No evento mundial de apresentação do Kardian, realizado ontem no Rio de Janeiro, a Renault disse que é um "SUV compacto", um "B-SUV" ou um "crossover". Mas, quanto tiraram a capa que cobria o carro, o que se viu foi um hatch alto, de linhas modernas - poderia se pensar em um Sandero Stepway de nova geração.

Só não fale isso para Bruno Vanel, vice-presidente mundial responsável pelos produtos com a marca Renault. "É um carro todo novo, projetado como Renault, e nada tem absolutamente nada ver com o Dacia Sandero atual. A plataforma é diferente, o eixo traseiro é diferente, a altura é diferente...", afirma o executivo com veemência.

Pois bem, vamos às explicações então: o Kardian é o primeiro produto no mundo a trazer a nova plataforma modular do grupo Renault. Trata-se de uma versátil base a ser usada em carros com 4 a 5 metros de comprimento, com motor a combustão "puro", bem como mild-hybrid (48 volts) ou híbrido convencional. Essa plataforma não foi feita para carros elétricos. É aparentada das CMF-B usadas na Europa, mas com muitas diferenças de arquitetura.

Mais ou menos como aconteceu com o Fiat Palio nos anos 1990 (projeto 178), o Renault Kardian será fabricado inicialmente no Brasil, para depois chegar a outros mercados emergentes na África e na Ásia. A produção no Paraná começa em janeiro próximo e as vendas por aqui estão previstas para ter início em março. "Começamos pelo Brasil pois é o segundo mercado mundial da Renault, ficando atrás apenas da França. Além disso, Argentina e Colômbia também estão na lista dos nossos dez maiores mercados, e o México vem logo depois", justifica Vanel.

Renault Kardian

No segundo semestre de 2024, a produção será estendida a Marrocos. Turquia e Índia também estão na lista de países que farão o Kardian. Segundo a Renault, oito modelos com a mesma plataforma estão a caminho.

Mas vamos ao carro: quem vê de perto, imagina tratar-se do substituto do Sandero Stepway (R$ 84 mil a R$ 118 mil). A ideia, contudo, é que o Stepway continue em linha e o Kardian fique um degrau acima, começando por volta dos R$ 110 mil e brigando na faixa do VW Nivus e do Fiat Pulse automático. Mas os preços exatos, as versões e o test drive ficarão para o lançamento, em março.

Por enquanto apenas vimos o carro, entramos nele e tivemos acesso aos detalhes técnicos. O Kardian estreia um motor 1.0 turbo, de três cilindros e injeção direta: o HR10. É um novo projeto, todo Renault, e não se deve confundi-lo com o motor homônimo usado nos antigos Nissan March e Versa nacionais. Produzido no Brasil, o novo motor Renault rende 125 cv de potência e 220 Nm (22,4 kgfm) de torque máximo - daí ter o "nome fantasia" de 220.

Renault Kardian

Já o câmbio é automatizado, com seis marchas, dupla embreagem banhada a óleo e aletas de acionamento atrás do volante. Com projeto da americana Magna Powertrain, é importada da China. Além da questão de custo, há o argumento de que esse câmbio automatizado (hoje usado em vários Renault europeus) permite uma redução de até 20% no consumo em relação aos CVT. Não haverá versão manual. O Kardian mede 4,11 m de comprimento e 2,60 m de entre-eixos (contra 4,07 m e 2,59 m do Stepway). Os pneus Pirelli Scorpion 205/55 R17 ajudam a garantir o vão livre de 21 cm.

Na dianteira, destaque para a grade com pequenos losangos e acabamento em black piano. É a primeira vez que um Renault fabricado no Brasil usa o novo logotipo da marca, o chamado de "Nouvel R". Os faróis são full-LED. Na traseira, há lanternas em forma de C. Um detalhe original é que, com a ajuda de uma ferramenta, as barras longitudinais do rack podem mudar de posição (de longitudinal para transversal), facilitando a fixação de diferentes cargas, com até 80 kg.

Renault Kardian
Renault Kardian

O espaço interno é muito bom, especialmente no banco traseiro (herança do Sandero). Quem viaja atrás, contudo, não dispõe de saídas de ar-condicionado. A capacidade do porta-malas é de 410 litros, ficando pouco atrás do 415 litros do Nivus e à frente dos 370 litros do Pulse.

Os bancos dianteiros são largos e bem anatômicos, com posição de dirigir alta. O motorista se vê diante de um quadro de instrumentos inteiramente digital. Sobre o painel há uma tela multimídia de 8", pareada com Android Auto e Apple CarPlay. O ambiente é completado pelo seletor do câmbio automatizado: uma alavanquinha pequena e retangular. O freio de estacionamento é acionado por botão.

Ao menos na versão apresentada nesta pré-estreia mundial, o Kardian tem seis airbags e nada menos que 13 sistemas auxiliares de condução, com destaque para alerta de ponto cego, frenagem ativa de emergência e cruise control adaptativo a partir dos 30 km/h. Agora é esperar a primeira voltinha com o carro, que só deve acontecer no começo do ano que vem.

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