Para badalar os 50 anos de lançamento do Golf e o retorno do modelo ao mercado nacional, na versão GTI da geração Mk8,5, a Garagem VW está exibindo, de uma só vez, quatro exemplares do lendário hatch em seu acervo de clássicos.
Por enquanto, apenas convidados (como jornalistas ou membros de clubes dedicados à marca) podem ver de perto a coleção na fábrica da Via Anchieta. A boa notícia é que, a partir do ano que vem, a Garagem VW deverá ser aberta três ou quatro dias por mês para visitas de grupos agendados.
Comecemos pelo carro recém-incorporado à coleção. Trata-se de um Golf GTI Mk4,5 - fruto daquele facelift feito no Brasil em 2008 para esticar a vida da geração 4 até 2013. Na Alemanha, os Mk4 já estavam fora de linha desde 2003.
O exemplar exposto é de 2008 (os GTI Mk4,5 só foram feitos até 2009). Ao longo de seis meses, o carro, na cor preto magic, passou por uma restauração que incluiu a desmontagem e limpeza do conjunto motor e câmbio, troca de óleo e filtros, troca de componentes de suspensão, micropintura em partes da carroceria, além da revitalização de bancos e plásticos internos.
Com motor EA113 1.8 Turbo de 193 cv, o GTI Mk4,5 acelerava de zero a 100 km/h em 7,5 segundos. Podia trazer câmbio manual ou Tiptronic, sempre de cinco marchas. Trazia um pacote de equipamentos de série bem generoso para os padrões da época: incluía computador de bordo, sensor de estacionamento traseiro, faróis com iluminação “Cool Blue”, retrovisores com o pisca integrado e rastreador via satélite.
O exemplar exposto pertenceu à frota de Desenvolvimento do Produto da Volkswagen e tem pouco mais de 20 mil km rodados.
Outro que escapou de ser escrapeado pela fábrica e hoje brilha na Garagem VW é o GTI Competição, criado em 1999 como “projeto extracurricular” da equipe de Desenvolvimento do Produto. Inspirado nas corridas europeias, tem pintura prateada com largas faixas azuis e ostenta o número 17 - uma homenagem à Ala 17 da fábrica, onde trabalhava o time responsável pelo desenvolvimento do carro.
Suas rodas de 16 polegadas, importadas da Volkswagen Motorsport, são calçadas com pneus slick. A gaiola de segurança segue os padrões da FIA e foi feita no departamento de Engenharia de Protótipos da fábrica. Além disso, há banco tipo concha, cinto de competição e sistema de extinção de incêndio. O carro levou cerca de seis meses para ser projetado e montado, com alterações significativas na suspensão, que foi rebaixada e teve a cambagem ajustada para -4°15' na dianteira, em comparação aos -0°33' originais. O conjunto motor/transmissão é do GTI de série, sem modificações.
Toda série limitada devia ser assim… Em vez de faixinhas pintadas e outras decorações de gosto duvidoso, as 99 unidades numeradas desse Golf GTI traziam, simplesmente, um motor VR6 2.8! Produzido em São José dos Pinhais, o carro saía apenas com carroceria duas portas.
O visual desse “sapão” tão especial era discreto e elegante, mas incluía spoiler, saias laterais e máscaras nos faróis. Além disso, os pneus eram na medida 225/45 R17 e a suspensão, 2 cm mais baixa que a do GTI convencional. No interior, as costuras de bancos, volante e tapetes eram vermelhas, havia plaqueta com a numeração de cada exemplar e o pomo da alavanca de câmbio tinha forma de bola de golfe.
Com seus 200 cv (20 cv a mais que o GTI 1.8 turbo) e câmbio manual de seis marchas do Audi S3, o GTI VR6 nem era tão mais rápido... Fazia o 0 a 100 km/h em 7,7 segundos, contra 7,8 s do “irmão” de quatro cilindros. Em velocidade máxima, os dois também praticamente empatavam, na casa dos 215 km/h.
Lembro de ter guiado um Golf desses na época do lançamento, e de como seu nariz parecia mais pesado que o do GTI 1.8 turbo, sobrecarregando os pobres discos de freios (iguais nas duas configurações).
