Stellantis volta a trabalhar em motor movido só a etanol para o Brasil
Projeto sai da gaveta como uma forma de acelerar a descarbonização enquanto o carro elétrico está distante da maioria dos brasileiros
Há anos que a Stellantis tem um discurso de que o etanol é uma solução para o Brasil e, por algum tempo, até falou que seria uma alternativa à eletrificação para o país. Esta filosofia levou a uma série de projetos, como o de fazer um carro híbrido-flex, mas a ideia mais ambiciosa e polêmica era de um motor movido somente a etanol.
Antonio Filosa, CEO da Stellantis para a América Latina, revelou que o projeto foi desengavetado e está em desenvolvimento. O executivo divulgou a mudança nos planos durante o lançamento da Ram House em Goiana (GO), na última quinta-feira (20). De acordo com o Automotive Business, o executivo confirmou que o projeto estava de volta aos planos da fabricante: “Ter um modelo a etanol seria excelente, estamos trabalhando nisso. Depende do que chamamos de go-to-market, e da nossa capacidade. De qualquer forma, não existe hoje nenhum tipo de entrave para produzir um carro a etanol”.
Ou seja, a empresa ainda está estudando o mercado e montando uma estratégia para o produto dentro do cenário atual, antes de decidir se a produção fará sentido ou não. Por isso, o CEO não comentou absolutamente mais nada sobre este motor, como especificações técnicas, possíveis carros a recebê-lo ou mesmo qual a previsão de estar nas ruas.
A ideia havia aparecido em 2019, quando a então Fiat-Chrysler anunciou um investimento de R$ 500 milhões na fábrica em Betim (MG) para produzir uma nova linha de motores, que deu origem aos 1.0 e 1.3 turbo. Parte do aporte estava sendo usado no desenvolvimento de um propulsor conhecido como E4, abastecido somente com etanol e com turbocompressor.
O conceito por trás dele é que os motores tem uma perda na eficiência por conta dos ajustes para funcionar tanto com gasolina quanto com etanol. O biocombustível permite o uso de uma taxa de compressão bem mais alta, devido à sua resistência à combustão, o que compensaria sua densidade energética, aproveitando melhor a energia gerada e reduzindo o consumo. O problema é que a gasolina trabalha com outra taxa de compressão e os engenheiros sempre buscam por um ponto de equilibrio.
Para ter uma ideia, informações anteriores sobre o E4 falavam de uma taxa de compressão de 13,5:1. Em comparação, o 2.0 turbodiesel usado pela Fiat Toro e pelos Jeep Compass e Commander, tem uma taxa de compressão de 16,5:1, enquanto os 1.0 e 1.3 turbofelx da marca usam uma taxa de 10,5:1. O E4 ficaria exatamente no meio-termo. Se somar isso com um sistema híbrido-leve, como a Stellantis tem ventilado, seria um motor bem mais eficiente do que um a gasolina.
O que pode ajudar neste projeto é o desejo do governo de iniciar um plano de descarbonização para o Brasil, o que com certeza passará pelo etanol. Hoje, o biocombustível enfrenta uma série de problemas, começando pelo preço pouco competitivo, considerando que é mais barato do que a gasolina, mas permite rodar menos. Ainda há entraves na produção, que não só depende de uma boa safra como também da vontade dos produtores em produzir etanol ao invés de açúcar para o mercado internacional – foi o que aconteceu no 2º semestre de 2022, quando houve uma escassez do combustível.
Enquanto isso, a Stellantis segue trabalhando em seus primeiros motores híbridos-flex. A fabricante fará uma apresentação no final do mês de julho sobre esta tecnologia, quando deve revelar mais alguns detalhes, embora o lançamento deva levar mais algum tempo.
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Fonte: Automotive Business
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