Sempre que publicamos testes ou comparativos de modelos na faixa dos R$ 150 mil, independente do segmento, há uma boa dose de comentários com o mesmo conteúdo: “prefiro o Virtus Exclusive”. A versão topo de linha do sedã compacto parece ter convencido bem um público que, nesta faixa de preço, poderia optar por um SUV compacto ou alguma picape intermediária de cabine dupla.
Sua receita é realmente interessante. Tem um bom pacote de equipamentos, inclusive com assistentes de condução ausentes no seu irmão, o Polo, em conjunto com um bom espaço interno, porta-malas digno dos 3-volumes e o motor 1.4 turbo com o câmbio automático. No papel é isso, mas a prática justifica toda essa atenção?
Na verdade, o Virtus Exclusive é o finado Virtus GTS. Na reestilização, trocou a sigla de esportivo nascida no Gol pela versão de luxo do Santana como uma forma de acenar a um público mais conservador que ainda quer o mais completo possível e um visual mais jovial. Para isso, o Virtus Exclusive veste suas rodas de 18” escurecidas, um pequeno spoiler traseiro e lateral, grade colmeia e os detalhes em preto pela carroceria. Sim, é algo similar ao Polo GTS.
O Virtus se tornou um modelo separado do Polo com a reestilização. Pegou os faróis fullLEDs do Nivus, assim como os faróis de neblina, e adotou um estilo diferente do hatch em praticamente todas as peças, além de receber as lanternas toda em LEDs, algo que o Polo nem sonha em receber tão cedo nessa vida. Não dá para negar que o sedã recebeu uma maior atenção na hora dessa mudança.
Por dentro, o Virtus Exclusive se diferencia pelo acabamento todo em preto no teto e colunas – como o antigo GTS -, bancos em couro preto, que mantiverem o encosto de cabeça tradicional no lugar do conjunto integrado, volante com base reta e acabamento em couro, e o acabamento com material emborrachado e costura aparente no painel, enquanto as portas (apenas as dianteiras, ressalto) usam um tecido com a mesma costura. Ainda há bastante plástico, com algumas rebarbas, e um aspecto brilhante que chega a refletir no para-brisa em dias de sol mais forte. Ainda não tem o melhor acabamento do segmento, mas já passa uma sensação melhor.
Dentro do segmento, o Virtus é, mesmo depois de alguns bons anos de mercado, o único com o painel de instrumentos totalmente digital em uma tela de 10,25", algo que ainda impacta bastante um comprador ligado em tecnologia. Ao seu lado, a central VW Play de 10,1” com espelhamentos sem fios e aplicativos nativos melhorou muito sua usabilidade desde que nasceu e, ao menos comigo, não travou. Com o Apple CarPlay, responde rápido e não cria dificuldades no dia a dia, só recomendo um cabo se precisar recarregar o smartphone com maior velocidade, já que o carregador por indução não vai muito além de apenas manter a carga.
Eu mesmo fiz o primeiro teste com o Virtus GTS em 2020. Naquele momento, o sedã já estava de olho em um antigo comprador de Jetta que ficara órfão do sedã médio com motor 1.4 turbo e, quase 4 anos depois, não me arrependi de ter o Virtus Exclusive na garagem por alguns dias. Será que é isso mesmo que o pessoal dos comentários quer dizer quando falam sobre ele?
Primeiro, o próprio Virtus como modelo é um bom sedã compacto. Muitos concorrentes chegaram desde seu lançamento em 2018, mas mesmo não vendendo como um Onix Plus, por exemplo, ainda mostra uma certa superioridade em construção. A plataforma MQB-A0 é simplificada da MQB-A1 do Jetta e Golf, mas ainda se destaca em como permite todo o conjunto do carro trabalhar.
O sedã tem 4.560 mm de comprimento, sendo 2.651 mm de entre-eixos. Foi esticado na comparação com o Polo justamente para ter um maior espaço interno no banco traseiro, um ponto de destaque principalmente para as pernas, e que ganhou saídas de ar-condicionado e duas portas USB-C para recargas de smartphones. Chega a ser melhor que alguns SUVs compactos e até médios para ocupantes adultos, só se limitando na altura pelo teto mais baixo. No porta-malas, 521 litros, um dos maiores do segmento. Ou seja, se tornou a opção para quem tem família e não quer um SUV.
