A Citroën, assim como a Peugeot, vive uma nova fase no Brasil. De um cenário de retração, a fusão da PSA com FCA trouxe a Stellantis e ambas as marcas francesas voltam a crescer em nosso mercado aproveitando a boa experiência da nova parceira nos últimos anos. As principais mudanças foram novos concessionários e a volta ao mercado de vendas diretas, algo que a Fiat e a Jeep se aproveitam bem há alguns anos.
Na Citroën, uma mudança drástica no portfólio: até o lançamento oficial do novo C3 em 2022, o C4 Cactus é a única opção de carro de passeio nas lojas - ou seja, se a Citroën está crescendo, boa parte das vendas está com o SUV compacto e outra fatia menor com os comerciais leves. Por isso, resolvemos relembrar como anda o Citroën C4 Cactus, aqui na sua versão mais completa e potente, mesmo não sendo a mais vendida - isso fica a cargo das versões 1.6 aspiradas, mas não havia uma unidade disponível na frota da marca.
Se serve como desculpa, é sempre muito bom encontrar com o C4 Cactus com o motor THP, este já bastante conhecido em nosso mercado, mas pode estar com os dias contados. Como Stellantis, o 1.6 turbo de até 173 cv e 24,5 kgfm de torque pode ser substituído em algum tempo pelo novo 1.3 turbo da família Firelfy, com até 185 cv e 27,5 kgfm - ou seja, mais moderno e com melhor relação cilindrada/potência e torque. Então vamos aproveitar.
Na letra fria da lei, o C4 Cactus é o SUV compacto da Citroën. Seus inimigos naturais são carros como Jeep Renegade, Hyundai Creta e Renault Duster, apesar de um porte um pouco menor - vale lembrar que na Europa ele é um hatch aventureiro. A partir de 2022, ficará acima do novo C3, uma mistura de hatch com SUV, como a própria Citroën o define, deixando o C4 Cactus onde está. Esta versão, a Shine Pack, é a mais cara e completa do Cactus.
De série, o C4 Cactus traz 6 airbags, luzes diurnas em LEDs, controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas, Grip Control (que altera parâmetros do acelerador, câmbio e controles conforme o piso selecionado), acendimento automático dos faróis, sensor de chuva, chave presencial, ar-condicionado automático, central multimídia com tela de 7", Android Auto e Apple CarPlay (por fios), câmera de ré, bancos em couro, rack de teto mais pronunciado, rodas de 17", painel de instrumentos digital, controle de cruzeiro e frenagem autônoma de emergência com alerta de colisão.
Sob o capô está o venerável THP: um motor 1.6 turbo flex capaz de entregar até 173 cv de potência e 24,5 kgfm de torque. Em linha desde 2012, tem quase 10 anos de trabalho que, hoje em dia, é bastante tempo. O propulsor está sempre atrelado a uma transmissão automática de 6 marchas e a tração é sempre dianteira. A Shine Pack é a única a oferecer essa opção.
Nas medidas, o Citroën C4 Cactus deixa transparecer sua natureza compacta. São 4,17 metros de comprimento, 1,71 m de largura, 1,56 m de altura e 2,60 m de entre-eixos. Seu peso declarado em ordem de marcha é de 1.220 kg, com 400 kg de carga útil. Por último, o porta-malas consegue abrigar até 320 litros de bagagens.
Estive no lançamento do C4 Cactus em 2018 e atolei o carro na beira de uma represa, mas isso é prosa para outro dia, mas vale ter o contexto histórico. Mesmo depois de tanto tempo, as linhas compactas do SUV da Citroën ainda não parecem ter envelhecido, tanto que o carro recebeu poucas atualizações nesses 3 anos que se passaram.
Ao contrário de outros utilitários esportivos compactos, ele não tenta passar um ar de imponência, nem tenta entrar "na onda" e isso é elemento chave para que ele não se torne um carro que ficará feio daqui 10 anos. O C4 Cactus aposta mais em linhas arredondadas e volumosas, mais agradáveis, e também ajuda a disfarçar a aparência de "hatch levantado" que, no fundo, é sua essência.
