A Renault quer mudar sua linha de mercado no Brasil. De modelos baratos, a marca francesa irá se transformar rumo a modelos mais refinados, com maior valor agregado e lucratividade. E um dos caminhos é a eletrificação, área em que a empresa já tem uma tradição no exterior, principalmente com o Zoe.
Não, não é a primeira vez que o Zoe chega ao Brasil, mas é quase isso. Com a reestilização feita em abril, a Renault coloca o 100% elétrico de verdade no mercado, não de forma tímida como fez antes, praticamente apenas para empresas. Com melhorias, o Renault Zoe criou "coragem" para dar as caras ao público e concorrer nesta pequena fatia e com a etiqueta de "quase" o carro elétrico mais barato do Brasil.
Diante dos últimos lançamentos de elétricos, o Renault Zoe é quase um "tiozinho". Sua geração é de 2012, tempo que pesa ainda mais dentro de um tipo de mercado que está evoluindo muito rápido. Apesar de manter boa parte da carroceria intocada, faróis, parachoques, lanternas e rodas foram revistos e deram um ar um pouco mais moderno ao Zoe. A grade dianteira inferior tem pontos cromados, enquanto a tomada de recarga está escondida pelo losango da Renault.
Faróis, lanternas e faróis de neblina em LEDs dão um toque de modernidade, mas é por dentro que vemos uma boa parte das melhorias do Zoe reestilizado. O painel de instrumentos é todo digital, com uma tela de 10", enquanto o sistema multimídia com Apple CarPlay e Android Auto está em outra tela sensível ao toque, de 7". Chamada de Easy Link, é rápida e intuitiva de usar, apesar da tela menor que de muitos concorrentes. O seletor de marchas também é novo.
Uma das boas mudanças do Zoe é em seu motor elétrico. Antes de 92 cv e 22,4 kgfm, foi aos 136 cv (100 kW) e 24,5 kgfm. Para alimentar, novas baterias de 52 kWh, trocando as de 41 kWh, alojadas no assoalho do Zoe. Para a recarga, em um ponto de 50 kWh, é possível recuperar 90% em 30 minutos.
Em dimensões, o Zoe é quase um Sandero. São 4,08 m de comprimento, sendo 2,59 m de entre-eixos. São praticamente as mesmas medidas do hatchback a combustão, e é maior que seus concorrentes diretos, o Fiat 500e (3,36 m), Mini Cooper SE (3,85 m) e do Peugeot e-208 GT (4,06 m). Entre eles, se aproxima justamente de seu oponente francês, além das 4 portas, ausentes nos demais modelos do segmento.
A reestilização fez bem ao Zoe. Apesar de manter as formas básicas, a renovação o deixou mais atraente e moderno. Por dentro, uma boa melhora no acabamento, apesar de ainda ser um carro simples e que não retorna tanta sensação de cuidados quanto seus concorrentes mais novos e modernos. Novos materiais compõem o hatchback, com o uso de alumínio e tecidos, além de materiais suaves ao toque, completo pelas telas de boa resolução. Sabe o nosso Duster? Em comum, botões para alguns comandos ao centro do painel e os comandos do ar-condicionado automático digital.
Se antes o Zoe se comportava como "o 1.0 dos elétricos", o novo motor elétrico resolveu isso. Mais potência e torque fizeram com que o hatch responde bem na cidade, na mesma tocada dos concorrentes mais novos. Mesmo no modo Eco, arranca bem e não tem dificuldade nem mesmo para seguir em uma rodovia na velocidade dos outros carros, por exemplo. Sim, é possível pegar estrada com um carro 100% elétrico...
Sentimos o peso da idade do Zoe em alguns pontos específicos. Por exemplo, o banco do motorista não tem regulagem de altura e te dá uma posição realmente alta. Com as baterias no assoalho, não é possível reduzir essa altura, que acaba interferindo mais na posição em si que no espaço - com teto alto, o Zoe acomoda bem até pessoas com maiores estaturas.
A suspensão, apesar de ser um carro nascido na Europa, foi bem adaptada ao nosso solo. Encaramos até uma leve estrada de terra com o Zoe, que não reclamou, ajudado pelas rodas de 16" com pneus 195/55, um perfil relativamente alto. Com boa altura do solo e balanços dianteiro e traseiro curtos, não raspa em valetas e não exige maiores cuidado no dia a dia.
Em nosso testes, o Zoe registrou 7,2 km/kWh na cidade, o que dá a ele uma autonomia de 374 km, considerando os 52 kWh úteis de suas baterias - é o mesmo consumo do Mini Cooper SE e seus 184 cv, mas que conta com baterias de apenas 28,9 kWh. Na estrada, 5,9 km/kWh, ou 307 km de autonomia. Neste caso, seu consumo foi pior que do Fiat 500e (6,7 km/kWh) e do Mini (6,3 km/kWh).
Nas provas de aceleração, o Zoe mostrou seus 1.502 kg, um dos reflexos de sua idade de plataforma. Apesar de seus 136 cv, foi mais lento que o Fiat 500e de 118 cv (0 a 100 km/h de 9,2 segundos versus 8,6 s), mas as retomadas na faixa dos 6 segundos é pouco diferente do italiano. É melhor do que era, mas o Zoe peca em pontos justamente datados de 2012.
O Renault Zoe ataca como uma das opções mais baratas entre os elétricos. Custa a partir de R$ 204.990, enquanto seus concorrentes diretos já mostram etiquetas acima dos R$ 230 mil. A versão testada, Intense, custa R$ 229.990 e tem itens como o alerta de ponto-cego, faróis fullLED, ar-condicionado automático e painel de instrumentos digital. Só não é o mais barato do país por causa dos R$ 159.990 do JAC E-JS1 e outros chineses.
A Renault quer uma nova fase no Brasil. A aposta na eletrificação é uma das armas, com modelos híbridos e 100% elétricos. O Kwid chega em 2022 e a marca diz que será o elétrico mais barato do país. Por enquanto, o quase com o Zoe já mostra que viveremos uma nova fase da Renault por aqui. Sobre o carro, apesar da idade, é um bom elétrico, apesar da idade pesar em alguns pontos diante dos concorrentes, que são mais caros.
Renault Zoe
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