Existe uma lacuna na linha da Fiat, onde a fabricante italiana poderia estar lucrando. A Strada domina o segmento das picapes compactas e a Toro está praticamente sozinha em sua categoria, emplacando mais do que picapes maiores. Só que, se o cliente quer algo maior, terá que escolher um modelo de outra marca ou pagar ainda mais para comprar uma Ram 1500. Isto será resolvido com a chegada da picape média da Fiat, que nada mais é do que a Peugeot Landtrek.
Peugeot? Sim. A marca francesa desenvolveu uma picape média em parceria com a chinesa Changan e havia confirmado o lançamento da Landtrek no Brasil. Porém, veio a fusão com a Fiat-Chrysler, formando a Stellantis, o que mexeu com alguns planos. A caminhonete foi uma das mudanças e a empresa confirmou que a Fiat lançará a picape no país, embora não tenha dito se mudará o nome do veículo ou se a Peugeot ainda terá uma versão própria.
Os motivos são bem fortes e explicam bem a decisão. A Fiat tem tradição com picapes, mesmo que com modelos menores, enquanto a Peugeot não se saiu bem com a extinta Hoggar. A rede de concessionárias da fabricante italiana é bem maior, o que ajudaria a picape a ter mais volume de produção no Uruguai. E ainda há o problema de que a Peugeot tem tido problemas com alguns veículos comerciais – até vai bem com os furgões, mas o Partner Rapid, sua variante do Fiorino, não tem tido um bom resultado nas lojas.
De acordo com a Fiat, a picape está finalizando o desenvolvimento no centro de engenharia em Betim (MG) e o lançamento está programado para o 2º semestre de 2023. Enquanto esperamos, podemos ver alguns detalhes sobre a picape, baseada na versão da Peugeot, para entender bem como será o seu posicionamento.
As fotos às vezes enganam e é o caso da Landtrek, que parece ser um pouco mais compacta. Não é o caso, pois mede 5.330 mm de comprimento, 1.897 mm de altura, 1.963 mm de largura e 3.180 mm de entre-eixos. A capacidade de carga é de 1 tonelada, subindo para 1,2 tonelada em algumas versões como a cabine simples – que não chegará ao Brasil. E, se precisar rebocar algo, a fabricante diz que pode puxar até 3 toneladas.
É ligeiramente maior do que suas rivais. Chevrolet S10, Toyota Hilux e Volkswagen Amarok têm 5.325 mm de comprimento, o que dá somente 0,5 cm de diferença. A Nissan Frontier mede 5.260 mm, enquanto a Mitsubishi L200 Triton tem 5.300 mm. O entre-eixos também é outro positivo para a Landtrek, pois a que chega mais perto é a Frontier com 3.150 mm, enquanto Hilux, S10 e Amarok tem menos de 3.100 mm.
Até mesmo na largura ela é maior, retirando o título que era da Amarok. São 1.963 mm, contra os 1.944 mm de picape da Volkswagen, o que pode virar um problema para quem pretende usar a caminhonete em uma cidade apertada como São Paulo – divirta-se manobrando isso em um estacionamento de shopping.
A Fiat pode até se vangloriar que a Landtrek será a maior picape do segmento, mas não pode contar vantagem sobre sua motorização. No mercado global, é vendida com 1.9 turbodiesel de 150 cv e 35,7 kgfm. A Peugeot já sabia que seria muito pouco para o mercado sulamericano, então estava adaptando a caminhonete para usar o 2.0 BlueHDI que a marca francesa utilizava no furgão Boxer, também montado no Uruguai.
O problema é que este turbodiesel não é dos mais potentes. A versão para a picape deve ser a BlueHDI 180, com 180 cv e 40,8 kgfm. Se chegar com esta calibração, terá um dos piores desempenhos da categoria, ficando próxima da Nissan Frontier na versão S, que usa um 2.3 diesel com somente um turbo, gerando 163 cv e 43,3 kgfm.
