A mudança na lei no estado de São Paulo que aumentou o prazo de permanência do carro para pessoas com deficiência (PCD) trouxe uma alteração que vai afetar as fabricantes diretamente: a exigência de oferecer estas versões específicas para o público geral. E já podemos ver um reflexo, com o fim do Jeep Renegade PCD, confirmado pela fabricante em um comunicado para todos os concessionários.
Uma imagem com parte do comunicado circula pelas redes sociais e revela que a versão do Jeep Renegade para PCD, batizada internamente como 10x, não será mais vendida a partir de 1º de novembro. A marca irá atender todos os pedidos que forem inseridos no sistema até 31 de outubro, prometendo faturar os veículos entre cinco a seis semanas.
A versão 10x era a única abaixo do limite de R$ 70 mil, comercializada por R$ 69.999. Sem esta configuração, os clientes do utilitário não terão acesso à isenção de ICMS (agora de 18%), tendo apenas a isenção do IPI. No seu lugar, a marca irá oferecer o Renegade STD 1.8 automático, versão que já tem o papel de opção de entrada da linha e que custa R$ 81.590. Ela traz itens que não existiam na variante específica, como rack de teto, alças de teto traseiras, tampão do porta-malas e luz de leitura traseira.
No entanto, a diferença irá pesar bastante no bolso do cliente. Com a redução do ICMS e a isenção do IPI, o Renegade PCD custava R$ 54.662. Agora, o SUV compacto terá um preço de R$ 64.684 já com a isenção do IPI e mais um desconto de 12% dado pela Jeep. Isto, obviamente, para pagamento à vista. Na prática, o cliente irá pagar R$ 10.022 a mais pelo SUV.
No site da marca, o Renegade PCD conta com um financiamento em que é necessário pagar R$ 27.331 (50% do valor do carro) de entrada e o restante em 47 parcelas de R$ 562,06 e uma última parcela de R$ 14.112,09. No caso do Renegade STD, a entrada sobe para R$ 34.547,50 (50%), mais 47 parcelas de R$ 737,74 e parcela final de R$ 17.720,34. O comunicado destaca a diferença de R$ 106 a mais nas parcelas, sem considerar o valor mais caro de entrada e de saldo da última parcela.
Em nota, a Fiat-Chrysler explica as vendas foram suspensas sem previsão de retorno:
"A comercialização da versão 1.8 AT do Jeep Renegade, direcionada exclusivamente ao público PCD, foi suspensa, sem data determinada de volta, devido a alguns fatores importantes: a falta de revisão no valor do teto para isenção de ICMS, que está desde meados de 2007 em R$ 70 mil reais, enquanto os custos desde então aumentaram substancialmente; a degradação do cenário cambial ao longo dos últimos meses, que pressionou os custos e fornecedores; além do decreto 65.259 do estado de São Paulo, de 20 de outubro de 2020, que alterou consideravelmente as regras de comercialização nessa modalidade."
A mudança deve afetar diretamente o Jeep Renegade no mercado, por ficar muito mais caro do que um rival que ainda tenha a isenção de ICMS. O modelo teve 77,87% de seus emplacamentos em setembro direcionados para as vendas diretas, o que significa que 4.476 unidades das 5.748 emplacadas no último mês foram nesta modalidade. Por outro lado, existe a chance de que mais marcas sigam a decisão da Jeep e eliminem a variante para PCD.
Esta é apenas uma das alterações nas leis que irão afetar as vendas para PCD daqui para frente. Nos últimos meses, os governos federal e do estado de São Paulo decidiram limitar a isenção do IPVA em São Paulo somente para veículos adaptados; reduzir o benefício do ICMS de 21% para 18% e aumentar o tempo de permanência para quatro anos após a compra de um carro para PCD com menos impostos; e excluir as deficiências leves da lista de beneficiados. Com regras mais rígidas e o limite de R$ 70 mil cada vez mais inviável para as fabricantes, a tendência é que as versões específicas para pessoas com deficiência desapareçam das lojas.
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