No último dia de 2021, publicamos aqui a primeira parte de uma comparação de custos de uma viagem Rio-Montevidéu-Rio em avião comercial ou numa picape S10 a diesel. Contabilizamos os valores pagos na ida (entre combustível, pedágios e hospedagens) e estimamos quanto gastaríamos no retorno.
As férias acabaram, estamos de volta ao Rio e já fizemos os cálculos totais. Enquanto na ida percorremos a BR-116 passando pelo interior de Santa Catarina e a Serra Gaúcha, na volta decidimos pegar a BR-101 no litoral catarinense.
Fotos, abraços e lágrimas de despedida... Partimos de Montevidéu, demos uma paradinha no Chuí (para fazer os papéis de saída do Uruguai e encher o tanque no lado brasileiro da fronteira) e tocamos até Pelotas (RS), onde fizemos o primeiro pernoite do retorno, após 583 km.
No dia seguinte, uma esticada de 703 km entre Pelotas e a Praia do Rosa (SC), já quase chegando a Florianópolis. A puxada poderia ter sido mais curta mas, logo na saída, para evitar um trecho da BR-116 em obras (entre Pelotas e São Lourenço do Sul), resolvemos dar a volta pela região de Canguçu - um bonito passeio por estradinhas de montanhas que aumentou nosso trajeto em 73 km.
Da Praia do Rosa até Registro (SP), onde tivemos nosso último pernoite, foram mais 568 km. No dia seguinte, outros 622 km até nosso destino final, o bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.
Assim, no retorno Montevidéu-Rio, via litoral de Santa Catarina, percorremos exatos 2.476 km. Mesmo com todas as voltas, foi pouca coisa além dos 2.430 km da nossa ida.
Como na ida, a volta teve apenas três pit stops para reabastecimento - Chuí (RS), Araranguá (SC) e Embu das Artes (SP) - e chegamos ao Rio ainda com pouco mais de meio tanque. Viajar com uma picape a diesel que consome pouco e tem capacidade para 76 litros de combustível é pura alegria na estrada, garantia de poucas paradas (a autonomia passa dos 900 km) e muito ganho de tempo em percursos longos.
Durante a estadia de três semanas com o ramo uruguaio da família, ainda rodamos 1.916 km com a picape - e aí está outra vantagem de se viajar de carro, pois evita-se a despesa na locadora. Abastecemos algumas vezes o caríssimo diesel S10 local (tabelado em 62,98 pesos uruguaios o litro, o equivalente a R$ 7,60 pelo câmbio do dia em que escrevemos esta matéria). Estes números, contudo, não entrarão nos cálculos finais desta reportagem - mas apenas os custos dos trechos Rio-Montevidéu e Montevidéu-Rio.
Saímos de Montevidéu com 3/4 do tanque - por coincidência, a mesma quantidade de combustível com que havíamos chegado - e só reabastecemos no Chuí brasileiro (R$ 5,45 o litro). No dia seguinte, puxamos até Santa Catarina para completar com o diesel S10 mais barato do percurso (R$ 4,99). Bem no fim do nosso passeio-teste, houve um aumento dos combustíveis no Brasil e não escapamos de pagar R$ 5,65 em um posto de Embu das Artes, São Paulo. Foi o último abastecimento da viagem - dali rodamos mais 478 km até o Rio e chegamos em casa ainda com mais de meio tanque!
Se na ida o gasto com combustível foi de R$ 933 (sempre usando diesel S10), na volta pagamos R$ 1.099. Lembrem-se, contudo, que ainda tínhamos mais de meio tanque no final.
Se do Rio a Montevidéu fizemos a média de 12 km/l, o uso em estradas e ruas uruguaias fez essa marca cair para 11 km/l. No trecho da volta Montevidéu-Rio, o consumo melhorou progressivamente até chegar aos 12,3 km/l - ótima marca para uma picape média-grande com câmbio automático e bem carregada.
Entre ida, passeios pelo Uruguai e volta foram 6.822 km, com média geral de 11,7 km/l.
Na prática, pudemos observar que as melhores faixas de consumo são obtidas com o motor Duramax XLD28 girando aí por volta de 1700-1800 rpm e o câmbio GM 6L50 em sexta marcha. Nessas condições, a picape estará cruzando serena e silenciosamente a 110 km/h.
No trecho Rio-Montevidéu passamos a dar grande valor aos tags de cobrança automática de pedágio, para economizar tempo e evitar moedinhas no console. No Uruguai, há uma vantagem a mais, já que o sistema de pré-pagamento nas rodovias locais (chamado de Telepeaje) dá um desconto de 25% na tarifa.
Se na ida a Montevidéu gastamos R$ 220 em pedágios do Brasil e do Uruguai, na volta foram R$ 198.
