Deu ruim: os 10 maiores escândalos da indústria automotiva

Do dieselgate da VW ao recall dos airbags mortais da Takata, estes são os casos que mais sujaram a imagem das montadoras

2. O “Dieselgate” da Volkswagen 2. O “Dieselgate” da Volkswagen

Montadoras e fornecedores já entraram em atividades moralmente questionáveis para garantir que continuassem lucrando. Mas, quando estas decisões ruins são descobertas pelo público, geram um grande escândalo. Aí o governo e advogados se envolvem, enquanto a imprensa divulga maciçamente o caso. No final, os esforços das empresas para se beneficiarem de forma ilícita termina em enormes multas e perda de confiança do público. Confira na galeria acima os casos mais escandalosos:

 

10. Chevrolet Corvair e a roda que batia na carroceria

Lançado em 1960, o Chevrolet Corvair foi a resposta da General Motors à crescente popularidade de modelos pequenos, como o Volkswagen Fusca. Tinha motor de seis cilindros em linha, posicionado na traseira e refrigerado a ar. Era vendido nas versões sedã, cupê, perua e van.

Porém, o Corvair tornou-se infame ao aparecer no primeiro capítulo do livro Unsafe at Any Speed (Inseguro a Qualquer Velocidade), de Ralph Nader, que condenava a falta de segurança dos veículos, publicado em 1995.

Nader argumenta que o Corvair vendido entre 1960 e 1964 tinha uma suspensão traseira do tipo swing-axle (braço oscilante) que fazia com que as rodas do lado de dentro da curva batessem na carroceria e causassem uma saída de traseira. Como o carro não tinha barra anti-rolamento dianteira, ele ficava ainda mais perigoso.

A General Motors não gostou nem um pouco do que o Nader disse sobre o Corvair, e teria adotado algumas atitudes questionáveis. Nader processou a GM por invasão de privacidade e ganhou US$ 425 mil em 1970 (o que hoje seria o equivalente a US$ 2,7 milhões).

9. O tanque de combustível explosivo do Ford Pinto

Em 1970, as fabricantes norte-americanas começaram a vender veículos compactos e econômicos. A Ford entrou no segmento com o Pinto (sem piadas maldosas).

Lançado como modelo 1971, o Pinto chegava às lojas nas versões hatchback e perua. Poucos anos depois, começaram a aparecer as reclamações de que o modelo compacto pegava fogo depois de sofrer uma colisão traseira. O tanque de combustível estava localizado entre o eixo e o para-choque traseiro. A falta de espaço aumentava as chances do tanque ser perfurado.

Em 1977, a revista Mother Jones publicou uma reportagem sobre os casos de incêndio do Ford Pinto. O que piorou a situação, para a Ford, foi que a revista teve acesso a um memorando interno. Segundo o documento, a Ford havia descoberto a falha durante a pré-produção, fez as contas de quanto iria custar colocar um tanque de combustível mais seguro e achou que não compensava o gasto. Fizeram o absurdo de calcular que os custos para trocar o sistema de combustível seria maior do que pagar indenizações após os acidentes.

O National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), responsável pela segurança viária nos EUA, concluiu que o sistema de combustível era perigoso e mandou que a Ford fizesse o recall de 1,4 milhões de unidades.

O escândalo do Ford Pinto resultou em um processo criminal contra a Ford por homicídio doloso, movido pela promotoria do estado do Indiana após três mulheres morrerem queimadas no veículo. O memorando tornou-se uma prova de que a Ford assumiu o risco, sabendo que poderia provocar fatalidades. Foi a primeira vez que uma empresa norte-americana foi acusada de assassinato, porém, o júri absolveu a Ford.

8. John DeLorean foi pego vendendo cocaína

John DeLorean foi um nome forte na indústria. Criou o Pontiac GTO e chegou a ser vice-presidente da produção de carros e picapes da General Motors. Em 1973, ele deixou a GM e criou sua própria empresa, a DeLorean Motor Company, que abriu em 1975.

Todos conhecemos o único carro da empresa, o DMC-12, ícone dos anos 1980 e que ficou ainda mais famoso após aparecer no filme De Volta Para o Futuro. Apesar disso, nunca alcançou o sucesso. Para piorar, DeLorean foi preso em outubro de 1982 com 31 kg de cocaína e, supostamente, teria tentado vender 100 kg por US$ 24 milhões (na cotação atual, US$ 61 milhões). Ele usaria este dinheiro na DeLorean Motor Company, que estava falida.

Os advogados de DeLorean argumentaram que os agentes do FBI armaram a situação para pegar o executivo vendendo a droga. O júri aceitou o argumento e inocentou DeLorean.

Nos anos seguintes, a DeLorean Motor Company fechou e o executivo tornou-se recluso, desaparecendo da vida pública.

7. O Audi que (não) acelerava sozinho

Em novembro de 1986, o programa de TV 60 Minutes dedicou um segmento exclusivamente às acusações de que o Audi 500 acelerava sozinho. Foi o suficiente para que inúmeros proprietários processassem a Audi, por supostas mortes e ferimentos causados pelo problema, o que deixou a marca alemã muito mal vista nos EUA.

Só que não era verdade. O NHTSA começou a investigar o caso e não encontrou nenhum problema mecânico que pudesse causar a aceleração repentina. O órgão concluiu que o “defeito” era causado por erro humano. O Audi 500 tinha o pedal do freio muito perto do acelerador e os dois tinham o mesmo formato. Por isso, achou possível que os motoristas tenham se confundido e pisado no pedal errado.

O resultado foi que as vendas da Audi despencaram e levaram anos para se recuperar.

