Quando começou a desenvolver o Creta, a Hyundai provavelmente olhou bastante para o Honda HR-V, que já estava no mercado global há mais tempo. Filhos de marcas orientais, os SUVs compactos carregam muito em comum, como projeto pensado em espaço interno, uso familiar e bastante conforto. E agora, ambos estão em novas gerações.
Aproveitando que o Honda HR-V chegou ao Brasil em sua geração renovada, o colocamos ao lado do Hyundai Creta, que mudou há cerca de um ano, em versões bastante procuradas com preços na faixa dos R$ 150 mil. De um lado, o HR-V EXL, a mais cara com o motor 1.5 aspirado, e o Creta Platinum, o intermediário com o 1.0 turbo, abaixo apenas da esportivada N-Line. Qual oriental levar para casa? Japonês ou sul-coreano?
Ainda não acredita que HR-V e Creta foram pensados para brigar um com o outro? Olhe para a ficha técnica dos SUVs compactos e compare as medidas. Em comprimento, exatos 30 mm de diferença de vantagem para o Honda, mas os mesmos 2.610 mm de entre-eixos e 1.790 mm de largura, pontos que interferem no espaço interno - o Hyundai é mais alto, com 1.653 mm contra os 1.590 mm da nova geração do Honda, que ficou mais baixo.
Aos que procuram um SUV com a proposta um pouco mais familiar, é uma dupla que não pode ser desconsiderada de jeito nenhum. Nos dois bancos dianteiros, há um console central dividindo a área, mesmo que o Honda tenha perdido a peça bem alta que tinha na geração anterior. Os bancos não são pequenos, sendo que o Hyundai usa uma espuma com densidade mais voltada ao conforto, enquanto o Honda te abraça mais, mas cansa mais rapidamente com uma espuma densa.
Já no banco traseiro temos algumas diferenças. O Creta coloca os ocupantes mais altos e bem acomodados em pernas, cabeça e ombros, oferecendo a saída de ar-condicionado central e uma porta USB para recarga de smartphones. O HR-V dá um piso central mais plano, bom para um terceiro ocupante que já terá limitação de ombros em ambos, e duas portas USB. Por outro lado, a altura reduzida do HR-V incomoda os mais altos, apesar do trabalho da Honda para tirar essa diferença nos ângulos de assento e encosto.
No porta-malas, uma das grandes críticas dessa nova geração do Honda HR-V foi a redução de capacidade de 437 para 354 litros. Comparado ao Creta, com seus 422 litros, é uma diferença considerável e que pode ser um ponto de decisão para um comprador. O Honda rebate com o Magic Seat, arquitetura do banco traseiro que permite diversas configurações para levar objetos maiores, como já oferecia na geração anterior e é uma característica dessa plataforma.
Em um quesito bastante importante nesse segmento, o Honda HR-V até cresceu um pouco para acomodar melhor principalmente os ocupantes traseiros e nisso eles são bem parecidos, um empate. Ao tirar capacidade do porta-malas do Honda, é complicado não dar a vitória ao Creta, mesmo que o seu oponente ofereça o Magic Seat, algo útil, mas que será utilizado com menor frequencia que o porta-malas em si.
Vantagem: Hyundai Creta
As versões aqui comparadas não são de entrada e, muito menos, baratas. Já perto dos R$ 150 mil, precisam jogar onde podem para oferecer mais ao comprador para o convencer na hora de assinar o cheque - ou o contrato do financiamento. Hyundai Creta Platinum e Honda HR-V EXL fazem o velho jogo de perde e ganha entre si.
O Hyundai Creta Platinum já foi o mais completo com o motor 1.0 turbo no catálogo. Isso mudou com a chegada do N-Line, que custa R$ 160.890 e tem itens ausentes na Platinum como os faróis de LEDs e alguns assistentes de condução. E é justamente aqui que o Honda HR-V EXL quer se diferenciar, com mais tecnologias a favor do motorista.
