Quando assumiu a operação brasileira da Chery, a Caoa se deparou com um modelo praticamente pronto para ser lançado. O Tiggo 2 nasceu antes da nova administração e não teve tanto a mão da engenharia local em seu desenvolvimento e calibração, apesar da produção em Jacareí (SP). É diferente do que aconteceu com o Tiggo 3x, uma renovação do Tiggo 2, mas que não quer ser vista assim.
Para mostrar que não é uma reestilização, o Caoa Chery Tiggo 3x altera mais do que simplesmente seu visual, mas estreia um novo motor 1.0 turbo dentro da linha da marca sino-brasileira. A ele, ligado um câmbio automático CVT com simulação de 9 marchas, uma bela evolução do antigo 1.5 aspirado com a caixa automática de 4 marchas herdada ainda dos antigo Toyota Corolla. Será isso suficiente para se justificar diante de Honda WR-V, Volkswagen Nivus e o futuro Fiat 363?
No fundo, o Tiggo 3x é um Tiggo 2 reestilizado. Era até assim que o tratávamos até a Caoa Chery divulgar que o Tiggo 3x seria um novo modelo no catálogo da marca - na verdade, o Tiggo 2 é chamado de Tiggo 3x na China. E onde ele mais se diferenciará olhando por fora será na dianteira, com um estilo bem diferente do encontrado no seu "irmão mais velho".
O Tiggo 3x entra na onda dos faróis divididos. Na parte superior e mais fina, as luzes diurnas de condução em LEDs. Mais abaixo, farol baixo e alto (em LEDs na versão Pro) e setas de direção. Não há faróis de neblina, mas a grade dianteira, que tem acabamento diferente em cada versão, é o destaque, tanto pelo tamanho quanto pelos detalhes cromados que estão em volta do logo da marca.
Se na dianteira o Tiggo 3x carrega um visual mais moderno e atual, o restante é quase o Tiggo 2. Na lateral, mudam rodas e o friso nas portas. Na traseira, as lanternas são escurecidas, o friso entre elas é preto e o parachoque traseiro recebe novo aplique na parte inferior. Particularmente, acho que o SUV merecia mais atenção nestes outros pontos para se diferenciar mais do Tiggo 2 e até parece que a dianteira e a traseira não se conversam - uma é bastante moderna, a outra é quase a mesma do carro anterior e, no caso do Brasil, mais barato.
E isso fica um pouco mais exposto quando vamos para a parte mecânica e interior. Não por terem sido esquecidas, pelo contrário, pelas mudanças feitas. Começando pelo motor, que agora é o 1.0 turbo da Chery, um dos principais pontos de destaque do Tiggo 3x. Está ligado a um câmbio automático tipo CVT que simula 9 marchas e pode ser uma das principais evoluções do SUV, mas o explicarei melhor nas impressões ao realmente dirigir.
Por dentro, o Tiggo 3x teve bastante atenção para se diferenciar do Tiggo 2. Na versão Pro, o painel de instrumentos tem uma tela de 7" de boa resolução e colorida, acompanhada de 2 mostradores em LEDs para a temperatura do motor e nível de combustível. Ele até muda as cores quando vamos do modo Eco para o Sport em um botão com um posicionamento bem ruim, quase escondido e que só descobri pois um instrutor indicou que ele estava ali, na parte inferior no lado esquerdo do motorista.
O acabamento é dominado pelo plástico rígido, mas com bons encaixes e sem rebarbas. Preto brilhante, alguns elementos em alumínio, imitação de fibra de carbono e um novo volante com base reta se destacam. O sistema multimídia com tela de 9" tem Apple CarPlay e Android Auto (com fios) e seu botão de regulagem do volume fica logo abaixo da alavanca do câmbio, uma posição um pouco incomum na categoria, mas comum em modelos de marcas premium, como a Audi, mas nem por isso signifique que é bem posicionada.
A Caoa Chery bolou uma estratégia diferente para nosso primeiro contato com o Tiggo 3x. Apenas sabendo que era o motor 1.0 turbo, a marca não divulgou qualquer número de potência e torque e nos deu um trajeto com bastante retas, mas também diversas subidas em uma estrada na serra rumo a São Francisco Xavier, uma cidade no interior de São Paulo.
Pegando o Tiggo 2 já pronto, a engenharia da Caoa Chery trabalhou 2 anos no desenvolvimento do Tiggo 3x. Segundo eles, foram 160.000 km em testes, sendo 1.500 horas de dinamômetro só pro motor, além de 5.000 horas de calibração com o câmbio CVT. O motor 1.0 turbo é importado da China, mas foi trabalhado para aceitar etanol e gasolina pela engenharia brasileira e dispensa o tanque de partida auxiliar, com aquecimento dos bicos.
