Nas vendas varejo, aquela para pessoas físicas nas concessionárias, o carro mais vendido de 2023 foi o Chevrolet Onix, mas com uma vantagem de apenas 381 unidades sobre o Hyundai Creta, um SUV compacto que começa já nos altos R$ 137.990. Isso é um reflexo do que o consumidor está comprando nas lojas de fato, pois subtrai o poder econômico de influência de grandes empresas nos números gerais de emplacamentos.
Isso significa que quem realmente está tirando dinheiro do próprio bolso cada vez mais escolhe o SUV feito em Piracicaba (SP). Não é o maior entre os SUVs compactos, nem o mais barato, nem o mais equipado. Então por que vende tanto? Este é o Hyundai Creta na versão Platinum Safety Com Teto Solar (sim, esse é o nome da versão), a opção topo do modelo com motor 1.0 turbo, de R$ 167.690, para ver tudo o que tem a oferecer e que está cativando os compradores.
Um dos principais pontos do Hyundai Creta na versão Platinum Safety Com Teto Solar é que parece não faltar nada na lista de itens de série. Só pelo nome já entrega que tem teto solar panorâmico, mas vai além disso. Traz ar-condicionado automático, painel de instrumentos digital, multimídia com tela de 10,25", espelhamento (com fios), carregador por indução, freio de estacionamento elétrico com auto hold, sensor de estacionamento traseiro, câmeras com visão 360 graus, acendimento automático dos faróis, banco ventilado para o motorista, chave presencial, seletor de modos de condução, luz diurna de LED e rebatimento elétrico dos espelhos.
E isso foi só a parte de conforto. Em segurança, essa versão do Creta, como diz o próprio nome, conta com 6 airbags, frenagem automática de emergência, assistente de manutenção de faixa, farol-alto adaptativo e o sistema de câmeras 360 graus mostra a visão de ponto cego ao se acionar a seta, imagem que é projetada no centro do painel. Visualmente, a Platinum Safety Com Teto Solar, traz mais detalhes cromados na grade e na coluna C, enquanto as rodas são de liga-leve de 17".
Mas eu gostaria de levantar alguns questionamentos. A lista de itens de série parece moldada para impressionar quem compra. Se fosse essa a versão de R$ 138 mil (Comfort Plus de R$ 137.990) seria de fato impressionante. Mas é a de quase R$ 170 mil. E aí a porca torce o rabo.
Onde está o sensor de estacionamento dianteiro, o ajuste elétrico para ao menos o banco do motorista, faróis de LED ou o controle de cruzeiro adaptativo? Digo isso ciente que os custos das montadoras subiram e os R$ 170 mil de hoje não são mais de os R$ 170 mil de anos atrás. Mas, para mim, R$ 170 mil ainda é uma quantia grande de dinheiro para se pagar em um SUV compacto 1.0, sendo que há modelos na concorrência mais equipados e mais potentes nesta faixa.
Outra coisa que esse Creta não tem é o monitor de ponto cego. A Hyundai tenta contornar a situação com as câmeras laterais e imagens projetadas no painel ao se acionar as setas. Mas imaginemos que, hipoteticamente, nem sempre os motoristas usem os piscas nas conversões. Em situações como essa o monitor de ponto cego ao menos acende para avisar da presença de outros veículos. As câmeras do Creta não cumprem função alguma se você não sinalizar a conversão. E a única que ganha com isso é a própria Hyundai, que economizou ao não instalar dois módulos de radar que geralmente vão instalados nas lanternas traseiras.
Ranços a parte, o Hyundai Creta nessa configuração de nome longo ao menos já conta freios a disco nas quatro rodas, saindo na frente de rivais de preço similar, como os Fiat Pulse ou Fastback. A suspensão do Creta é a mais convencional, com sistema McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira. Ao menos a Hyundai não se curvou à tentação de aumentar o tamanho da roda em detrimento da altura dos pneus, que têm medida 215/60 R17.
