Comparativo: Renault Kwid Zen vs. Fiat Mobi Like
Equipamentos como ar-condicionado, direção assistida, vidros e travas elétricos...qual oferece mais por "menos"?
Às vezes não dá para competir com a realidade. Hoje, se você quer um carro zero com um mínimo de "dignidade", ou seja, ar-condicionado, direção assistida e acionamento elétrico de vidros e travas, terá poucas opções. Na lista, basicamente o Renault Kwid Zen custando R$ 58.490 e o Fiat Mobi Like saindo por R$ 57.890. Sim, a realidade do mercado é essa: para quem está procurando o primeiro carro zero, são as poucas alternativas abaixo de R$ 60 mil.
Apesar de preços similares, Renault e Fiat oferecem carros de entrada com propostas relativamente diferentes, cada uma apostando em um tipo de uso - e um público - distinto. Neste comparativo, vamos mostrar o que Kwid e Mobi oferecem nesse último suspiro do carro popular.
Espaço e praticidade
Algo que sempre caracterizou os carros populares no Brasil é que, apesar de serem os menos caros, eles precisam atender todas as necessidades da família como o único carro. Por conta disso, modelos com maior aproveitamento do espaço interno se diferenciavam em uma briga que já foi mais acirrada. Nisso, o antigo Fiat Mille mandava bem. O Mobi, nem tanto.
O Renault Kwid leva algumas vantagens cruciais nas medidas. São 3,68 m de comprimento e 2,42 m de entre-eixos, contra respectivamente 3,56 m e 2,30 m do Fiat Mobi. Também tem mais espaço para as tralhas da família no bagageiro, com 290 litros no Renault e somente 215 litros no Fiat. O Mobi leva vantagem apenas na largura (1,67 m contra 1,58 m), muito pelos apliques nas caixas de rodas.
Vale lembrar que ambos adotaram o conceito de carro "altinho", com suspensões elevadas. O Mobi ainda tem a configuração Easy com altura normal, mas Like e Trekking já contam com 177 mm de vão livre. O Kwid tem pouca coisa a mais, com 180 mm. O que importa mesmo é que você terá que se esforçar para raspar os para-choques de qualquer um deles nas valetas.
Para além dos números, o Mobi deixa claro que quer tratar melhor os passageiros da frente, com porta-trecos um pouco maiores. A largura extra também deixa quem vai na frente um pouco mais confortável. O Kwid tem consideravelmente mais espaço para quem vai atrás, mas é mais estreito. Mesmo não sendo o maior dos motoristas, meu ombro sempre esteve rente à porta e o passageiro bem ao meu lado no Renault. No entanto, não é preciso malabarismos para levar gente no banco de trás do Kwid como no Mobi.
No crucial teste do porta-copos, ambos falham. O Kwid tem um abrigo grande demais e que não segura nenhum tipo de lata. As garrafas com largura compatíveis ficam altas demais e batem no painel. O Mobi tem dois espaços menores, mais apropriados para latas e copos convencionais. Mas são quadrados e inclinados. Não é uma questão de "se" a lata vai cair, mas "quando".
Para quem vai usar o porta-malas, o Kwid tem a vantagem de já contar com a abertura interna do tampão e o telecomando para a trava elétrica. No Mobi, sem opcionais, você tem que ir direto no tampão com a chave para abri-lo e depois repetir o processo na porta do motorista para entrar.
Vantagem: Renault Kwid
Acabamento e equipamentos
Se no espaço interno é visível a vantagem do Kwid sobre o Mobi, em termos de acabamento da cabine, a situação se inverte. Em seu subcompacto, a Renault deixou claro o compromisso com o custo baixo e a facilidade de construção. Não que o hatch tenha falhas grandes na montagem, mas é notável que o habitáculo traz apenas o necessário. O plástico rígido dos acabamentos tem praticamente a mesma textura simplificada em quase todas as superfícies: das portas até o topo do painel. Nada do que se vê ou toca no Kwid tenta esconder suas origens mais humildes.
E é aí que o Fiat Mobi mostra as vantagens de ter sido um projeto derivado do Uno. Pode não ter o espaço do rival, mas a cabine mescla texturas e tons de cinza ao longo do painel e das portas. A "pegada" de volante e manopla de câmbio não são muito diferentes em relação ao Argo 1.0, por exemplo. Não que a Fiat não tenha seus truques. Por exemplo, a tampa do porta-malas do Kwid tem lata exposta por dentro, sem acabamento. O Mobi tem tampa de vidro, então não causa uma impressão ruim.
No geral, a impressão de acabamento interno é essa. A Renault fez de tudo para manter os custos baixos com o intuito de ter um valor final menor. A Fiat aproveitou uma plataforma que já existia e encontrou maneiras de deixar o habitáculo dentro dos padrões dos modelos de entrada da marca, que está entre os melhores da categoria. No Kwid você se sente em um carro barato, no Mobi, nem tanto.
