Quando Ford e Volkswagen anunciaram a parceria para desenvolver veículos comerciais juntas (que depois foi ampliada também para elétricos), o principal projeto seria a criação das novas gerações de Ford Ranger e Volkswagen Amarok. O projeto inicial era produzir ambas na Argentina, compartilhando a linha de produção em Pacheco, complexo que foi criado na época da extinta Autolatina e foi dividido após o fim da joint venture das duas empresas.

Porém, os planos mudaram completamente. Durante uma apresentação na fábrica argentina, jornalistas perguntaram à Ford sobre a razão pela qual a nova geração da Volkswagen Amarok não será feita nas linhas de montagem em Pacheco. Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford na América do Sul, respondeu de forma bem clara:

- Por que a Volkswagen não irá produzir a nova Amarok na fábrica de Pacheco, levando em conta que vai fazê-la em outra planta da Ford, na África do Sul?

- Foi uma decisão da Volkswagen.

Esta resposta reviveu um pouco da novela que durou quatro anos. Em janeiro de 2019, o chamado “Projeto Cyclone” foi anunciado, como uma aliança entre as duas fabricantes para compartilhar plataformas e tecnologias. A Ford ficaria responsável por desenvolver e fabricar picapes e vans para a Volkswagen, baseadas na Ranger e Transit; enquanto a VW compartilharia sua tecnologia para carros elétricos. E ambas trabalhariam juntas no desenvolvimento de tecnologias para carros autônomos.

O projeto avançou bem no âmbito global, tanto que a própria Volkswagen admitiu que a Amarok só recebeu uma nova geração por causa da parceria. Porém, depois de diversas reuniões com a Ford na Argentina, o então presidente da Volkswagen na região, Pablo Di Si, decidiu cancelar a colaboração por aqui. “No caso da Argentina, o projeto não foi aceito por uma das partes”, admitiu Di Si. Ficou claro que era uma decisão dele, pois pouco depois, anunciou que a Amarok argentina receberá uma reestilização em 2024, para sobreviver por mais 10 anos.

Nos bastidores, como apurado por Motor1.com Argentina, existia um ressentimento entre as operações da Ford e da Volkswagen no país, que vem desde o fim da Autolatina. O time da VW teria se posicionado contra transferir a produção para a Ford, perdendo um dos dois modelos fabricados por lá. Além disso, a Amarok ainda é vista como uma conquista do país. Tanto é que fornecedores e funcionários comemoraram o anúncio da reestilização da primeira geração.

Volkswagen Amarok Panamericana

A decisão de Di Si foi local, sem afetar o resto do mundo, tanto é que a nova Amarok já iniciou a produção na África do Sul para atender os mercados africano e europeu. As duas picapes são bem mais modernas, com mais tecnologia, equpamentos de segurança e uma plataforma pronta para a eletrificação em um futuro próximo. E isso deverá causar um mal-estar para a Volkswagen quando a nova geração da Ranger chegar ao país no segundo semestre deste ano.

Motor1.com Argentina aproveitou a situação para perguntar à Golfarb se existia uma chance da Ford iniciar a produção da Amarok, caso a Volkswagen mude de ideia em algum momento. O executivo foi bem claro e acabou com qualquer possibilidade disto acontecer:

- Vamos supor que, amanhã, seus vizinhos da Volkswagen liguem para a Ford e peçam para fazer a nova Amarok junto com a Ranger. Qual seria a sua resposta?

- Não.

Assim, a Volkswagen terá que se virar com a Amarok atual. Tudo indica que a reestilização prevista para o ano que vem terá inspiração no modelo global e ainda deve receber mais alguns equipamentos. Porém, com os planos da nova Ranger e também da próxima Toyota Hilux terem versões híbridas, a Volkswagen pode ter que importar a picape da África do Sul para não perder a chance de eletrificar o segmento.


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