As medidas do governo para tentar reacender a chama do carro popular tiveram um sucesso parcial. Os R$ 800 milhões em renúncia fiscal podem não ter impedido que a indústria automotiva precisasse colocar o pé no freio e reduzir a produção, mas mostrou que, pelo preço certo, ainda há bastante interesse em carros de entrada.
Seja por demandas de lei ou do comprador, mesmo os modelos mais básicos estão muito caros. Tanto que modelos verdadeiramente de entrada podem ser contados nos dedos das mãos. Aqui, testamos o Renault Kwid Outsider, o Citroën C3 Feel 1.0 e o Volkswagen Polo Track, representando três faces diferentes dos carros populares atuais. Mas, independente de qual seja sua escolha, você vai ter que abrir mão de alguma coisa.
O Renault Kwid desembarcou no mercado brasileiro em 2017 e, de lá para cá, já ganhou alguma experiência. Desde a reestilização no ano passado, o subcompacto evoluiu, com visual mais bem trabalhado e seu uso não inspira mais a desconfiança de se estar dirigindo um carro frágil. Custando a partir de R$ 74.990 na versão Outsider, é um dos mais completos neste comparativo.
A configuração já traz alguns itens além do novo básico, ou seja, vai além de ar-condicionado, direção assistida e vidros dianteiros e travas elétricas. O Kwid Outsider tem controle de estabilidade, assistente de partida em rampa, 4 airbags, luz diurna de LED, rodas de liga leve de 14", ajuste elétrico para os retrovisores, start-stop, uma nova multimídia com tela de 8" com Android Auto e Apple Car Play e até uma câmera de ré para auxiliar nas manobras.
Entre seus pontos positivos, o Kwid é leve, fácil de conduzir por conta das dimensões reduzidas e tem um porta-malas relativamente grande para o seu porte, com 290 litros. Os engates do câmbio também agradam, mas apenas por não serem imprecisas. Sua leveza também levou o carro a obter bons números de desempenho e consumo, que você pode ver nas tabelas abaixo.
Mas a origem humilde e seu porte diminuto impõem limitações. Por exemplo, a carroceria é a mais estreita do comparativo, então 3 passageiros no banco traseiro é um aperto. Motoristas maiores também vão andar com o ombro raspando na coluna B. Há apenas um porta-copos grande no console central e os bolsos de porta são intrusivos e pegam na canela do motorista e não há um quarto pedal para descansar a perna esquerda.
A dirigibilidade também não é das melhores. No modelo original, o Kwid conseguia ser duro nos buracos e mole na hora de fazer curvas. Hoje, os pavimentos ruins já não incomodam tanto, mas mudar de direção rapidamente ou frear bruscamente faz a carroceria se mover mais que o esperado. Se ele custasse os mesmos R$ 29.990 de 2017, daria para perdoar. Por mais de R$ 70 mil, não.
Conclusão - Comprar um Kwid 0km, ainda mais na versão Outsider, é entender que você quer um carro 0km acima de tudo, gastando o mínimo possível com o maior número de equipamentos que o seu (pouco) dinheiro pode comprar.
POTÊNCIA/TORQUE |
68/71 cv a 5.500 rpm; 9,4/10 kgfm a 4.250 rpm |
DIMENSÕES | comprimento 3.981 mm, largura 1.733 mm, altura 1.604 mm, entre-eixos 2.540 mm |
PORTA-MALAS | 290 litros |
CONSUMO URBANO | 11,2 km/l (etanol) |
O Citroën C3 é mais novo neste trio. Talvez por isso, foi o único que chamou a atenção por onde passou. Seu porte lembra o que foi o finado Fiat Uno: quadrado arredondado com um bom aproveitamento de espaço. Além disso, pode fazer sucesso com sua posição elevada de dirigir, mais até que no Kwid. Como os colegas com filhos na redação apontaram, o C3 tem uma boa abertura de portas, é alto e o assento é elevado, sendo o mais fácil pra tirar e colocar crianças no banco traseiro, ou suas respectivas cadeirinhas.