O Renault Kwid Zen, vem equipado de fábrica com direção elétrica, ar-condicionado, vidros elétricos dianteiros, travas elétricas, chave com telecomando, limpador e desembaçador traseiros, retrovisores com ajuste mecânico interno, abertura interna do porta-malas, dois pontos Isofix de fixação de assentos infantis e indicador de troca de marcha.
O Fiat Mobi Like é mais barato, só que é ainda menos equipado. Rádio, por exemplo, apenas com o opcional da central multimídia, uma vez que vem de fábrica apenas com a fiação para o aparelho e 2 alto-falantes. As travas são elétricas, mas para acioná-las é preciso usar a própria chave no trinco da porta, sem telecomando. Isso sem contar que a direção é hidráulica. No entanto, o Mobi já tem conta-giros e um computador de bordo propriamente dito, informando até consumo médio. O restante da lista é similar a do rival. No fim, o Kwid tem mais equipamentos, o Mobi responde com acabamento melhor.
Vantagem: empate
Conectividade e segurança
Então, vamos ter em mente que estamos comparando dois dos carros mais baratos do Brasil, ok? Logo, não esperem grandes coisas. O Renault Kwid Zen ao menos já traz de série um rádio com conectividade via Bluetooth e entradas USB e auxiliar. Além disso, tem os 2 airbags frontais obrigatórios e dois laterais, algo que nem mesmo o bem mais caro Duster tem.
O Fiat Mobi Like, de fábrica, só a fiação do rádio com 2 alto-falantes e as bolsas infláveis exigidas por lei. Quem puder pagar R$ 3.290 a mais pelo Pack Multimídia terá o carro mais barato do Brasil com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, graças ao acréscimo da central multimídia com tela de 7", a mesma encontrada na Strada. Ele também acrescenta o volante multifuncional.
Vantagem: Renault Kwid
Ao volante
Se você olhar Kwid e Mobi somente no papel, fica bem difícil enxergar um vencedor claro. Até mesmo dirigindo, a resposta não é tão simples. Com apenas 779 kg de peso, o Renault é bem esperto nas respostas e deixa o Mobi literalmente no chinelo nos testes de desempenho do Motor1.com. E leveza não ajuda apenas na performance, o consumo também. Com etanol e em ciclo rodoviário, o Kwid chega a fazer quase 2 km/l a mais que o Mobi.
E isso você sente andando. O Renault exige poucas trocas de marcha no uso cotidiano, sendo bem espertinho no vai-e-vem do trânsito. A tocada do Fiat com o veterano Fire EVO de 4 cilindros é outra. Bem mais pesado e com menos torque, prefere as rotações mais altas e leva mais tempo para ganhar velocidade.
A questão é que, ao atingir velocidades rodoviárias, a boa performance do Kwid se esvai. Acaba mostrando alguns compromissos de seu projeto mesmo. A 120 km/h, o ruído do motor é bem perceptível, assim como o de vento. Gostaria de falar a rotação para essa velocidade, mas o carro não tem conta-giros. No Mobi, escuta-se apenas o ruído dos pneus e só. A 120 km/h, não chega a 4.000 rpm, regime elevado. No entanto, opera tão suavemente que não se percebe isso.
E ainda não cheguei nas vibrações. Não aquelas que você equilibra em casa com umas pedras coloridas, mas as gerados pelo motor. Arrancar em ladeiras com o Kwid pede sempre um aviso aos passageiros de primeira viagem: sim, essa trepidação é normal. O Mobi é mais evoluído, o propulsor não se faz presente, apesar de ser o mais velho entre os dois.
A suspensão do Kwid também é mais "crua". Escuta-se seu trabalho nos buracos e passa a sensação de ser mais firme. A direção do Renault, elétrica e mais leve em manobras, exigiu correções constantes para manter o carro em linha reta. Qualquer caminhão passando ao lado fazia a carroceria inclinar por causa da passagem do vento.
O Mobi, por outro lado, é mais refinado na buraqueira, mais uma vez lembrando outros carros da Fiat. Na estrada, tem uma tocada de carro maior. Onde a direção hidráulica se faz mais pesada nas balizas, passa mais firmeza e segurança na estrada. Vale lembrar que as versões "levantadas" do Mobi contam com barra estabilizadora dianteira, ausente nas "baixinhas".
Um item que você não verá ninguém comentando, mas vai fazer diferença no longo prazo, são os bancos. Os do Kwid são mais estreitos e curtos nas coxas que os do Mobi. No final do dia, o Fiat vai cansar menos quem dirige que o Renault.