Na mecânica, nada fora do comum, com o Creta trazendo sob o capô o motor 1.0 turbo flex de três cilindros com injeção direta de combustível. Ele é capaz de entregar sempre 120 cv de potência e 17,5 kgfm de torque (a 1.500 rpm). Pelo menos o câmbio é automático mesmo, com 6 velocidades, não um CVT.
As medidas do Creta também não são o suficiente para levantar as sobrancelhas com espanto. São 4.300 mm de comprimento, 2.610 mm de entre-eixos, 1.790 mm de largura e 1.635 mm de altura. O porta-malas abriga 422 litros de bagagens é a única medida em que está acima da média da categoria superando seus principais rivais: o Jeep Renegade (320 litros) e Chevrolet Tracker (393 litros).
Mesmo beirando os R$ 170 mil, o Creta Platinum Safety Com Teto Solar deve alguns itens esperados nessa faixa de preço. Então deve ser muito bonito para vender tão bem, certo? Então, o visual atual do SUV da Hyundai nunca agradou a todos desde seu lançamento. Foi evoluindo com pequenas atualizações ao longo do tempo e, hoje, se não é belo, ao menos não ofende ninguém. Mas, como acontece com outros carros, a combinação de faróis halógenos com luzes diurnas de LED gera um resultado estranho.
A cabine, por outro lado, é uma história bem diferente. É um visual que mescla uma variedade de texturas e cores, além de as grandes telas digitais trazerem uma camada de tecnologia para a experiência. O interior do Creta é amplo, sem apertos. Ainda mais com o teto solar (o equipamento, não o nome da versão), o SUV da Hyundai parece maior por dentro do que por fora. E digo isso sabendo que o acabamento de plástico preto no painel suja com incrível facilidade. Ao menos que fica bonitinho, é o que importa não é mesmo?
O banco traseiro é uma história similar. Apesar de não ter o mesmo nível de acabamento que os ocupantes da frente podem usufruir, é amplo e confortável. Dois adultos vão sem aperto algum, com um terceiro sendo algo possível em trajetos menores. E, de fato, o porta-malas do Creta é amplo e forrado. Com os bancos traseiros baixados, conseguir levar todos os equipamentos e instrumentos de um bloco de carnaval sem muito aperto.
O interior e a usabilidade parecem ter sido o foco da Hyundai com o Creta atual. Tudo agrada aos olhos e é fácil de usar. Você pensa pouco ao dirigir. É um SUV compacto para dar partida e chegar onde você tem que ir com o mínimo de encheção de paciência. Você apenas senta, relaxa e vai.
Um pouco mais elevado que um hatch, perdoa buracos e valetas sem dar grandes trancos para os ocupantes ao mesmo tempo em que oferece uma dirigibilidade sem sustos. Não escapa muito do rolamento de carroceria em mudanças de direção, mas é inerente de qualquer SUV. Num uso típico, não compromete. Mesmo na estrada, o isolamento acústico da cabine não permite que a paz interna do Creta seja quebrada.
O motor segue um equilíbrio similar. Não é fraco, mas também não emociona. Emoção ao volante raramente é algo valorizado em um SUV, principalmente entre os compactos. Acelera o que se espera, não é gastão e, tirando que o câmbio priorizará o consumo mais do que responder ao pé do motorista, provê uma condução cômoda.
E aí se tem um pouco do segredo do sucesso do Creta. A lista de itens de série é grande, tem os equipamentos que mais saltam aos olhos dos compradores - como o teto solar - e é bem fácil de usar, ao ponto de você nem pensar muito a respeito. O SUV da Hyundai faz tudo relativamente bem aos olhos do comprador e do usuário, mas não se destaca em nada, positiva ou negativamente. Por quase R$ 170 mil, é isso que temos que aceitar? Fica o questionamento.
Em suma o Creta Platinum Safety é como um filme de comédia de grande sucesso nas bilheterias. Cumpre o que você espera sem exigir que você pense muito. Mas dificilmente levará um Oscar para casa.
Hyundai Creta
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