Os carros estão cada vez mais caros. O dólar sempre acima dos R$ 5,00 não é a única explicação. A pandemia trouxe uma situação global e complexa de ser administrada que causa falta desde insumos básicos a componentes eletrônicos. Outra ponta está no custo do frete internacional, que aumentou muito tanto para o transporte marítimo quanto o aéreo. Para completar a receita, adicione aumento de impostos.

Em sua coletiva mensal de apresentação de resultados, a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) mostrou que em fevereiro foram produzidas 197 mil unidades, valor 3,5% menor do que no mesmo mês do ano passado e 1,3% abaixo de janeiro. É o pior resultado desde a crise de 2016. No acumulado do bimestre, a situação é menos ruim: foram 396,7 mil produzidas, ou seja, 0,2% maior que o de 2020.

Quando analisado o número de licenciamentos, a situação é pior. Em fevereiro foram 167,4 mil unidades emplacadas, queda de 16,7% sobre o mesmo mês do ano passado, e de 2,2% sobre janeiro deste ano. O acumulado do bimestre significa uma queda de 14,2%. Em compensação, as exportações no bimestre estão nos mesmos patamares do ano passado, pouco acima de 58 mil unidades.

Fábrica FCA - Goiana (PE)

Faltam peças, faltam carros

Nas últimas semanas vimos que algumas fábricas pararam de produzir, reflexo da falta de insumos na indústria, seja de origem nacional ou importados. A área de logística e compras das montadoras estão sofrendo para mitigar o atraso nas peças com fornecedores de diversos níveis. "É uma ruptura logística da cadeia produtiva global. Falta de insumos, atrasos de fretes, falta de contêineres, lockdowns e voos cancelados. Falta aço, borrachas, pneus, plásticos e diversos materiais. Cada dia é um item e não é o mesmo para todas as montadoras.", disse Luiz Carlos Moraes, Presidente da Anfavea.

Quando existem peças disponíveis, há outro desafio: adaptar a linha aos modelos que podem ser feitos, alterando toda a programação das fábricas. Outro impacto na produção é a readequação da mão de obra com os níveis mais baixos de produção. Marcas como GM e Honda paralisaram sua produção em março.

O reflexo disso tudo é a falta de carro nas concessionárias. São vários modelos que já estão com fila de espera em cerca de 90 dias. 

E o que explica o aumento dos preços?

De acordo com a Anfavea, são vários fatores. Durante a sua coletiva, a entidade mostrou o quadro "Pressão sobre custos: Insumos e Logística" onde destacou a evolução dos custos nos últimos 12 meses. A começar pela principal matéria-prima, o preço do aço subiu 61% entre janeiro de 2020 e 2021. Passando a resinas e elastômeros, o crescimento foi de 68% (dez/19 a dez/20), pneus aumentaram 16% e alumínio 13%, ambos no período de janeiro de 2020 a janeiro de 2021.

A ruptura logística citada por Moraes acima é exemplificada pelos custos crescentes. A maior parte dos componentes importados chegam ao país por via marítima, mas com a diminuição das rotas o frete marítimo saltou 339%. Pelo mesmo motivo há falta de contêiner, o que também refletiu no aumento de 170%. Para evitar que a fábrica pare, muitas montadoras estão utilizando o frete aéreo para a importação de insumos, mas está pagou 105% a mais em janeiro deste ano do que em 2020. Para fechar a pressão, a entidade destaca o variação cambial de 39%, que fez que o dólar disparasse dos R$ 4,02 (jan/2020) para R$ 5,60 (26/02/2021).

Manicômio Tributário

A Anfavea também não poupou críticas ao chamado Custo Brasil e destacou a carga total direta de 44% de impostos e tributos que o consumidor paga ao comprar um carro zero quilômetro. Outro ponto abordado é alto custo operacional, apenas da área fiscal das montadoras, que precisam monitorar continuamente as cerca de 50 normas tributárias editadas por dia útil.

Para quem pergunta porque um carro deixa de ser feito no Brasil e passa ser produzido no México a resposta pode estar nos encargos 65% maiores que no México. No lado do consumidor, também criticou os juros altíssimos cobrados num financiamento, citando CDC com taxa de 20% ao ano para empréstimos.

Outro ponto destacado foram as mudanças para vendas na modalidade PCD. Enquanto a entidade negociava um limite de preço maior para isenção do ICMS, o governo federal estabeleceu o limite de R$ 70 mil para que o comprador possa ter a isenção do IPI e aumentou o prazo de renovação do benefício de 2 para 4 anos. Em São Paulo, outra alteração que impacta a vida do compradores de carros nesta modalidade é a necessidade do carro ser adaptado e  customizado ou que precise de outro condutor para ter a isenção do IPVA.

O fato é que no meio de todo esse momento complicado, as fábricas estão repassando o aumento de custos ao preço final dos carros. Do outro lado, o governo restringiu o acesso e os benefícios do motorista PcD e, no caso de São Paulo, ainda aumentou o ICMS para arrecadar mais durante a pandemia. 

No fim das contas, embora existam justificativas para o aumento dos preços, o consumidor não teve em suas mãos um aumento do seu poder de compra. A sensação de que o nosso dinheiro vale cada vez menos impactará em breve nos resultados, o que pode transformar, ou acelerar, as novas formas de se ter um automóvel.

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