Já fizemos essa crítica sobre o Creta Platinum. É uma versão posicionada em uma faixa alta de preço e não oferece nenhum assistente ativo de segurança, como alerta de colisão com frenagem automática ou assistente de faixas. Também faz falta, comparado ao HR-V EXL, os faróis em LEDs, deixando para si apenas as luzes diurnas e lanternas em LEDs e lâmpadas halógenas em projetores, algo que até mesmo carros mais baratos estão abandonando.
Fora isso, os pacotes de equipamentos são bem semelhantes. Chave presencial com partida por botão, ar-condicionado automático, bancos em couro, freio de estacionamento automático com função autohold em trânsito, controles de tração e estabilidade e 6 airbags, destacando os principais. O Creta oferece ventilação para o banco do motorista, câmeras 360 e partida remota como extras, assim como a opção de teto-solar.
Sobre o acabamento, precisamos dividir entre qualidade e design. O Hyundai Creta é polêmico no visual externo, mas é um dos mais interessantes por dentro. Evoluiu muito do anterior e, nessa versão, usa o console central largo para separar dois ambientes - o próprio HR-V fazia isso na geração anterior. A versão Platinum traz o couro marrom, assim como diversos acabamentos, e dá um ar mais requintado. O painel de instrumentos mistura uma tela de 7" de alta resolução, com direito a mostrar imagens das câmeras laterais ao dar a seta, com dois elementos analógicos para conta-giros e a dupla nível de combustível e temperatura do motor.
Passa uma sensação de maior refino que o Honda. Ambos usam plástico rígido em boa parte da composição com pontos em couro, como no HR-V no acabamento das portas, enquanto o Creta coloca o material onde o braço toca. A tela de 10" do Hyundai cria um ambiente mais bonito que a tela de 8" elevada do HR-V, que dá um troco com detalhe cromado perto da alavanca do câmbio e botões de ar-condicionado mais refinados. O HR-V aliás não tem painel totalmente digital, apenas uma tela central de 4,2" acompanhada de velocímetro e conta-giros analógicos, e a câmera lateral direita exibida na tela central. No jogo de perde e ganha, empate.
Vantagem: empate
A Honda foi bem audaciosa ao colocar o Honda Sensing em todas as versões do novo HR-V. Piloto automático adaptativo, alerta de colisão com frenagem automática, assistente de faixa com centralização ativa e farol-alto automático o diferenciam desde a versão básica até a topo, quando saírem com o motor 1.5 turbo. O Creta Platinum se limita a câmera 360 e os já básicos 6 airbags e controles de tração e estabilidade com assistente de partida em rampas.
Em conectividade, o Creta chega com a tela de 10", GPS nativo e espelhamento Apple CarPlay e Android Auto com fios - curiosamente, as versões com a tela menor tem o espelhamento sem fios. O HR-V tem o espelhamento sem a necessidade de ligação física, mas em uma tela de 8" de resolução inferior. Mas isso não é suficiente para tirar o brilho dos equipamentos de segurança do Honda.
Vantagem: Honda HR-V
Dois SUVs compactos nascidos pensando no conforto, boa construção, qualidade de rodagem e que agrada o perfil de clientes do segmento. Temos uma boa briga entre HR-V e Creta desde suas gerações anteriores e não seria diferente neste novo embate. Chega a ser achar detalhes para colocar pontos em um ou em outro quando estamos ao volante.
A nova geração do Creta o manteve em uma plataforma de carro médio, um de seus pontos que mais o colocam em vantagem. Também trouxe o motor 1.0 turbo da Hyundai, que é um dos melhores acertados entre os tricilíndricos em uma relação de potência, torque e suavidade de funcionamento. Não é o mais potente, mas é um dos mais equilibrados em par com o câmbio automático de 6 marchas.
São 120 cv e 17,5 kgfm, o que pode parecer pouco em um carro desse tamanho e 1.270 kg declarados. Mas essa força aparece em um pico já em 1.500 rpm e tira o SUV da imobilidade com bastante competência. Carregado até sente um pouco essa saída, mas o fôlego se estica um pouco mais na faixa de torque, uma característica dos motores turbo. Não é um "canhão", mas equilibrado.
