Mesmo com a chegada do Cronos, o Grand Siena segue na linha da Fiat - inclusive com uma leve reestilização recente. Seu papel não é roubar clientes do sedã do Cronos, que tem um projeto mais moderno, equipamentos e acabamento mais refinado, mas sim ser a opção aos mais racionais, que procuram o espaço interno amplo sem gastar muito e que abrem mão das evoluções do Cronos.
Boa parte desse público é dividido entre empresas, taxis e motoristas de aplicativos. Categorias que buscam economizar o máximo a cada quilômetro rodado e maximizar o lucro, ainda tem no GNV (gás natural veicular) uma das formas de rodar gastando menos que com gasolina, por exemplo. Por isso, a Fiat disponibilizou para o Grand Siena Attractive 1.4 um kit preparação para receber o kit sem perder a garantia do carro.
A Fiat já vendeu o Grand Siena Tetrafuel (gasolina, etanol, GNV e gasolina pura, de alguns mercados latinos), mas fez diferente dessa vez. O motor 1.4 (o conhecido Fire, com quatro cilindros, até 88 cv e 12,5 kgfm de torque) recebe algumas mudanças para rodar com o GNV. O cabeçote foi modificado, recebendo válvulas (são oito) e sedes em material mais resistente ao gás natural e uma nova geometria, para melhor queima do combustível. Junto, o coletor de admissão recebe os locais corretos para a instalação dos injetores do GNV, melhorando a mistura ar/combustível e evitando as famosas "gambiarras".
O Grand Siena está pronto para receber o kit de quinta geração, um dos mais modernos com quatro injetores e até mesmo uma central eletrônica de controle. É uma evolução dos antigos conjuntos, que chegavam a prejudicar a vida útil do motor e tinham um desempenho bem inferior, além de um maior consumo que o atual. Inclusive com um manual incluso, basta pegar o Grand Siena e procurar um instalador credenciado pelo Inmetro.
Em uma rápida pesquisa, este kit custa em média R$ 4.500 instalado. Aqui, o carro está com um par de cilindros de 7,5 m3, totalizando 15 m3, que ficam no porta-malas de 520 litros, sobrando uma boa quantidade de espaço para levar bagagens, maior que alguns hatches compactos, por exemplo.
Minha última experiência com um carro com GNV foi quando tirei minha habilitação, com 18 anos - logo, estamos falando de cerca de 13 anos. Era um Celta branco, básico, que os próprios instrutores chamavam de "impossível" justamente pelo GNV. Seu desempenho era bem inferior aos demais e consideravelmente mais chato para os alunos. Não me perguntem o motivo de ter ficado com ele...
Com o tanque cheio de gasolina (segundo a concessionária, uma recomendação da Fiat, mas pode rodar com etanol normalmente), parei para abastecer os cilindros de GNV. Se um dia esse processo demorava um bom tempo, hoje os 15 m3 estavam completos em cerca de cinco minutos, com abastecimento por uma válvula junto do motor. Um indicador no console central mostra o nível dos cilindros e permite escolher quando quero rodar apenas na gasolina (ou etanol) ou com a ajuda do GNV.
Ajuda pois essa nova geração de GNV trabalha com um módulo eletrônico que conversa com o sistema original do carro. Ou seja, em situações onde mais potência é necessário, como ultrapassagens, o motor funciona com gasolina ou etanol, mudando automaticamente para o GNV se ele estava selecionado anteriormente. O mesmo acontece no momento da partida, sendo que poucos minutos depois (com o motor aquecido) ele usa o combustível gasoso.
É perceptível a queda de desempenho com o GNV (um dos motivos da Fiat não disponibilizar o sistema com o motor 1.0), se equivalendo a um motor de menor cilindrada. Porém, o 1.4 Fire sempre foi reconhecido pela força em baixas rotações (são até 88 cv e 12,5 kgfm, este com pico a 3.500 rpm mas boa parte entregue bem antes), então o uso urbano é bom mesmo assim, ajudado por um câmbio com escalonamento curto. E ainda tem o peso extra dos cilindros no porta-malas.
