Teste Ram 1500 Classic: um V8 vale mais que uma Toyota Hilux
Fugir das médias com motor turbodiesel por uma picape maior e mais potente é algo que recomendamos, dependendo do seu uso
O tempo está mostrando que a dominância econômica dos Estados Unidos está exibindo algumas rachaduras, mas ainda tem uma coisa que eles sabem fazer como ninguém além de fast food. São as picapes grandes, daquelas que dá até gosto de chamar de caminhonete mesmo. E, se você quer um gostinho dessa brincadeira, não tem nada mais barato no Brasil que a Ram 1500 Classic Laramie.
Ela junta tudo o que combina com esse arquétipo: é grande, cheia dos cromados e, claro, tem um enorme V8 a gasolina. Diesel nos EUA é algo mais reservado para caminhões ou para as picapes da série Heavy Duty, como as próprias Ram 2500 e 3500 oferecidas no Brasil. Por lá, são vistas como carros de trabalho, algo como um "Uno com escada no teto".
Só que, assim como o pais, não é a última palavra de modernidade em todos os aspectos. A Ram 1500 Classic é equivalente à geração anterior da picape, que mudou em 2019, e a nova safra é representada aqui pelas Ram 1500 Rebel e, futuramente, pela Ram 1500 Limited. Seria algo como Fiat Palio e Palio Fire: mesmo nome, mas gerações diferentes convivendo. E quanto custa uma Ram 1500 Classic Laramie? Não sai por menos de R$ 349.990. É pouco a mais que o cobrado em uma Toyota Hilux completa a diesel, mas pagar um extra para ter o V8 e um pedaço da cultura estadounidense vale a pena?
O que a Ram 1500 Classic Laramie oferece?
Em 2019, a Ram apresentou a quinta geração de suas picapes nos Estados Unidos. A quarta geração segue a venda como Classic, a porta de entrada da marca, com diversas opções de cabine, caçamba e motorizações. Para o Brasil, a 1500 Classic chegou apenas com cabine dupla e o motor V8 Hemi, o conhecido 5.7 aspirado com 400 cv e 56,7 kgfm de torque, o mesmo da 1500 Rebel. O câmbio é automático de 8 marchas com tração 4x4 e caixa de redução.
Com 5.816 mm de comprimento, a 1500 Classic é menor que suas irmãs, mas já é 455 mm maior que a Chevrolet S10, a maior das médias nessa medida. Ela ainda pode ser dirigida por habilitados B, como a Rebel, mesmo que seja necessário um pouco de adaptação a esse tamanho nas ruas. Com 3.570 mm de entreeixos, 2.017 mm de largura e 1.970 mm de altura, traz um porte de fato grande.
Por dentro, chega ao Brasil com um pacote completo, com painel de instrumentos com tela de 7" para computador de bordo bem completo em informações, sistema multimídia com tela de 8,4" com Apple CarPlay e Android Auto (com fios), bancos elétricos com aquecimento e ar-condicionado de duas zonas, além de outros itens, mas a coluna de direção não tem regulagem de profundidade e também não existem assistentes de condução ou faróis com LEDs.
A Classic chegou com um bom acabamento e até mesmo um ajuste elétricos dos pedais, mas o que mais chama a atenção é o amplo espaço interno, principalmente no banco traseiro, o que nos leva a acreditar que seu forte será fazer longas viagens sem faltar conforto para qualquer ocupante, algo que as médias ainda ficam devendo apesar de seu tamanho. O banco traseiro pode ser recolhido e transformar a parte traseira da Ram Classic em um grande porta-malas de piso plano.
Como acontece em picapes norte-americanas, seu forte não é capacidade de carga. Na ampla caçamba de 1.424 litros, pode levar apenas 531 kg em uma ampla área com revestimento anti-riscos. Porém, consegue rebocar 3.354 kg sem dificuldade, inclusive com modo para essa função. É algo bem comum nos Estados Unidos esse tipo de coisa.
A Ram 1500 Classic Laramie tem ainda no pacote de equipamentos o sistema de som assinado pela Alpine, câmera de ré, chave presencial com partida remota, lanternas em LEDs, 6 airbags e assistente para reboque e estabilização do trailer.
Nem tudo é trabalho
As grandes picapes dos EUA podem até terem nascido como ferramentas de trabalho, mas é admirável a guinada que elas deram em direção ao luxo e ao conforto nas últimas décadas. E aqui vou ser bem sincero: se você usa a picape para o trabalho ou acumula milhares de quilômetros todos os meses, uma Toyota Hilux fará mais sentido. Em todas as outras situações, a 1500 Classic cativa muito mais.