Isso nos leva para a cabine. Pois bem, lembram de todo esse papo de compacto? É dentro do C4 Cactus que você realmente vê isso. Ao contrário de um Creta ou um Honda HR-V, o espaço no banco traseiro é apenas justo para quem vai por lá, sem sobras, apesar de o espaço para cabeça ser bom. O bagageiro também é equivalente apenas a de um hatch maior, como o Renault Sandero.
Outro elemento que vai melhor nas versões de entrada do que na Shine Pack é a simplicidade do acabamento interno. Há plásticos rígidos nas portas e no painel, que é disfarçado com uma faixa de material sintético entrecortada por uma tira de pano. Cumpre a função, quem andou de carona gostou do visual, mas não é nada para se gabar em um carro que, na versão testada, já custa R$ 131.590.
Apesar de já contar com um bom número de airbags e sistemas de segurança ativa e passiva, o C4 Cactus Shine Pack fica devendo em alguns elementos nesta faixa de preços, como a ausência de regulagem elétrica ao menos para o banco do motorista. O sistema de alerta de colisão, por outro lado, é bem-vindo, só que é hiperativo. Bastava uma moto trocar de faixa na minha frente para aparecer o aviso na central multimídia. E com isso ia-se embora o mapa que eu tentava prestar atenção. O painel de instrumento pode dizer que é digital, mas é dos mais simples e sua superfície é propensa a reflexos.
Falando da tela, não há muito o que elogiar. Cumpre seu papel, mas já está claro tanto por seu tamanho quanto pela lentidão nas respostas e falta de intuitividade que há opções melhores em outros carros e isso inclui o fato de os comandos do ar-condicionado nela. Então sempre é preciso apertar a tecla do ar, ajustar e voltar manualmente para a tela anterior, como a navegação por espelhamento.
Porém, um ponto em que o C4 Cactus ainda consegue se manter bem relevante é no conforto. A suspensão absorve bem os buracos e quase nenhum barulho ou impacto chegam à cabine. Claro que isso cobra o preço na dinâmica, pois o movimento da carroceria é bem perceptível tanto nas mudanças de direção quanto em acelerações e frenagens.
O câmbio automático é como a multimídia: faz o que tem que fazer, mas é antigo. Você pode deixar as trocas mais espertas no modo Sport ou antecipá-las no modo Eco, mas elas sempre levam um tempo para serem feitas. As retomadas precisam ser planejadas, levando em consideração o tempo para a redução. Ao menos são bem suaves.
Só que, apesar de tudo isso, o motor THP ainda brilha. Posso ficar aqui falando da central lenta, do câmbio que demora a responder, mas no final das contas passei meu tempo me divertindo com grande fôlego do 1.6 turbo. Ainda é algo que chama a atenção em um SUV ter um propulsor que quer sair cantando pneu a cada arrancada. Claramente é bem mais que o necessário, já que é um dos mais potentes SUVs do mercado, perdendo apenas para o novo 1.3 GSE da Jeep/Fiat.
Quem optar pelo Citroën C4 Cactus Shine pack precisará desembolsar R$ 131.590. Há opções de SUVs mais baratos, maiores e mais completos. Porém, apesar de alguns elementos do carro ficarem devendo, o modelo tem alguns atributos interessantes. É compacto, então não dá trabalho na hora de estacionar ou de encarar o trânsito. Potente, é um dos poucos SUVs que posso chamar de divertido. E certamente há espaço no mercado para isso.
Agora resta saber se os motores GSE da Stellantis, que certamente estão no futuro do C4 Cactus, conseguirão fazer justiça ao veterano THP. Até lá, o novo C3 deve ser apresentado por aqui, dividindo a responsabilidade com C4 Cactus para manter o crescimento do Citroën no mercado brasileiro.
Fotos: Thiago Moreno (Motor1.com)
Citroën C4 Cactus 1.6 THP
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