modelos.
O Chevette, e depois o Monza, são os modelos mais vendidos no país. A Volkswagen, contudo, continuava à frente no ranking geral.
Kadett
Monza
ANOS 90: A série limitada EF500 do Monza estreia a injeção eletrônica na linha GM. Omega, Vectra e Corsa são produzidos aqui com o mesmo nível de modernidade dos modelos europeus. Destaque para o Vectra de segunda geração (ou Vectra B), lançado aqui poucos meses depois de sua estreia na Alemanha — entre 1996 e 1998, foi o sedã mais vendido do Brasil. Estreiam a Blazer e a picape S10, dois êxitos de vendas.
O Omega nacional
Vectra de segunda geração
ANOS 2000: Na onda das minivans, são lançadas a Meriva e a Zafira. De uma nova fábrica (em Gravataí, Rio Grande do Sul) sai o popular Celta. A marca já não investe tanto em modelos de luxo: o Omega passa a vir da Austrália e o Vectra vai morrendo de velho. Mas a GM fecha 2004 liderando as vendas totais no país, pela primeira vez desde o início dos anos 50.
ANOS 2010: Estreiam o modelo médio Cruze e o “compacto espaçoso” Cobalt, muito usado como táxi. Outro lançamento que faz muito sucesso entre os profissionais do volante é a minivan Spin.
Cria do Projeto Arara Azul, Celta nasceu como versão mais simples do Corsa B
Cruze foi médio sem influência do braço europeu Opel
Onix é projeto original da engenharia brasileira
A Trailblazer inicia sua longa jornada no país, mas sem o mesmo sucesso da antecessora Blazer. O motor Família II, enfim, sai de cena. Estreia o Onix.
Os 100 de General Motors do Brasil
ANOS 2020: Com projeto chinês e motor de três cilindros, aspirado ou turbo, os Onix de segunda geração são os únicos modelos hatch e sedã ainda em linha. Todo o resto da atual gama GM é formado por SUVs, crossovers e picapes: Tracker, Equinox, Trailblazer, Montana, S10 e Silverado.
A minivan Spin resiste bravamente em produção. A GM fecha 2024 com o terceiro lugar em vendas no país, com 12,68% do mercado nacional. Do exterior chegam modelos elétricos (Equinox, Blazer EV, Bolt) e o esportivo Camaro.
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