Esse cliente valoriza algo que poucos seguem olhando na hora de comprar um carro: dirigibilidade. Por mais que os SUVs tenham evoluído com o passar dos anos, a sensação de um carro mais baixo e posição também mais baixa ainda é algo a se valorizar. No caso do Virtus Exclusive, dá para se posicionar mais alto com a regulagem do banco e da coluna de direção (altura e profundidade) se desejar, mas não é como um SUV ou picape.
Do antigo GTS, o Virtus Exclusive trouxe um ajuste mais firme de suspensão quando comparado aos demais da linha. Reclama ao passar por pisos mais acidentados, como aquelas ruas remendadas das grandes cidades, mas boa parte da conta fica com as rodas de 18” com os pneus 205/45, que você vai ter que ter mais cuidado na hora de encontrar um buraco mais fundo para não ter que fazer uma troca pelo estepe naquela noite de chuva e frio.
O Virtus Exclusive usa o conhecido motor 1.4 turbo flex, de 150 cv e 25,5 kgfm, tão usado nos modelos da Audi e VW por aqui há anos. Seu parceiro também é conhecido, o câmbio automático de 6 marchas, fornecido pela japonesa Aisin, que está em diversos modelos espalhados por aí em muitas marcas. Entre os compactos, é o mais potente e bate no peito se os médios quiserem brigar em números: o Sentra tem 150 cv e 20 kgfm no 2.0 aspirado, só perdendo pro Corolla 2.0 com 169/175 cv e 21,3 kgfm.
Ou seja, tenho um carro muito bom para se dirigir. O seletor de modos de condução nos dá a opção de Eco, Normal, Sport ou Individual e muda o comportamento de respostas de motor e câmbio. Mesmo no modo mais econômico, entrega força com pouco turbolag e, quando ganha pressão, cresce muito bem. Na cidade, marcou 8,2 km/litro, com etanol, ao apostar em aproveitamento de força e, na estrada, os 12,6 km/litro aparecem com uma sexta marcha relativamente longa e a mesma disposição de força nas retomadas e ultrapassagens.
Para andar mais rápido, o modo Sport coloca até um emulador de ronco pela vibração do para-brisa, como no Polo GTS, e joga as marchas com trocas mais tardias e um acelerador mais sensível, em conjunto com uma direção mais pesada e responsiva. O Normal já entrega mais força, mas só o Sport coloca a disposição tudo o que a engenharia pensou para o Virtus GTS. Desculpa. Exclusive.
O Virtus é um carro bem responsivo em curvas. A carroceria dobra pouco e há a ajuda de um vetorizador de torque, que coloca o carro para dentro da curva mesmo se você exagerar um pouco. O conjunto motor, suspensão e plataforma é digna de elogios, e além de uma boa dirigibilidade, não fez feio nos testes: 0 a 100 km/h em 8,7 segundos e retomadas na faixa dos 6 segundos estão dentro do esperado para esta potência e torque. Neste mundo, ao menos ainda valoriza ser um bom carro a quem dirige.
O pacote do Virtus Exclusive é bem completo. Além do que já citei, há chave presencial com partida por botão, ar-condicionado automático, 6 airbags, controles de tração e estabilidade, piloto automático adaptativo, alerta de colisão com frenagem automática, detector de fadiga, freio a disco nas quatro rodas, retrovisores com rebatimento elétrico, sensor de chuva e luz e, no preço de R$ 150.990, as três primeiras revisões grátis.
Dentro da VW, esse preço te dará um T-Cross Comfortline com motor 1.0 turbo e menos equipado pagando R$ 158.990, ou o Polo GTS com um conjunto parecido, mas menos equipamentos, por R$ 149.990, ou uma Chevrolet Montana Premier por R$ 150.840 se quiser uma picape. O que pode te deixar em dúvida é um Nissan Sentra Advance, por R$ 149.990, em um porte maior e não tão menos equipado que o Virtus.
Dá para entender todo esse barulho sobre o Virtus Exclusive. Não é o mais vendido do segmento, mas para um cliente nesta faixa de preço, tem um conjunto interessante de motor, câmbio, dinâmica e equipamentos, apesar de ainda ter pecados de compactos, como o acabamento cheio de plásticos. É, aqui está o queridinho dos R$ 150 mil.
VW Virtus Exclusive 250TSI
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