Pouco se sente o tal turbolag, aquela demora para o motor pressurizar o que vem do turbo. Um turbo pequeno, aliado ao variador de fase em admissão e escape e a injeção direta, permite inclusive rodar em modo ECO no seletor e, se quiser, usar o Sport em situações onde a transmissão fará as trocas mais tarde, aproveitando mais a potência do motor 1.0 turbo. Na estrada, quando carregado, exigirá mais acelerações para manter a velocidade, mas acompanha um fluxo de rodovia tranquilamente, sem exageros.
Já o HR-V trocou o 1.8 aspirado pelo 1.5 que estreou no City. É menor, mas um motor consideravelmente mais moderno, com duplo comando, variador em admissão, e injeção direta de combustível. Seus 126 cv são mais que os 120 cv do Creta, mas o torque de 15,8 kgfm (com etanol) é consideravelmente menor, além de aparecer em uma rotação superior, como esperado de um aspirado.
O grande trunfo do Honda está no novo câmbio CVT. Pode simular 7 marchas, mas a grande qualidade está em como se entende com o motor. A dupla faz "desaparecer" a potência a menos nesse HR-V 1.5 quando comparado ao antigo 1.8 no uso urbano, nos oferecendo um bom torque em rotações baixas, mas não tão baixas quanto encontramos nos sobrealimentados. Como no City, sai da imobilidade no dia a dia de forma suficiente.
Já na hora da rodovia, o Honda HR-V precisa ser mais presente e girar mais. O bom isolamento acústico tenta, mas o motor se faz mais perceptível no interior do carro ao esticar mais as "marchas" e dando mais trabalho ao CVT. A tendência é piorar quando carregado e não tem a mesma facilidade do Creta turbo na hora de manter a velocidade. No catálogo, se quiser mais que isso, terá que comprar um dos com o 1.5 turbo.
Na pista de testes, a vantagem do 1.0 turbo aparece. O 0 a 100 km/h em 10,4 segundos é melhor que os 11,8 segundos do HR-V 1.5, inclusive o mesmo tempo que fez com etanol e gasolina. Na hora das retomadas, a diferença é menor, já que o Honda se aproveita do fôlego em médias e altas rotações e das respostas do CVT, mas ainda assim sente a diferença de força.
A dinâmica dos dois também é um pouco diferente. O Creta tem um foco em conforto que deixa a carroceria rolar mais e uma direção menos comunicativa, mas passa por buracos sem nem sentir ou apresentar final de curso. O HR-V é um pouco mais firme, mas responde melhor os comandos do motorista sem prejudicar o conforto dos ocupantes a um ponto que o desabone diante do Hyundai, mas há essa diferença que o motorista irá perceber e precisará escolher bem antes de fechar a compra.
Ainda não se convenceu? Em consumo, o HR-V 1.5, com etanol, registrou 8,7 km/litro, ante os 8,5 km/litro do Creta que se beneficia do start-stop indisponível no concorrente, e ambos possuem modos de condução mais econômicos selecionáveis. Na estrada, marcando 120 km/h, o Honda abre mais uma vantagem: 11,2 km/litro ante os 10,7 km/litro do Creta. Uma vantagem por ser mais "manso" aparece na hora de abastecer. Um anda mais, o outro consome menos, enquanto possuem comportamentos distintos de suspensão. Empate.
Vantagem: empate
Não é necessário comentar sobre os preços dos automóveis no mundo inteiro. Logo, temos dois SUVs compactos que estão na faixa dos R$ 150 mil. O Hyundai Creta Platinum custa R$ 145.290, ou com o teto-solar panorâmico que se tornou opcional recentemente, R$ 153.490. O Honda HR-V EXL Honda Sensing, seu nome completo de batismo, custa R$ 149.900, sem opcionais. Ele levou a vantagem nos equipamentos, mas não tanto no preço, uma diferença que pode ajudar no IPVA e seguro, por exemplo.