Como na ida, a volta incluiu três pernoites em hotéis e pousada. Dormimos em Pelotas (RS), Praia do Rosa (SC) e, finalmente, em Registro (SP) - uma parada estratégica para os viajantes que vêm da Região Sul para o Rio de Janeiro.
Enquanto na ida para Montevidéu gastamos R$ 609 em hospedagens, na volta a conta foi de R$ 701 - o que pode ser atribuído ao gasto extra em uma agradável pousada na Praia do Rosa (já que ninguém é de ferro...), à alta temporada no litoral e à cobrança de uma taxa para a permanência de cães.
No fim das contas foram 4.906 km para ir e voltar. Entre combustível, pedágios e hospedagens na estrada gastamos um total de R$ 3.760.
Em passagens de avião, gastaríamos R$ 10.103 com nossa "tripulação" composta por pai, mãe, filha de 6 anos e Pancha, uma cachorrinha dachshund.
Foram quatro dias e três noites para chegar a Montevidéu e um tanto igual para voltar ao Rio. Não tivemos, porém, que nos preocupar com excesso de bagagem, horários, locação de carro, conexões nem atrasos de voos. Entre a ida, a volta e os passeios dentro do Uruguai rodamos 6.822 km e ainda voltamos cheios de histórias para contar.
A principal novidade da linha S10 para 2022 é que o motor 2.5 flex saiu de cena agora em janeiro, por força de sua não adequação às novas normas de emissões e ruídos do Proconve. Sobraram as versões equipadas com sempre disposto motor Duramax XLD28, de 200 cv de potência e 51 kgfm de torque máximo (já a 2.000 rpm).
Tem mais: uma terceira geração da S10 deverá ser lançada no Brasil no ano que vem. Mas, apesar dos dez anos em nosso mercado, a segunda geração da picape Chevrolet está longe de parecer um projeto decadente ou ultrapassado.
Antes da viagem, ainda trazíamos um certo ranço da primeira geração da S10 brasileira (1995-2012) e seu desconjuntado "acerto" de chão - na época, parecia que os projetistas da suspensão dianteira não conversavam com a equipe responsável pela suspensão traseira... Hoje, porém, a S10 anda na estrada como um bom carro de passeio com tração traseira. Seu rodar tem um quê de automóvel clássico americano, mas com firmeza e aderência no asfalto, sem falar na força de sobra para ultrapassagens e no consumo reduzido.
Quando vimos os larguíssimos pneus 265/60 R18 da High Country, imaginamos logo um rodar áspero e uma tendência de acompanhar todas as ranhuras do asfalto, mas que nada: a direção é dócil, obediente. Todos os comandos têm peso certo, sem excessos de assistência. Em alta velocidade, a picape não ameaça nem assusta. Seu eixo rígido já não faz a traseira pular descontroladamente.
O motor vibra pouco para um turbodiesel e a cabine dispõe de caprichado isolamento acústico. Destaque também para o câmbio automático GM 6L50, que vive um harmonioso casamento com o motor. Tem ótimo escalonamento para grandes tramos rodoviários e troca suas seis marchas sem demoras ou incertezas. Para se ter uma ideia, em momento algum desses quase 7 mil quilômetros de convivência sentimos necessidade de apelar para o modo manual. Na viagem, "nossa" S10 (que tinha 16.536 km no início do passeio) não gastou nada de óleo do motor ou de líquido do radiador. Não foi preciso sequer calibrar os pneus, conforme pudemos conferir pelo monitor de pressão no painel.
Em jornadas de até 12 horas diárias sobre bom asfalto, a família viajou descansada e sem dores no corpo. Revestidos com couro marrom, os bancos são firmes e têm bom acabamento. A capota marítima de fábrica não deixou a bagagem se molhar (quanta bagagem, aliás!). Gostamos também dos amortecedores instalados para suavizar a abertura da tampa traseira.
As queixas vão para detalhes como a ausência de carregador de smartphone por indução ou a existência de apenas uma tomada USB no console. Também falta ajuste de profundidade da coluna de direção, mas isso não chegou a incomodar este motorista com 1,70m de altura. Tampouco há saídas de ar-condicionado para quem vai no banco de trás ou um comando elétrico para rebater os retrovisores externos.
Usamos e abusamos do cruise control - item indispensável em uma viagem dessas - mas sentimos falta do piloto automático adaptativo oferecido pela rival Ranger. O Wi-Fi nativo, anunciado com certo orgulho pela GM para a High Country, foi pouco eficiente no Brasil (nas montanhas entre Registro e Curitiba, por exemplo, ou chegando ao Chuí) mas, vejam só, mostrou seu todo o seu alcance e real valor em território uruguaio.
Grande problema, mesmo, só o fato de o preço de uma S10 High Country ter aumentado de R$ 285.500 para R$ 297.130 durante o período da nossa viagem.
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