Mas existe um porém. O 2.0 BlueHDI deixou de ser usado pela Boxer e pela Citroën Jumper porque não atendia as regras do Proconve L7, passando a usar o 2.2 BlueHDi, mais moderno e com start-stop. A própria Fiat usa este motor na Ducato na Europa, com o nome de Multijet III. Tem os mesmos 180 cv do 2.0, porém o torque pode ser de 38,7 kgfm ou 45,9 kgfm, dependendo da versão. Ainda está distante dos 51 kgfm de Hilux e S10, mas já superaria a Frontier e a L200.
Seja qual for o motor, deve ser oferecido nas versões manual e automática, ambas de 6 marchas e com tração 4x4 com reduzida. Não espere por um motor flex, visto que todas as fabricantes desistiram deste tipo de motorização no país.
A Landtrek é um produto pronto e a a Stellantis não deve modificar muito a picape, para não aumentar os custos. A fórmula deve ser a mesmo do Fiorino e Partner Rapid, adotando o mesmo design interno e externo, mudando somente o logotipo e alguns poucos detalhes. Isto significa que basta olhar para a versão da Peugeot e imaginar o logo da Fiat no lugar para entender como será a caminhonete.
A cabine deve repetir esta ideia, o que acontece até com a versão chinesa Kaicheng F70. A central multimídia usará uma tela horizontal pulando para fora do painel, logo acima das saídas de ar. Pouco mais abaixo estarão alguns botões no formato de teclas de piano que a Peugeot tem usado em muitos de seus carros. Uma parte curiosa será a alavanca da transmissão, posicionada mais alta e mais à frente no console central, quase como alguns furgões fazem. O painel de instrumentos tem uma tela digital no centro, rodeada pelo conta-giros e velocímetro analógicos.
Há alguns pontos que podem ser modificados. Por exemplo, o volante pode ser trocado pelo mesmo usado pela Toro, ao invés de só colocar o logo da marca. A multimídia poderia usar o sistema Uconnect da Fiat, mais moderno e eficiente do que o da Peugeot, além de já contar com Android Auto e Apple CarPlay sem fio.
Terá uma lista de equipamentos bem interessante, com seis airbags de série, retrovisores com ajuste elétrico, ar-condicionado, controles de estabilidade e tração, assistente de partida em rampas, câmera de ré, central multimídia de 10”, controle de cruzeiro e mais. As versões mais equipadas adicionam chave presencial, ar-condicionado automático de duas zonas, câmera 360°, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, faróis de LED, entre outros.
O posicionamento da Landtrek é bem claro, ficando acima da Toro, que alcança os R$ 218.600 na versão Ultra com motor turbodiesel, ou R$ 217.400 na variante Ranch sem a capota rígida. Olhando para suas principais adversárias entre as picapes médias, encontramos uma média de R$ 250 mil para S10 e Hilux nas versões mais baratas com cabine dupla. Assim, a Fiat deve posicionar o seu modelo próximo dos rivais no preço.
A partir daí, o valor mais caro deve chegar passar dos R$ 300 mil com facilidade. A Chevrolet vende a S10 High Country a partir de R$ 320.360, a Toyota Hilux alcança os R$ 354.790 na variante esportiva GR-Sport e a Ford cobra R$ 329.990 na Ranger Limited (e o preço deve subir no ano que vem, com a chegada da nova geração). Cobrar algo por volta de R$ 320 mil seria o ideal, deixando R$ 30 mil de diferença em comparação à Ram Classic, que custa R$ 349.990.
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Fiat Mobi alcança 600 mil unidades produzidas em quase 9 anos de mercado
VW revela novo Tiguan 2025 nos EUA e adianta SUV que pode vir ao Brasil
Após chegada do híbrido, Pulse Audace é vendido com R$ 11.000 de desconto
Quer apostar? Híbridos vão depreciar mais que elétricos daqui a 10 anos
Calmon: Híbrido básico flex da Fiat abre horizonte de crescimento firme
Lista: os carros manuais que restaram em 2024 que não são subcompactos
No Reino Unido, chinesas Omoda e BYD já vendem mais que Fiat