Mais de 120 carros passaram por nossa garagem em 2022. Lançamentos, comparativos, testes de versões ou modelos queridinhos do mercado. De populares a superesportivos de mais de R$ 1 milhão, de potentes motores a combustão a 100% elétricos, sem esquecer alguns comerciais e motos.
Mas qual foi o favorito de cada um de nós? Temos perfis diferentes de usuários em nossa redação, com algumas faixas de idades, tamanho de famílias e preferências. O que cada um de nós colocaria em sua garagem, considerando modelos que passamos algum tempo para entender e sobreviver como cada um pede ou viagens especiais que fizemos.
Não vou me fazer de humilde: meu preferido foi um Porsche. Primeiro, fui até a Itália para conhecer os novos GTS e ter a oportunidade de dirigir um 911 com câmbio manual por lá. Depois, foi a hora de conhecer esse carro no meu dia a dia, algo que já sei que um Porsche 911 faz muito bem e fica muito bem na minha garagem.
O grande trunfo do Porsche 911 é ser um esportivo que permite que você use. O GTS não é diferente, apesar da suspensão mais firme. Com menos isolamento acústico, deixa o ronco do 6-cilindros mais nítido no interior, o que é uma alegria mesmo no trânsito travado. Na Itália, o manual de 7 marchas é um prazer que não temos por aqui. Em terras brasileiras, o dupla embreagem é um dos melhores câmbios do mundo em um dos melhores esportivos do mundo. Dá para ir trabalhar e curtir um track day no fim de semana e voltar ao mundo com ele em seguida. Quem sabe em 2023 eu escolha um carro mais...acessível.
Depois de avaliar tantos carros, eles acabam ficando meio parecidos. Afinal, atendem às mesmas exigências e não há mais muita margem para sair da fórmula que dá certo. Por isso, em 2022, dediquei-me também aos veículos comerciais e motos. Enquanto isso, os elétricos ainda estão se descobrindo e as marcas arriscam mais em busca de um veículo movido por baterias que faça sentido.
O Citroën Jumpy foi a soma destes dois fatores: um furgão elétrico. E o mais curioso é que ele impressionou por fazer algo óbvio, mas nem sempre visto entre carros elétricos: você o dirige como um carro normal, sem muita enrolação ou diversos apitos e musiquinhas. Até o indicador de bateria é um medidor analógico, como um marcador de combustível.
Com uma entrega de torque e potência similar em números aos do diesel, mas aparecendo instantaneamente, o Citroën e-Jumpy é um veículo que simplesmente faz sentido. Se vai passar seus dias fazendo entregas curtas e passar as noites parado, por que tem que ser a diesel? E tem mais: se é um veículo de trabalho, pra quê ter firulas?
No momento ainda é caro demais para que um transportador autônomo encare o investimento. Pelos R$ 334.990 é possível pegar Fiat Ducato ou Mercedes-Bens Sprinter com muito mais capacidade de carga. O e-Jumpy vai ficar para empresas que têm meta de redução de emissões. Mas o furgão da Citroën me marcou porque é muito fácil e confortável de dirigir, ele leva o trabalhador atrás do volante em consideração. E sempre que uma marca pensa em quem usa, não quem compra, eu respeito.
Este foi o ano da eletrificação da BMW no Brasil, mais até do que quando iniciou as vendas do i3 em 2014 - que foi o primeiro carro elétrico a ser vendido no país (os modelos da Gurgel foram vendidos somente para empresas). Este foi o momento em que a marca bávara começou a oferecer mais modelos e tentará recuperar o espaço perdido para Audi, Mercedes-Benz e Volvo. O iX é o modelo mais emblemático, por ser o topo da linha (em preço e tamanho), cheio de mimos como acabamento usando cristal lapidado.
Ainda assim, o carro que realmente me conquistou esse ano foi o iX3. Há momentos em que o iX parece um exagero em tudo e o iX3 é o oposto disso. Olhando por fora, poucas coisas denunciam ser a versão elétrica, como as rodas e a "grade" fechada. Por dentro, é como o modelo a combustão em todos os pontos. É racional, em deixar de lado tudo o que se espera de um carro premium.
Na hora de guiar, o SUV mostra boa disposição, acelerando bem mesmo com o seletor de modo de condução na opção Eco Pro. Tem muito espaço, é bem equipado e promete uma autonomia de 460 km, mais do que suficiente para durar uma semana comigo sem precisar recarregar, ou caso precise viajar para uma cidade próxima.
Não nego que bateu uma tristeza na hora de dar adeus ao iX3. Vendido por R$ 473.950, é um carro que está bem longe do meu alcance. Talvez eu vá gostar mais do i4, que ainda não tive a oportunidade de dirigir e que tem mais o DNA da BMW do que um SUV. Enquanto isso não acontece, o iX3 fica com o título de carro mais legal que guiei este ano.
Nem sempre a versão que custa menos é ruim, e esse é o caso do Volvo XC40 P6. A versão monomotor do XC40 Recharge se destaca pelo equilíbrio: entrega desempenho e consumo adequado, tanto na cidade quanto na estrada, enquanto ostenta um pacote de equipamentos e tecnologia condizente com sua faixa de preço.
Ele não é barato, afinal custa R$ 329.950, mas dentro da realidade de preços salgados dos carros elétricos no Brasil ele faz mais sentido que outros modelos de segmentos inferiores que custam quase a mesma coisa.
Concebido sob a ótica minimalista da Volvo (menos é mais), o XC40 P6 é bom ao volante, confortável e versátil, além de contar com praticamente 90% dos equipamentos disponíveis na versão topo de linha (que custa R$ 70 mil adicionais). Tudo somado, faz do SUV elétrico compacto o destaque do ano.
