Muitos lamentaram quando a Land Rover tirou aquele clássico e rústico Defender de linha. Isso aconteceu em 2016, e a partir daquele momento esse nome entrava em uma seleta lista de modelos que fizeram história por décadas no mercado global – inclusive, produzido no Brasil. Essa aposentadoria, de certa forma, durou até 2019, quando essa nova geração foi apresentada durante o Salão de Frankfurt (e eu estava lá).
Mas daquele Defender do passado este aqui só se inspirou em elementos de design e estilo para se diferenciar dos demais modelos do grupo, como Range Rover e Discovery. É um SUV de luxo, que vai de R$ 664.950 a R$ 899.950 no Brasil, para clientes que pouco tem a ver com o antigo Defender, a não ser por alguns colecionadores que guardam as duas gerações na garagem com propostas de uso diferentes.
A Land Rover me chamou para uma viagem com o tema Defender. No passado, teria que me preparar para centenas de quilômetros rodados nas piores condições de trajeto possível, dormir no carro por noites e ver nossa refeição preparada no acampamento. Não iria reclamar de algo assim, mas a vida desse novo Defender não é tão aventureira. Ou melhor, de seus clientes.
O destino era o México. Classe executiva no avião, salas VIP nos aeroportos, recepção com vans e um hotel de luxo no meio do deserto, daqueles que te desconectam do restante do mundo. Até o momento, nada do carro, certo? Segundo a marca, essa é a aventura do novo cliente do Defender. Ele tem um carro que mostra o que ele gosta de viver, mas não necessariamente o carro será o centro disso tudo. Ele gosta de viajar e explorar novidades, mas longe daquelas loucas trilhas e expedições que vimos tantas imagens no passado que envolviam os Defender ou outros Land Rover.
O carro até nasceu pronto para viver aventuras. O Defender 130, que no México tem a mecânica P400, um 6-cilindros em linha turbo que não temos disponível no Brasil nessa configuração, com 400 cv e 56,1 kgfm de torque. Por mim, teria procurado uma boa trilha e até mesmo encarado os 1.700 km da Cidade do México a La Paz na Baja California Sur, onde esse hotel fica, com o SUV. Mas precisamos entender a realidade desse novo dono de Defender.
A Land Rover preparou uma pequena trilha na região do hotel, com praias, montanhas, areia e até mesmo algum desafio. O Defender 130 com esse motor tem bastante torque, mas o que mais é colocado a prova é o sistema de tração e suspensão. Para ser confortável, urbano e, ao mesmo tempo capaz, a suspensão a ar adaptativa está dentro do conjunto Terrain Response 2, que controla modos de condução conforme selecionado e modifica respostas de motor, trocas de marchas, distribuição de força entre os eixos, bloqueio de diferenciais traseiro e central e na altura da suspensão.
Para o Defender, aquilo tudo era brincadeira de criança. Com 5 pessoas a bordo, ele sequer reclamou – pelo contrário, o modo Auto do sistema configura cada parâmetro diante de uma análise de sensores e controles, como estabilidade e tração. Tem até reduzida, que cheguei a usar, mas mais pelo fator demonstração que pela real necessidade. Assim como eu estava confortável, o Defender 130 parecia ainda mais. De brinde, se quisesse e pudesse, ele encarava a rodovia sem me cansar e me dando ainda ar-condicionado de 4 zonas, assistentes de condução e sistema multimídia com espelhamento.
Sim, senti falta de andar mais com o Defender. O conheço há tempo suficiente para saber suas qualidades nessa nova geração – guardo com carinho como o Defender 90 me agradou, ainda com o motor 2.0 turbo a gasolina -, mas isso é coisa de quem gosta de carro. E quem comprar o SUV de luxo para explorar o mundo, também poderá fazê-lo. A Land Rover sabe que existem clientes com esse perfil, mas hoje são minoria. A marca até vende acessórios como baú lateral, escada e outros de perfil mais aventureiro, mas boa parte acaba ficando apenas no visual.
Esses clientes gostam de aventuras, mas como essa que mostrei. O Defender fica em casa, ou no aeroporto, e espera seu dono enquanto ele conhece novas paisagens e novos destinos. Pode ser usado dentro do Brasil, com uma estrada de terra leve até um hotel fazenda ou algum destino diferente. Uma parte até pode arriscar viagens longas com o Defender, ainda mais com o motor turbodiesel, de maior autonomia. E há também os que encaram um off-road pesado, mas para isso possuem um Defender mais antigo ou outro modelo, como um Troller T4 ou Suzuki Jimny, por exemplo, na mesma garagem.
Aquele carro rústico se adaptou aos seus novos donos e novos tempos. A própria Land Rover está mudando seu posicionamento, mais focado no luxo, inclusive com o Defender se tornando submarca com essa proposta. Tudo envolve dinheiro, lucros e sobrevivência do negócio. Não deve esquecer do passado, mas há muito mais o que acontecer e pensar após décadas.
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