De série, o C3 na versão Feel (R$ 83.990) parte de onde o Kwid mais completo ficou e acrescenta itens como a tela de horizontal de 10 polegadas para a multimídia, vidros elétricos traseiros, saídas USB para os passageiros de trás, alarme e ajuste de altura para o banco do motorista e volante. A central merece destaque: bastante visível e bem posicionada, mantém teclas de acesso rápido para outras funções mesmo quando usando o Android Auto ou Apple CarPlay, sendo muito fácil de utilizar.
Mas o elogio à lista de equipamentos encontra obstáculos práticos. Os vidros elétricos traseiros, por exemplo, têm os botões de comando no final do console central, quase no banco traseiro. E são apenas dois, não há redundância: motorista e passageiros acionam os vidros pelos mesmos botões mal-posicionados.
Sendo uma das versões mais caras ainda com o motor 1.0, faz falta um sensor de estacionamento traseiro ou câmera de ré, além de oferecer somente os dois airbags dianteiros obrigatórios por lei. Ainda mais que a linha de cintura da carroceria é alta e a janela traseira é pequena. Para manobrar, vai ter que calibrar a noção de espaço. Ainda neste tema, chama a atenção a chave do C3, do tipo fixa como nos carros de décadas atrás.
O motor 1.0 do C3, que na verdade é da Fiat e já equipou o próprio Uno, vai bem no carro da Citroën. O carro teve um consumo bom, mas sendo mais de 200 kg mais pesado que o Kwid, não é tão esperto na tocada. O câmbio também não é muito preciso, exige tempo para concluir os engates e, se você fizer as trocas rápido de mais, vai arranhar marcha. E sim, o C3 mantém a característica marcha ré que engata arranhando de vez em quando, como nos carros da Fiat.
Ao menos sua dinâmica de condução é bem equilibrada. Absorve bem buracos e lombadas, mas quando encara uma curva, tem respostas que inspiram confiança. Sua carroceria é mais estável, mas não refinada. Como o C3 não tem o start-stop, a trepidação natural do motor de três cilindros é sentida no assoalho do motorista. Com o tempo, fica incômodo. Da mesma forma, o isolamento acústico poderia ser melhor, pois o ruído de rolagem é bastante perceptível dentro do carro, principalmente em estradas.
Conclusão: O Citroën C3 seria a melhor opção para quem tem dinheiro apenas para um Kwid, mas precisa de um carro com espaço decente para levar a família, ainda que abrindo mão de equipamentos. No entanto, o resultado do recente teste de impacto do Latin NCap, onde o C3 levou nota zero, torna essa proposta mais difícil. A entidade ainda apontou especificamente que o Isofix do Citroën não permitiu a instalação de todas as cadeirinhas infantis avaliadas, apenas algumas.
POTÊNCIA/TORQUE |
71/75 cv a 6.000 rpm; 10 kgfm a 4.250 rpm/10,7 kgfm a 3.250 rpm |
DIMENSÕES | comprimento 3.981 mm, largura 1.733 mm, altura 1.604 mm, entre-eixos 2.540 mm |
PORTA-MALAS | 315 litros |
CONSUMO URBANO | 10,5 km/l (etanol) |
Não tem muito como contornar o fato de que o Volkswagen Polo Track é um substituto do Gol que custa R$ 84.690, ainda mais considerando que é o único aqui que não tem central multimídia. Até o recente lançamento da linha 2024, o hatch tinha até o rádio Bluetooth como opcional. Aqui, nada de sensores de ré, luz diurna de LED, vidro elétrico traseiro ou rodas de liga leve. O Polo Track é um carro básico literal.
O hatch de entrada da Volkswagen, no entanto, mostra que a marca priorizou outras coisas. Além de 4 airbags e controle de estabilidade com assistente de partida em rampa, traz bloqueio eletrônico de diferencial para melhorar a estabilidade. Sua cabine é a mais bem acabada e com melhor isolamento acústico dos três.
A cabine é larga, mas não é alta, com o Polo sendo maior em todas as medidas, exceto altura. Você conduz em uma posição mais convencional e baixa. Porém, é o que tem o melhor acabamento em termos de materiais e montagem, ainda que não tenha ousadia alguma. Fica claro que o Polo Track era um carro de categoria superior que foi simplificado. Um exemplo está nas tomadas USB do console central: já são do tipo C e possuem iluminação para facilitar o uso, mesmo que o carro não tenha multimídia.
