A atual geração do Peugeot 208 chegou em um momento complicado, bem no meio da pandemia e nas vésperas da criação da Stellantis, que juntou as antigas FCA e PSA. O resultado foi que o hatch, importado da Argentina, estreou apenas com o veterano motor 1.6 16V aspirado em tempos onde turbo e injeção direta de combustível já se tornavam regra.

A Peugeot fez o que pôde nos últimos anos e o 208 já se beneficiou da Stellantis com a introdução das versões de entrada 1.0 Firefly da Fiat. Com a introdução da linha 2024, elas permaneceram, assim como as 1.6, que em breve terão a companhia do motor turbo. A explicação para isso é que o 1.6 ainda pode ter seu público entre os que preferem longevidade no longo prazo a desempenho bruto. Testamos aqui o 208 Roadtrip 1.6 automático 2024, de R$ 105.990, para ver se vale a pena se manter aqui ou esperar a chegada do motor 1.0 turbo.

Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT6 2024

Roadtrip: série especial com algo a mais

A versão Roadtrip do 208 surgiu como série especial, mas a Peugeot a manteve na linha 2024 como uma versão definitiva. É o Peugeot 208 mais completo que você pode comprar com o motor 1.6, que também está na versão Active de R$ 104.790, mais barata e com menos equipamentos, principalmente visuais.

Você pode até encrencar com o motor 1.6, mas não com a lista de itens de série do 208 Roadtrip. Ele já traz 4 airbags, controle de tração e estabilidade, controle de cruzeiro, limitador de velocidade, teto panorâmico, câmera de ré, multimídia com tela de 10,3", Android Auto e Apple Car Play sem fio, carregador de celular por indução, painel digital com efeito tridimensional, faróis de LEDs, volante multifuncional com ajuste de altura e profundidade e rodas de 16". O ar-condicionado é digital, mas não é automático e falaremos mais dele a seguir.

Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT6 2024

O 208 Roadtrip ainda tem algumas exclusividades, como adesivos alusivos à versão no aerofólio e abaixo dos espelhos, tapetes de carpete exclusivos e bancos com revestimento mesclando couro, veludo e tecido, também recebendo pequenas etiquetas destacadas com o nome da versão.

O que não muda é a mecânica. Embaixo do capô encontramos o velho conhecido propulsor EC5 ainda utilizado em modelos como os Citroën C4 Cactus e C3, além do Peugeot 2008. Trata-se de um 1.6 16V flex aspirado, e só. Sem turbo, sem injeção direta e sem nada que não tenhamos visto na última década, foi atualizado para a atual regra de emissões Proconve L7.

Com isso, entrega até 120 cv de potência e 15,7 kgfm de torque quando abastecido com etanol. Os números com gasolina, combustível que abastecia a unidade testada, caem para 113 cv e 15,4 kgfm. Hoje, o 208 1.6 é oferecido unicamente com a transmissão automática de seis velocidades.

Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT6 2024

Com um projeto legitimamente europeu, o Peugeot 208 nunca passou pela fase de crescimento forçado, como aconteceu com Chevrolet Onix e Volkswagen Polo. São 4.055 mm de comprimento e 2.538 mm de entre-eixos. O porta-malas também leva apenas 265 litros de bagagens, sendo um dos menores entre os rivais diretos e menor até que de um Renault Kwid, que tem 290 litros, consequência de ter sido pensado como carro urbano europeu e não como praticamente um carro de família dentro da realidade brasileira.

Argumento antigo, mas válido

A crítica ao Peugeot 208 1.6 é a mesma desde o lançamento da atual geração: baixo desempenho. Com um 0 a 100 km/h em 12,6 segundos em nossos testes, sair correndo não é mesmo o negócio do hatch. As atualizações para o atual Proconve deixaram nítido que a fabricante aplicou uma nova calibração ao câmbio e não foi para o bem, pois ele está dando mais trancos - principalmente na fase fria do motor - e as trocas de marcha ficaram mais perceptíveis.

Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT6 2024

A transmissão ainda conta com os modos Eco e Sport, herança de outros tempos do carro. Por mais estranho que soe, o Eco suaviza as trocas de marcha. Ele também adianta as trocas para cima e atrasa as redução em nome de manter a rotação baixa e reduzir o consumo. O Sport simplesmente faz o oposto para tentar extrair o máximo do motor 1.6.

A questão é que o Peugeot 208 com o motor 1.6 aspirado não é um carro lento. O problema é que os rivais já foram para o turbo, que entrega força mais cedo e deixa as acelerações e retomadas mais ágeis. Andando civilizadamente na cidade, a diferença real não é tão grande. Retomada na estrada com o carro cheio, vai levar um pouco mais de tempo e planejamento, mas ainda tem amplamente mais fôlego que um 1.0 de entrada.

Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT6 2024

Se por um lado não anda que nem um turbo, por outro, o consumo não fica devendo. Foram 9,6 km/l com gasolina em ciclo urbano intenso, com muito trânsito, subidas e ar-condicionado ligado sempre. Na estrada, vieram surpreendentes 15,6 km/l.

Mas uma coisa fica clara: a plataforma CMP do Peugeot 208 dá conta de muito mais do que o antigo 1.6 pode oferecer. Mais curto e com um volante pequeno, o hatch tem uma desenvoltura exemplar em curvas, além de muito silencioso na cabine. Em dirigibilidade, apenas o Volkswagen Polo consegue entregar uma experiência similar e ainda assim é um carro que aparenta ser mais pesado na mão. O tamanho menor do 208 frente aos rivais também facilitam as manobras e nos momentos de estacionar.

Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT6 2024

A cabine também se beneficia do projeto mais recente. Como é praxe no segmento, traz plástico para todos os lados, mas com boa montagem e mistura de texturas para disfarçar a aparência. No geral, é uma cabine que acomoda bem o motorista, com painel e comandos envolvendo o motorista.

Mas também há o outro lado. A natureza compacta do 208 tem como consequência um banco traseiro com menos espaço. Para quem tem cerca de 1,70 m de altura, vai com as pernas justas contra os bancos dianteiros. Mais que isso já aperta os passageiros traseiros. O espaço para a cabeça também é apenas ok, enquanto para os ombros...digamos apenas que você não vai querer levar mais que duas pessoas no banco traseiro.

Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT6 2024

Falando em pequenas mancadas, esperava que o Peugeot 208 ao menos tivesse uma melhor modularidade do bagageiro, já que é um porta-malas pequeno. O banco traseiro rebate, mas não repartido. Então você escolhe entre levar passageiros ou bagagem, não tem meio termo. E ainda é preciso dizer que o jogo de ferramentas e o triângulo vão ocupando o pouco espaço no assoalho do bagageiro.

Seguindo nessa linha, o 208 na versão Roadtrip já tem a multimídia com tela de 10,3 polegadas. Nada contra ela, é relativamente rápida de respostas tem bons gráficos. Mas para acessar os menus à direita da tela, onde estão os atalhos para Android Auto, rádio, página inicial e ar-condicionado, o motorista precisa se esticar. Falando em ar-condicionado, ele é digital, mas não é automático.

Peugeot 208 Roadtrip 1.6 AT6 2024

Ficar acertando temperatura e velocidade do ventilador com toques na tela é tarefa difícil e distrativa. Colocaram na tela algo que funcionava muito melhor com os antigos botões físicos. O painel digital tridimensional ainda invoca uma modernidade extra, sendo que você pode escolher algumas formas de ver o que está ali.

O Peugeot 208 1.6 sempre foi e sempre será assolado pelos seus dois opostos. De um lado é moderno, bem feito, confortável e bonito. De outro, é pequeno e o desempenho é somente ok. Mas, para quem ainda desconfia de motores três cilindros, turbo ou com injeção direta de combustível (ou os 3 elementos juntos), é uma das últimas opções realmente simples para quem quer um carro 0km pensando em mantê-lo na garagem por muito tempo. Afinal, o que não tem, não quebra.

Resta saber por quanto tempo o 1.6 permanecerá entre nós. O motor já pode contar seu tempo de vida em décadas e a Peugeot está cada vez mais se aproveitando dos propulsores modernos dentro do Grupo Stellantis. Pode ser que a chegada do turbo enterre o 1.6, pode ser que ele dure até a nova fase do Proconve (que entra em vigor em 2025). Como está hoje, o 208 1.6 Roadtrip automático é um carro de fato compacto, com bom consumo e pacote completo pelo preço, ainda que deva em desempenho na comparação com rivais no mesmo preço.

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Peugeot 208 1.6 AT6

Motor dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.587 cm3, comando variável na admissão, flex
Potência e torque 120/113 cv a 6.000 rpm / 15,7 kgfm a 4.500 rpm (E) 15,4 kgfm a 4.250
Transmissão automático de 6 marchas, tração dianteira
Suspensão McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira; liga leve aro 16" com pneus 195/55 R16
Comprimento e entre-eixos 4.055 mm; 2.538 mm
Largura 1.738 mm
Altura 1.453 mm
Capacidades tanque 47 litros; porta-malas 265 litros
Peso 1.177 kg
Preço como testado R$ 105.990
Aceleração 0 a 60 km/h: 5,7 s; 0 a 80 km/h: 8,8 s; 0 a 100 km/h: 12,6 s
Retomada 40 a 100 km/h (em S): 9,0 s; 80 a 120 km/h (em S): 8,9 s
Consumo de combustível cidade: 9,6 km/litro; estrada: 15,6 km/litro (gasolina)
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