6. Daimler pagando propina

Em 2010, uma investigação pela Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos descobriu que a Daimler estava pagando propinas em diversos países para ter tratamento preferencial. A agência multou a fabricante em US$ 185 milhões.

De acordo com a denúncia, a Daimler pagou, no mínimo, US$ 56 milhões ao longo de 10 anos “para aumentar as vendas diretas ao governo em países como Rússia, China, Vietnã, Nigéria, Hungria, Letônia, Croácia e Bósnia.” A Daimler ainda teria pago uma comissão de 10% para oficiais do Iraque para garantir a venda de veículos para o governo iraquiano.

5. Ford Explorer e os pneus Firestone

Em 2000, o NHTSA começou a investigar reclamações de que os pneus Firestone, que vinham em algumas versões do Ford Explorer, estavam soltando camadas de borracha. A Firestone respondeu com um recall de 14,4 milhões de pneus, que eram utilizados também nos Mercury Mountaineer, Ford Ranger, Mazda Navajo e Mazda B-series, todos participando do recall.

A falha causou 271 mortes e mais de 800 pessoas feridas. A Ford e a Firestone começaram uma briga, uma culpando a outra. A Ford dizia que a culpa era da Firestone e que o pneu era defeituoso. Já a Firestone dizia que o Explorer tinha centro de gravidade alto demais e suspensão defeituosa, o que fazia com que fosse desbalanceado nas curvas e danificasse os pneus.

Ambas as marcas foram inundadas por processos e acabaram investigadas pelo governo norte-americano. Isso levou a encerrarem a parceria e os CEOs das duas empresas perderam o cargo.

4. O Toyota que acelerava sozinho

O maior escândalo da história da Toyota foi o caso de aceleração repentina que mexeu com sua reputação de construir carros seguros. Diversos clientes reclamaram que os modelos da empresa estavam acelerando sozinhos. A Toyota achou que o problema eram os tapetes, que acabavam se movendo e pressionando o acelerador.

Depois de um primeiro recall de 5,5 milhões para trocar os tapetes, a Toyota descobriu uma segunda possibilidade que fazia com que o pedal ficasse preso, causando a aceleração involuntária. Isso levou a outro recall de mais alguns milhões de veículos.

A Toyota acabou pagando uma multa de US$ 1,2 bilhão ao Departamento de Justiça dos EUA, e a fabricante admitiu que “enganou os consumidores norte-americanos ao esconder e fazer declarações enganosas sobre os dois problemas de segurança afetando seus carros, cada um causando um tipo de aceleração involuntária”.

3. A ignição que desligava da General Motors

No início de 2014, a General Motors fez um recall para trocar as ignições de vários modelos de suas marcas, porque eles poderiam desligar quando chacoalhados. Bastava bater o joelho contra a coluna de direção que a chave desligava.

Quando isso acontecia, vários sistemas importantes eram desativados, como airbags, direção assistida e os freios ABS. A falha afetava milhões de veículos e foram identificadas 154 mortes causadas por este defeito.

A GM acabou pagando US$ 900 milhões ao Departamento de Justiça para resolver a briga jurídica; mais US$ 35 milhões em multas para o NHTSA; e mais US$ 1 milhão à Comissão de Títulos e Câmbio. Já para as vítimas, a fabricante pagou US$ 594,5 milhões, que foram direto para um fundo de compensação.

2. O “Dieselgate” da Volkswagen

Todos os casos até aqui afetavam apenas a visão do público sobre a fabricante. Já o esquema de fraude nos testes de emissões dos motores a diesel da Volkswagen conseguiu causar danos em todo um segmento. O caso fez com que a popularidade dos carros a diesel despencasse nos EUA e na Europa e forçou os governos a examinarem estes modelos com muito mais cuidado. Muitas fabricantes já anunciaram que deixarão de vender carros abastecidos com diesel nos próximos anos.

O escândalo foi descoberto quando pesquisadores norte-americanos alertaram sobre diferenças entre as emissões dos carros a diesel da Volkswagen no dia-a-dia em relação aos testes no laboratório. Enviaram a descoberta para o California Air Resources Board, que investigou o caso. A agência descobriu que os carros eram equipados com um sistema que reduzia as emissões durante os testes de emissões, desativando o dispositivo no uso normal.

O resultado foi um escândalo que forçou Martin Winterkorn, CEO do Grupo Volkswagen, a deixar o cargo e custou mais de US$ 30 bilhões em multas nos EUA. O governo alemão segue investigando o caso e, recentemente, prendeu Rupert Stadler, CEO da Audi, por acreditar que ele estava eliminando provas.

1. Os airbags fatais da Takata

O caso do recall dos airbags mortíferos da Takata é a maior convocação da história. As bolsas infláveis eram utilizadas por inúmeros modelos de várias empresas, desde generalistas como Toyota e Honda, até marcas de luxo como BMW e Audi. A NHTSA estima que 37 milhões de veículos estavam equipados com o equipamento. O perigo era tão severo que alguns veículos fizeram mais de um recall, recebendo uma correção temporária apenas para reduzir os riscos enquanto buscavam uma solução definitiva.

Um estudo descobriu que o material químico usado para inflar o airbag poderia deteriorar-se com o passar do tempo, afetado pela umidade do ar. A substância acabaria ativando o airbag com muito mais potência que o normal, fazendo com que o equipamento estourasse, jogando pedaços de metal para dentro da cabine, direto nos ocupantes.

Pela contagem da NHTSA, 15 pessoas morreram nos EUA por causa dos airbags e pelo menos 250 ficaram feridas. O caso foi tão grave que a Takata acabou pedindo falência.

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