A começar pelo visual. Particularmente, não gosto de carros grandes. Mas não consigo apontar nada na picape da Ram que não deveria estar lá do jeito que está. Até mesmo sabendo que uma geração anterior, a 1500 Classic é bem resolvida e agrada aos olhos. A quantidade de cromados está na medida para não parecer exagero e as proporções estão todas equilibradas.
Mas é por dentro que a Ram 1500 Classic Laramie mais surpreende. Se você já entrou em uma picape média tradicional topo de linha, vai se sentir em um Mercedes-Benz Classe S ao entrar na Ram. Abundância de couro e madeira nos acabamentos, cabine espaçosa, bancos enormes e até um conveniente ajuste elétrico para os pedais ajudam a tornar a convivência mais confortável. Junte a isso bancos ventilados e comandos leves e você vai até esquecer que existem picapes médias enquanto pensa o motivo de não existirem mais picapes assim.
Esse é um tema recorrente em todos os produtos da Ram no Brasil, pelo menos até o momento. Elas trazem para o segmento de picapes todo o luxo de SUVs e grandes sedãs, mas sem perder a praticidade da caçamba. Quando a nova Ram nacional chegar, pode ser que isso mude, pois suas origens serão mais humildes. No entanto, a marca já afirmou que será a picape mais rápida fabricada no Brasil.
Dirigindo, o longo entre-eixos ameniza as características quicadas das picapes com caçamba vazia. Os assentos com mais de um palmo de espuma também ajudam. Mas também vale dizer que os bancos foram feitos para estadunidenses médios, que são bem maiores do que meus 1,72 m de 69 kg. Ou seja, sobrou banco para mim e vai sobrar para boa parte dos brasileiros que puderem comprar.
Falando em sobrar, também há um amplo espaço para os passageiros no banco traseiro. E lá não há dois compromissos de picapes médias: assoalho alto deixando os joelhos dobrados, ou encosto muito vertical não são problemas na Ram 1500 Classic. Sobra espaço para cabeça, ombros e joelhos. Além, claro, de se poder erguer o assento e transformar todo esse espaço num bagageiro, caso não queira usar a caçamba.
Mas a 1500 Classic não é mais barata que as 1500 novas por acaso. Você perde algumas coisas. Entre elas estão a tela da central multimídia menor e a ausência de itens como sensor de estacionamento dianteiro e câmeras com visão de 360 graus. Como vocês podem se lembrar, já testei a Ram 3500 com tais equipamentos e, mesmo maior, era mais fácil de manobrar que a 1500 por conta dos auxílios.
Mas nada que uma boa pisada no acelerador não faça você esquecer disso. Dirigir um V8 a gasolina é uma experiência que recomendo a todos enquanto eles existem. A desenvoltura do 5.7 puxando as mais de duas toneladas e meia da picape é algo impressionante. Fora o ronco, que esse sim não tem comparação. É coisa de filme dos EUA mesmo. Em nossos testes, a 1500 Classic cravou um 0 a 100 km/h de 7,5 segundos, nada mal para o seu peso e um motor que já não é o mais moderno V8 do mercado.
Enquanto isso, o câmbio de 8 marchas cumpre o seu papel sem trancos. Mas ele tenderá a manter a relação atual e resolver o problema jogando mais de 56 quilos de torque no problema antes de dar o braço a torcer e reduzir a marcha. A Ram ainda equipou o V8 com um sistema "eco", que desliga alguns cilindros em situações de pouca exigência do motor.
O resultado não poderia ser mais irônico: 4,25 km/l no uso urbano. Desastroso num país onde a gasolina sai por mais de R$ 5 o litro, mas considerado ok nos EUA onde combustível sempre foi barato. Na estrada, melhora, mas ainda assim são apenas 8,69 km/l e nem o tanque de 98 litros vai te ajudar na autonomia. Picape grande e pesada com muito desempenho pode fazer vários milagres, mas driblar a física não é um deles.
Aqui fica uma conclusão óbvia: o custo benefício de qualquer picape média a diesel vai ser melhor no longo prazo. Porém, novamente, a Ram tem um produto que se presta a fazer o que ninguém mais faz: unir luxo e conforto de carros premium com desempenho e experiência de um digno V8 americano. E, nesse preço, não há nada igual. As Toyota Hilux e companhia daqui ainda precisam comer muito hambúrguer com batata frita e Coca-Cola para se equiparar.
Ram 1500 Classic
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