Em uma jogada sensacional, a GM ressuscitou o Hummer, agora em modelo 100% elétrico que mostra todo potencial que um carro movida à bateria pode ter. O gigante utilitário que ficou conhecido mundialmente como um veículo de guerra, literalmente, que bebia combustível fóssil de canudinho, agora é o símbolo máximo de eletrificação.
Construído sobre a plataforma Ultium, que acomoda desde SUVs maiores da Chevrolet e os luxuosos Cadillac, traz "dois andares" de baterias. Em termos técnicos, tem o dobro de módulos de células Ultium que garantem mais de 200 kWh de capacidade, necessário para tirar da imobilidade o grandalhão de 4.103 kg.
Está achando que é um trambolho? Nada disso. Eu fui até Millford no campo de provas da GM na região de Detroit (EUA) para poder dirigir a versão Hummer Pick-up EV. O bicho é equipado com 3 motores elétricos de ímã permanente (sendo 2 na traseira) que geram 1.000 cv de potência e "apenas" 165,9 kgfm de torque. E o mais impressionante: a aceleração de 0 a 96 km/h é feita em 3 segundos.
O que mais me impressionou foi o elevado nível de tecnologia, interior ultra-moderno e, claro, o modo carangueijo (Crab Walk) com direção nas quatro rodas para ajudar em deslocamentos mais severos. Sim, o Hummer EV anda de lado e a sensação é muito esquisita.
"Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades". Esta frase, popularizada pelos quadrinhos do Homem-Aranha escritos por Stan Lee, veio à minha mente enquanto dirigia. Você tem muita potência, muita força, mas também tem mais de 4 toneladas de peso. Isso significa que você percebe o esforço absurdo dos freios para parar a picape. Claro que naquele ambiente controlado, tudo foi muito seguro, mas em vias normais será preciso que o motorista tenha em mente que está conduzido toda essa massa, o que exige mais distância para a parada completa.
De um utilitário de guerra beberrão a um ícone de força de eletrificação. Jogada genial da GM. E, como spoiler, poderá ser vendido oficialmente no Brasil nos próximos anos.
Uma das mais inusitadas surpresas de 2022 para mim foi o BYD Tan - prova rodante do quanto os chineses já conseguiram evoluir em tecnologia, design e qualidade de construção.
Em uma semana de convivência com o SUV grande da "Build Your Dreams", não senti qualquer saudade de modelos de marcas premium com motor a combustão (o Range Rover Velar, por exemplo).
O telão giratório (e enorme) da central multimídia é um desbunde. O acabamento é bastante bom e sobra espaço para sete ocupantes. Com dois motores elétricos (um em cada eixo), potência combinada de 517cv e quase 70kgfm de toque imediato, esse elefante de 2,5 toneladas arranca como superesportivo. E o principal: no mais absoluto silêncio, suavidade e sem vibrações.
Ainda há uns pontos a serem refinados, como o acerto da suspensão, um tanto molenga, e mesmo a padronização dos logotipos do fabricante - mas pagar mais de R$ 500 mil em um carro chinês já não parece uma loucura descabida. Antes de falar mal dos elétricos da BYD, experimente dirigir um…
Eu sei caro leitor, você deve estar achando um absurdo eu ter escolhido um carro 1.0 como o destaque de 2022. É claro que ao longo deste ano tive a oportunidade de dirigir carros mais caros e mais potentes (saudades Porsche Macan GTS), com modelos bem diferentes entre si passando pela garagem, mas também tive a chance de andar em boa parte dos “milzin” do mercado. Onix, Argo, HB20 e o 208, os carros da “vida real” do consumidor brasileiro.
Lançado em maio, o Peugeot 208 Style resgatou a fórmula do antigo 206 ao combinar um visual bem acertado com um motor 1.0, neste caso o 1.0 Firefly de até 75 cv e 10,7 kgfm de torque da Fiat, se aproveitando muito do fato da marca francesa estar agora sob o guarda-chuva da Stellantis. O mais bacana ainda é que nesta versão a Peugeot mostrou que um hatch 1.0 não precisa ter visual espartano e ter o básico de equipamentos. Pelo contrário, o 208 Style traz itens que até então eram exclusivos da topo de linha 1.6 Griffe.
Com um belo design, chamando atenção pelos faróis diurnos de LED (DRL) tipo dente de sabre, bem como pelos detalhes em preto e o teto solar, o 208 Style despertou diversos olhares curiosos durante o período de testes. Sim, ele também causa ao motorista aquele hábito que só quem gosta de carro sabe: impossível não dar a última olhada para trás depois de travar as portas. O interior também é bonito, tem bancos de tecido com costuras azuis e acabamento com bons arremates, o que nos faz esquecer que estamos num carro 1.0. Só faltou o painel de instrumentos digital com efeito 3D para ser a cereja do bolo, mas já seria pedir demais.
O 208 Style ainda é gostoso de dirigir por conta da sua proposta mais dinâmica, algo que é fruto da plataforma CMP, dando uma rodagem mais refinada no dia a dia. Interessante ainda ver como ele é diferente no segmento, isso usando o mesmo motor 1.0 Firefly do Argo. Fato é que a Mega-Sena da Virada está aí e sem dúvidas levaria o Macan GTS que citei no início para casa se eu ganhasse o prêmio, mas o 208 Style consegue ser aquele 1.0 desejável para as massas, e essa receita é de tirar o chapéu. E sim, ele teria espaço na minha garagem.
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