Lá em casa já se passaram nada menos que quatro Fiestas, de todas as gerações já produzidas no Brasil. Sempre achei o compacto da Ford um dos melhores de dirigir de sua classe. As últimas versões também se destacaram pelo design (considero o Fiesta, ao lado do Peugeot 208, o mais bonito dos hatches pequenos) e pela oferta de itens de segurança, como o controle de estabilidade com assistente de saída em rampas - e isso numa época que tal item era artigo praticamente de carro de luxo no Brasil.
Mas o tempo passou e o Fiesta foi ganhando rivais competentes, como o Hyundai HB20 e, mais recentemente, os novos Fiat Argo e o VW Polo. A Ford teria muito bem condições de enfrentá-los, como mostrou na Europa ao lançar a nova geração do Fiesta, maior e mais refinada. Para o Brasil, porém, a marca preferiu focar no Ka e manter o Fiesta atual. Mas era preciso mudar alguma coisa para pelo menos fazer o Fiesta voltar às manchetes. O EcoSport foi um bom exemplo disso. Não mudou de geração, mas ganhou novos motor e câmbio, um painel mais bem acabado e preços competitivos.
Como o Fiesta é dono da plataforma que deu origem ao EcoSport, era esperado que o hatch agora herdasse as benesses do SUV. Ou pelo menos o câmbio automático com conversor de torque, vindo do Fusion. Isso porque o motor 1.5 de 3 cilindros das versões intermediárias do EcoSport ainda é fabricado somente na Índia, e não há volume suficiente para colocá-lo também no Fiesta. OK, mas para o Fiesta a Ford já tinha o premiado 1.0 Ecoboost (turbo e injeção direta).
Então, o que a Ford brasileira fez pelo Fiesta 2018? Reestilização (que na verdade é basicamente um para-choque e rodas novas), adoção da central multimídia Sync 3 (a partir da versão SE Plus) e... aumento de preços! Câmbio automático? Não, o Powershift de dupla embreagem segue no jogo, mesmo com sua imagem desgastada pelos problemas de durabilidade. Motor Ecoboost? Relegado a uma única versão intermediária, e ainda movido somente a gasolina. Painel do Eco? Nada, mantiveram os plásticos rígidos e os gaps na montagem.
O pior é saber que a Ford global tem o conjunto pronto em suas prateleiras. O novo Fiesta europeu é vendido com a união do motor 1.0 Ecoboost ao câmbio automático de verdade. A filial brasileira pode alegar que o investimento seria alto demais, mas, a partir do momento que você tem a Volkswagen fazendo o novo Polo no Brasil com motor 1.0 TSI (turbo e injeção direta) e vendendo-o a um preço menor que o do Fiesta, qualquer explicação soa como desculpa.
A Ford poderia ter feito como a VW e ter deixado o motor 1.6 aspirado apenas nas versões de entrada SE e SE Plus, colocando o excelente Ecoboost (que andou mais e bebeu menos que o Polo TSI em nosso último teste) nas versões Style, SEL e Titanium, além de finalmente tornar esse motor flex, o que ajudaria nas vendas. Some isso ao câmbio automático do Eco e a um acabamento melhorado e então poderíamos dizer que, apesar de não ter trazido o Fiesta novo, a Ford brasileira estava recolocando o Fiesta atual na briga.
Do jeito que ficou, com mudanças apenas superficiais e aumento médio de R$ 3 mil, a Ford local mostra que não está preocupada em brigar com Polo e Argo. Uma pena para o Fiesta, que já chegou a figurar no Top 5 de vendas do Brasil, e para os fãs do hatch, que deverão acabar migrando para os concorrentes.
Fotos: divulgação
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