A dinâmica de condução do Polo Track é a melhor de qualquer carro de entrada atualmente. Foi o que melhor atingiu um equilíbrio ideal entre conforto e e segurança. Mais baixo, o Polo se comporta em curvas como um carro de categoria superior, seguro e controlado independente da situação.
Seu motor 1.0 também é o mais refinado, sem vibrações perceptíveis, e o isolamento acústico é o melhor do trio. No entanto, não foi tão econômico e ficou para trás nos números de desempenho. Mas é o único que faz alguma menção a prazer ao dirigir, com engates justos e leves, além de um pedal de freio que inspira mais confiança que nos rivais.
Conclusão - Se você quer um carro de entrada, com ênfase na palavra carro, o Polo Track é o melhor. Mas você vai ter que desembolsar a maior quantidade de dinheiro pelo carro com menos itens de comodidade em troca de uma qualidade superior.
POTÊNCIA/TORQUE |
77/84 cv a 6.450 rpm; Torque: 9,6 kgfm a 4.000 rpm/10,3 kgfm a 3.000 rpm |
DIMENSÕES | comprimento 4.074 mm, largura 1.751 mm, altura 1.471 mm, entre-eixos 2.566 mm |
PORTA-MALAS | 300 litros |
CONSUMO URBANO | 8,2 km/l (etanol) |
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Citroën C3 Feel 1.0 | Renault Kwid Outsider 1.0 | Volkswagen Polo Track 1.0 | |
MOTOR |
dianteiro, transversal, três cilindros, 6 válvulas, 999 cm3, comando simples variável, flex
|
dianteiro, transversal, 3 cilindros, 12 válvulas, 999 cm3, comando duplo sem variador, flex |
dianteiro, transversal, 3 cilindros, 12 válvulas, 999 cm3, comando duplo com variador na admissão, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
71/75 cv a 6.000 rpm; 10 kgfm a 4.250 rpm/10,7 kgfm a 3.250 rpm |
68/71 cv a 5.500 rpm; 9,4/10 kgfm a 4.250 rpm |
77/84 cv a 6.450 rpm; Torque: 9,6 kgfm a 4.000 rpm/10,3 kgfm a 3.000 rpm |
TRANSMISSÃO |
manual de 5 marchas; tração dianteira |
manual de 5 marchas; tração dianteira |
manual de 5 marchas; tração dianteira
|
SUSPENSÃO |
McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira | McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | rodas de 15" com pneus 195/60 R15 | rodas de 14" com pneus 165/70 R14 | Rodas de 15" com pneus 185/65 R15 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira |
PESO |
1.056 kg em ordem de marcha |
825 kg em ordem de marcha |
1.054 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 3.981 mm, largura 1.733 mm, altura 1.604 mm, entre-eixos 2.540 mm | comprimento 3.680 mm, largura 1.579 mm, altura 1.479 mm, entre-eixos 2.423 mm | comprimento 4.074 mm, largura 1.751 mm, altura 1.471 mm, entre-eixos 2.566 mm |
CAPACIDADES |
tanque: 47 litros; porta-malas: 315 litros |
tanque: 38 litros; porta-malas: 290 litros |
tanque 52 litros, porta-malas 300 litros |
PREÇO | R$ 83.990 (Feel 1.0) | R$ 74.990 (Outsider) | R$ 84.690 (Polo Track) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (combustível: etanol) | ||||
---|---|---|---|---|
Citroën C3 1.0 | Renault Kwid 1.0 | VW Polo Track 1.0 | ||
Aceleração | ||||
0 a 60 km/h | 6,3 s | 5,2 s | 6,7 s | |
0 a 80 km/h | 10,6 s | 9,0 s |
11,3 s |
|
0 a 100 km/h |
16,1 s |
13,5 s | 16,8 s | |
Retomada | ||||
40 a 100 km/h em 3ª | 14,2 s | 12,6 s | 14,5 s | |
80 a 120 km/h em 4ª | 18,6 s | 13,5 s | 20,4 s | |
Consumo | ||||
Ciclo cidade | 10,5 km/l | 11,2 km/l | 8,2 km/l | |
Ciclo estrada | 13,5 km/l | 12,0 km/l |
12,0 km/l |
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