Mas os seis cilindros, os 200 cv e o fato de ser uma série tão limitada exercia um grande fascínio nos endinheirados da época. Estrela no estande da Volkswagen no Salão de 2002, o Golf GTI VR6 teve, ali mesmo, 67 (de suas 99) unidades encomendadas. E olha que era 50% mais caro que um GTI comum…
O exemplar na Garagem VW é o 000/099 e foi usado originalmente como carro de demonstração do departamento de Imprensa. Provavelmente aquele mesmo que eu deixei os freios em brasa há 22 anos!
O último Golf produzido no Brasil foi também o melhor que tivemos por aqui: com motor EA888 2.0 TSI, de 230 cv e 35,7 kgfm, acelerava de 0 a 100 km/h em 7 segundos e alcançava os 238 km/h. Sua relação peso/potência era de 6 kg/cv. Os números, contudo, não traduzem o prazer que era guiar esse canhão com ergonomia perfeita, direção rápida como o pensamento e suspensão justa sem ser desconfortável. Até o câmbio DSG de seis marchas funcionava bem. E que som lindo saía do escapamento…
A lista de equipamentos incluía multimídia com tela de 8” sensível ao toque, câmera traseira e lanternas traseiras de LED. O quadro de instrumentos era totalmente digital e programável: uma tela colorida de 12,3” com alta resolução. As informações de navegação eram mostradas em 2D ou 3D (impressionava pra caramba).
A unidade exposta no acervo foi fabricada em 2018 e pertenceu à frota de testes da Engenharia. Atualmente seu hodômetro indica 32 mil quilômetros.
Por enquanto, os quatro Golf do acervo contam com a companhia do novíssimo GTI Mk8,5, cor Mondsteingrau (cinza pedra da lua), que foi trazido da Europa especialmente para o Rock in Rio. O exemplar, contudo, será mandado de volta à Alemanha após cumprir sua missão de marketing por aqui.
Na virada da década de 60 para os anos 70, o Fusca ainda era o carro mais popular do planeta. Mas o mundo estava mudando, os japoneses chegavam acelerados e as vendas do velho besouro começavam a cair nos EUA e Europa. A Volks precisava de um novo carro pequeno.
Para substituir seu best-seller, a companhia chegou a estudar um protótipo com motor central instalado sob o branco traseiro (EA 266), mas acabou desistindo da ideia. O protótipo seguinte (EA 276) já tinha motor dianteiro, mas era um boxer refrigerado a ar, num arranjo que anos mais tarde seria aproveitado no Brasil para o lançamento do Gol.
Mas foi o protótipo EA 337, assinado por Giugiaro, que realmente deu origem ao primeiro Golf, lançado em 1974. Como os Mini ingleses, os Peugeot 204 e os Fiat 127 e 128, o novo Volkswagen teria motor transversal dianteiro de quatro cilindros em linha, refrigerado a água. A empresa que havia construído sua imagem com o motor boxer traseiro refrigerado a ar estava se reinventando (o Passat, também com um 4-em-linha “a água”, acabara de ser lançado).
Apesar de não ter sido o pioneiro, o Golf se tornaria o arquétipo dos hatch modernos. As linhas retas, com colunas C grossas, davam ao modelo um aspecto limpo e, ao mesmo tempo, robusto. Além disso, o acabamento era ótimo.
Leve e com menos de quatro metros de comprimento, o carro mostrava agilidade. Em 1976, começou a ser vendida a versão GTI, com 110cv, capaz de bater rivais maiores e mais caros nas autobahnen. Num instante, todas as outras fabricantes copiaram a ideia, fazendo esportivos derivados de carros hatch.
Com robustez, qualidade de construção e simplicidade (as mesmas características que fizeram a fama do Fusca), os Golf conseguiram agradar a compradores de várias camadas sociais, mantendo a Volks viva e sempre entre as líderes do mercado mundial.
O Brasil demorou a receber o modelo. Somente em 1994 é que o Golf (geração Mk3) foi lançado aqui, inicialmente importado do México e da Alemanha. Em 1999, a geração Mk4 passou a ser produzida aqui — durou tanto que acabou ganhando uma geração “4,5”, requentada exclusivamente para o mercado nacional. Daí, pulamos diretamente para a geração Mk7, que vinha importada e, a partir de 2015, passou a ser feita no Paraná.
Hoje, o Golf já está na oitava geração (“Mk8,5”, pra ser exato). Nesses 50 anos de existência, mais de 37 milhões de exemplares foram produzidos, deixando longe o recorde anterior da Volkswagen, de 21 milhões de Fuscas.
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