Vantagem: Fiat Mobi
Compra e manutenção
MODELO | Renault Kwid Zen | Fiat Mobi Like |
1 ano/10.000 km | R$ 428,13 | R$ 372,00 |
2 anos/20.000 km | R$ 482,38 | R$ 488,00 |
3 anos/30.000 km | R$ 482,38 | R$ 764,00 |
4 anos/40.000 km | R$ 816,54 | R$ 640,00 |
5 anos/50.000 km | R$ 536,63 | R$ 492,00 |
TOTAL | R$ 2.746,06 | R$ 2.756,00 |
A filosofia do Kwid Zen é a de entregar tudo de uma vez. O único opcional disponível é a pintura metálica. Aliás, qualquer cor que não seja a branca sólida (Branco Glacier) é cobrada a parte. Todas custam R$ 1.450 extras, incluindo a Vermelho Fogo que aparece no carro que testamos, levando seu preço a R$ 59.980.
Por outro lado, o Mobi Like oferece menos de série, mas tem bons opcionais. O pack Fit In, de R$ 1.000, inclui regulagem de altura para volante e banco do motorista, porta-objetos no teto, regulagem de altura para os cintos de segurança dianteiros e comando interno para abertura do porta-malas e da tampa de combustível.
O outro é bem mais caro: por R$ 3.290 o Mobi ganha central multimídia com tela de 7", conectividade sem fios para Android Auto e Apple Car Play, 4 alto-falantes, 2 tweeters e volante multifuncional. Apesar de sólidas, as opções de pintura Vermelho Montecarlo - como no carro testado - e o Branco Banchisa custam R$ 750 adicionais, enquanto as metálicas acrescentam R$ 1.600. O carro testado tinha os dois opcionais e a pintura sólida extra, totalizando R$ 62.930.
Ambos oferecem 3 anos de garantia. Nesse período, a soma das três primeiras revisões mostra vantagem para a Renault, totalizando R$ 1.392,89. No Fiat, esse custo chega a R$ 1.624,00. Ao final de 5 anos ou 50.000 km, porém, a diferença entre os dois nas manutenções programadas não chega a R$ 10.
Vantagem: Renault Kwid
Conclusão
Eu sempre falo que não dá para falar de nenhum carro sem andar. Olhando no papel e até nesse texto mesmo, o Kwid ganharia facilmente, com mais itens de série, de segurança e performance superior com consumo menor na comparação com o Mobi.
Se você realmente está contando os centavos e precisa do espaço interno, vá com o Renault. Mas vá sabendo que é um carro simples em que você recebe o que você pagou. Somente depois de ter andado em Kwid e Mobi lado a lado que percebi o quanto o Fiat veio se refinando ao longo dos anos. De "patinho feio", hoje ele é o carro de entrada mais maduro entre os dois, mas deve equipamentos e desempenho. Tudo depende de onde estão suas prioridades.
Para mim, um carro com uma tocada superior e acabamento esmerado vale mais que uma lista de itens de série recheada. Mesmo andando menos e bebendo mais, não incomoda atrás do volante e cansa menos após horas dirigindo. Por conta disso, é do Fiat Mobi a vitória, mas vale a observação: o Kwid mudará em breve e muito se espera que ele fique mais refinado e com novos equipamentos. Quem sabe ele não consegue reverter o jogo em breve?
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Fichas técnicas
Renault Kwid 1.0 Zen | Fiat Mobi 1.0 Like | |
MOTOR |
dianteiro, transversal, 3 cilindros, 12 válvulas, 999 cm3, comando duplo sem variador, flex |
dianteiro, transversal, 4 cilindros, 8 válvulas, 999 cm³, comando de válvulas único sem variador, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 66/70 cv a 5.500 rpm / 9,4/9,8 kgfm a 4.250 rpm | 73/75 cv a 6.250 rpm / 9,9/9,5 kgfm a 3.850 rpm |
TRANSMISSÃO | manual de 5 marchas; tração dianteira | manual de 5 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | aço com calotas, aro 14", pneus 165/70 R14 | aço com calotas, aro 14", pneus 175/65 R14 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e EBD | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 779 kg em ordem de marcha | 967 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 3.680 mm, largura 1.579 mm, altura 1.474 mm, entre-eixos 2.423 mm, vão livre 180 mm | comprimento de 3.566 mm, largura de 1.666 mm, altura de 1.523 mm e entre-eixos 2.307 mm, vão livre 177 mm |
CAPACIDADES | tanque 38 litros; porta-malas 290 litros | tanque 47 litros; porta-malas 215 litros |
PREÇO |
R$ 58.490 (versão testada R$ 59.980) |
R$ 57.890 (versão testada R$ 62.930) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (etanol) | |||
---|---|---|---|
Renault Kwid | Fiat Mobi | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 5,5 s | 6,5 s | |
0 a 80 km/h | 9,2 s | 11,2 s | |
0 a 100 km/h |
13,9 s |
17,1 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em 3a | 12,9 s | 16,4 s | |
80 a 120 km/h em 4a | 15,5 s | 18,9 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 |
40,8 m |
42,8 m | |
80 km/h a 0 | 25,2 m | 25,8 m | |
60 km/h a 0 | 14,1 m | 14,4 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 10,2 km/l | 9,4 km/l | |
Ciclo estrada | 14,3 km/l | 12,2 km/l |
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