Rodando no GNV, além da menor força, o motor fica um pouco mais áspero e vibrando mais em marcha lenta. Nada que afete o conforto de forma significativa, mas os mais atentos (e que já conhecem o sistema) irão perceber. Se comparado aos primeiros kits, a quinta geração evoluiu bastante do que era, por exemplo, naquele Celta branco que fiz minhas aulas e a prova da CNH há alguns anos.
A compra do Grand Siena com a preparação para GNV exige algumas contas. O Grand Siena Attractive 1.4 custa R$ 55.790, mais os R$ 690 da preparação. Coloque no valor os cerca de R$ 4.500 do kit GNV instalado em uma empresa homologada pelo Inmetro e o processo para legalizar o combustível no documento do seu carro.
Os cilindros de 15m3 rodam entre 180 e 200 km com um abastecimento. No período do teste (semana do dia 21 a 27 de junho), a ANP (Agência Nacional do Petróleo) registrava um valor médio de R$ 2,761 para o GNV (o m3) em São Paulo (SP), ou R$ 41,41 para um abastecimento completo - ou R$ 0,23 por km no caso de 180 km rodados.
Com gasolina, o Grand Siena registrou média de 11,1 km/l durante nossa avaliação (quando totalmente desligado o GNV), com valor médio de R$ 3,891 por litro na mesma região e na mesma data. Para rodar os 180 km, são gastos R$ 63,10 - ou R$ 21,69 de diferença. E com isso, vamos ao fator "depende".
Quem pensa em ter um carro com GNV tem percursos grandes no dia a dia. Na conta, consideramos os 180 km diários (que com certeza é um número "baixo" para motoristas como profissão), com cinco dias por semana (economia de R$ 113,45) e quatro semanas no mês, R$ 453,80 (fora a possibilidade de usar o GNV aos finais de semana e lazer). O kit de R$ 4.500 (mais R$ 690) se paga em cerca de um ano neste cenário - o tempo pode ser menor de rodar mais que isso. Se sua conta for por quilometragem, são cerca de 43.250 km necessários para o kit GNV "se pagar".
Ainda há outros custos que dependem da região. A vistoria acontece a cada 6 meses ou 1 ano, mas há desde desconto até isenção em IPVA, dependendo do estado - vale pesquisar como é no seu. O mesmo serve para os valores de combustíveis e a disponibilidade de postos de abastecimento na sua região. Coloque isso tudo na sua conta.
Com amplo espaço interno, é a opção entre Chevrolet Joy Plus 1.0 (R$ 56.090) e o Nissan V-Drive, por exemplo (R$ 57.190 com motor 1.0). Mesmo com o motor 1.4, ele custa menos que os dois (R$ 55.790), com itens como direção hidráulica, ar-condicionado, vidros dianteiros e travas elétricas e computador de bordo, além de Isofix no banco traseiro. O carro testado tem alguns opcionais, como sistema de som com USB e Bluetooth e as rodas de 15" (sem o kit de instalação de GNV custa R$ 63.060 com todos os opcionais.
Faça as contas. O tipo de uso irá dizer se vale a pena pra você fazer este investimento, mas considere impostos e taxas (ou isenções) de sua região. Em uso, o sistema GNV atual é bem mais eficiente e seguro que os antigos, ainda mais instalados em um carro preparado para isso como o Grand Siena.
Fotos: Leo Fortunatti e divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 8 válvulas, 1.368 cm³, comando único com variador, flex e GNV |
POTÊNCIA/TORQUE | 85/88 cv a 5.750 rpm / 12,4/12,5 kgfm a 3.500 rpm |
TRANSMISSÃO | manual de cinco marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | aço aro 15" com pneus 185/60 R15 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira com ABS e EBD |
PESO | 1.094 kg em ordem de marcha + kit GNV |
DIMENSÕES | comprimento 4.290 mm, largura 1.700 mm, altura 1.507 mm, entre-eixos 2.511 mm |
CAPACIDADES | Porta-malas 520 litros (sem os cilindros); tanque 48 litros, cilindros 2x7,5 m |
PREÇO | R$ 55.790 (R$ 63.750 como testado + kit GNV) |
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