Em garantia, o Creta é mais vantajoso, ao oferecer 5 anos de cobertura ante as 3 do Honda. E na hora de fazer as revisões, anuais ou a cada 10.000 km, o Hyundai tem o valor mais baixo em 4 das 6 programadas, totalizando R$ 4.441,08 ante os R$ 6.165,76 do HR-V 1.5 aspirado. É uma diferença considerável. Pela garantia maior e revisões mais baratas, vantagem do Creta.
10.000 km/1 ano | 20.000 km/2 anos | 30.000 km/ 3 anos | 40.000 km/4 anos | 50.000 km/5 anos | 60.000 km/6 anos | TOTAL | |
HR-V 1.5 | R$ 394,86 | R$ 594,67 | R$ 762,33 | R$ 1.568,05 | R$ 653,16 | R$ 2.192,69 | R$ 6.165,76 |
Creta 1.0T | R$ 363,02 | R$ 673,29 | R$ 670,71 | R$ 862,38 | R$ 636,52 | R$ 1.235,16 | R$ 4.441,08 |
Vantagem: Hyundai Creta
Nas gerações anteriores, os comparativos que envolviam Creta e HR-V já eram acirrados. Não seria diferente com as novas gerações, que melhoraram em diversos pontos para continuarem se destacando com a chegada de novos concorrentes. Mas percebemos quem mais evoluiu nesse tempo e não nega nas lojas.
Se quiser um carro com mais itens de segurança e que consome menos, o HR-V EXL é sua compra. Mas o Creta Platinum é mais barato, tem a força do motor 1.0 turbo se você precisar disso, mais porta-malas, mas ficou devendo na parte de tecnologias de condução, justamente um dos destaques do HR-V. Por pouco, mas o Hyundai Creta leva a melhor neste comparativo com algumas ressalvas que seus concorrentes já estão aplicando. Essa briga nunca foi tão parelha.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Honda HR-V EXL 1.5 | Hyundai Creta Platinum 1.0T | |
MOTOR |
dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.497 cm3, comando duplo com variador na admissão, injeção direta, flex
|
dianteiro, transversal, 3 cilindros, 12 válvulas, 998 cm3, duplo comando com variador em admissão e escape, turbo, injeção direta, flex
|
POTÊNCIA/TORQUE |
126 cv a 6.200 rpm; 15,5/15,8 kgfm a 4.600 rpm
|
120 cv a 6.000 rpm / 17,5 kgfm a 1.500 rpm
|
TRANSMISSÃO |
automática tipo CVT com simulação de 7 marchas; tração dianteira
|
automática com 6 marchas, tração dianteira
|
SUSPENSÃO | McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira | McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve aro 17" com pneus 215/60 R17 | liga-leve aro 17" com pneus 215/60 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira | discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira |
PESO | 1.309 kg em ordem de marcha |
1.270 kg em ordem de marcha
|
DIMENSÕES | comprimento 4.330 mm, largura 1.790 mm, altura 1.590 mm, entre-eixos 2.610 mm; | comprimento 4.300 mm, largura 1.790 mm, altura 1.635 mm, entre-eixos 2.610 mm |
CAPACIDADES | tanque 50 litros; porta-malas 354 litros | tanque 50 litros; porta-malas 422 litros |
PREÇO | R$ 149.900 | R$ 145.290 (sem teto-solar) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (etanol) | ||
---|---|---|
Honda HR-V 1.5 CVT | Hyundai Creta 1.0T | |
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 5,6 s | 5,1 s |
0 a 80 km/h | 8,3 s | 7,3 s |
0 a 100 km/h | 11,8 s | 10,6 s |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 8,4 s | 8,0 s |
80 a 120 km/h em S | 8,7 s | 7,9 s |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 8,7 km/l | 8,5 km/l |
Ciclo estrada | 11,2 km/l | 10,7 km/l |
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