Na cidade, o SUV se comporta bem. O torque aparece em baixas rotações e o câmbio CVT faz seu trabalho justamente nesta faixa, apesar do conjunto ser um pouco ruidoso em algumas situações. Alguns trancos leves são sentidos durante o trabalho do câmbio (que é produzido pela própria Chery na China e não é o mesmo do Arrizo 5), mas nada que interfira num rodar suave. O isolamento acústico fica devendo, mesmo após um trabalho na engenharia da marca, mas o motor passa pouca vibração considerando ser um tricilíndrico.
Na estrada, é perceptível que o motor tem bom torque, mas não potência, além de um turbo lag (aquela demora para o turbo pressurizar e realmente perceber o torque extra) perceptível nas retomadas. Na parte da serra, boa força para as subidas, e até deu realmente a impressão de uma boa força principalmente em baixas, mas pediu em alguns momentos o kickdown, aquele acionamento completo do acelerador que leva o câmbio a trabalhar em rotações mais elevadas.
Vamos a números? São até 17,1 kgfm de torque já a 1.500 rpm, o que explica o bom desempenho na cidade e nas estradas mais lentas, mas os até 102 cv de potência explicam a falta de força em velocidades mais altas, algo que deve ficar mais perceptível com o carro carregado. Esse pode ser um desafio para os vendedores, já que sabemos que boa parte dos compradores compradores acabam olhando mais a potência inferior do que o torque que é maior que alguns outros 1.0 turbo, como o da GM (16,8 kgfm, mas até 116 cv).
Aliás, esse 1.0 turbo da Caoa Chery não tem a injeção direta, como o da Chevrolet, mas o da marca americana tem variador de fase nos 2 comandos, enquanto o chinês apenas na admissão. Esse motor é de uma geração anterior que o 1.6 turbo que está no Tiggo 8, por exemplo, já com injeção direta. Entendemos a manobra até mesmo para manter o preço do Tiggo 3x em uma faixa dos R$ 100 mil.
Diante do Tiggo 2 com o 1.5 aspirado (110/115 cv e 13,8/14,9 kgfm de torque), tem menos potência, mas mais torque. Em compensação, o câmbio CVT no lugar do automático de 4 marchas ajuda no aproveitamento e melhora o rodar. A suspensão é boa, bem voltada ao conforto e que não tem batidas secas ou barulhos. A direção elétrica segue a regra do conforto, mas acaba pecando pela comunicação com o motorista em velocidades mais altas, um pouco deficiente.
O Caoa Chery Tiggo 3x será vendido em 2 versões. Esta é a topo de linha, a Pro, de R$ 105.990 (no lançamento, está com preço promocial de R$ 99.990). Como destaque, seletor de modo de condução, monitor de pressão dos pneus (com temperatura), sensor de estacionamento traseiro, assistente de partida em rampas, assistente de descida, controles de tração e estabilidade, ar-condicionado, painel com tela de 7", chave presencial, acendimento automático dos faróis, câmera de ré, piloto automático, sistema multimídia com tela de 9" com Apple CarPlay e Android Auto, faróis de LEDs, rodas de 16" e bancos em couro.
Ele peca em alguns pontos, como ter apenas 2 airbags e ver alguns pontos da idade do projeto, como as palhetas do limpador dianteiro visíveis por dentro do carro e os bancos cansativos em longas viagens, sem muito apoio para o corpo. Não há a opção de teto-solar, sendo que o Tiggo 2 oferece na versão topo.
A Caoa Chery quer que o Tiggo 3x Turbo responda por cerca de 50% das suas vendas de SUVs. Ele mira em uma turma como o Honda WR-V e o futuro Fiat 363, modelos que ficam abaixo dos SUVs compactos em nosso mercado. O motor 1.0 turbo e o câmbio CVT são os destaques desse conjunto, mas ele poderia se diferenciar mais visualmente do Tiggo 2 na traseira, por exemplo, já que a dianteira chama bastante atenção. Resta ver como os clientes enxergarão este "novo SUV" com tanta coisa semelhante a um modelo que está abaixo na linha, mesmo com boas evoluções.
Fotos: divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, 3 cilindros, 16 válvulas, 998 cm3, comando duplo com variador na admissão, injeção multiponto, turbo, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
98/102 cv a 5.500 rpm; Torque: 16,8/17,1 kgfm de 1.500 a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automática CVT com simulação de 9 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio de 16", pneus 205/55 R16 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.249 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.200 mm, largura 1.760 mm, altura 1.570 mm, entre-eixos 2.555 mm; |
CAPACIDADES | tanque 50 litros; porta-malas 420 litros |
PREÇO | R$ 105.990 (preço promocial de R$ 99.990 no lançamento) |
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