Nem sempre carregar a sigla de uma divisão esportiva significa que um carro será empolgante como um bom esportivo. Dentro desta composição, vamos muito além de motor potente, mas também uma boa conversa com outras peças deste conjunto, como suspensão, direção e até mesmo posição de pilotagem e como este carro te corresponde e te passa as sensações.
Confesso que a geração anterior do Audi RS Q3 não me trazia tudo isso, se tornando um esportivo apenas "OK". E não é por ser um SUV, já que diversos concorrentes já estão em um patamar bastante interessante de dirigibilidade. Uma prova aparece justamente com a nova geração do Audi RS Q3, que aqui testamos na nova carroceria Sportback, e que agora merece estar no mesmo showroom dos demais Audi RS e com a praticidade de um SUV (quase) não prejudicada. E que cor é essa? É o Verde Kyalami e faz parte do catálogo "básico" da linha RS Q3.
Não, a geração anterior do RS Q3 não tinha a carroceria Sportback, mas ele mostra o que ele pode fazer e o que esperar de seu irmão com o corpo mais "convencional". E convenhamos, este estilo diferente casou muito bem com a proposta de um SUV esportivo sem tender ao exagero - a não ser pela nada discreta cor que a unidade testada carrega e pelo estilo próprio que já esperamos de um Audi RS.
Fazer o RS Q3 Sportback não foi simplesmente criar uma traseira com o caimento mais suave do teto para a tampa. A sua carroceria é 45 mm mais baixa que do RS Q3 normal e coloque na conta mudanças desde as colunas, vidros, portas e até mesmo o teto-solar, que aqui não é do tipo panorâmico, mas sim apenas na dianteira, justamente pelo formato do teto. O estacione ao lado de qualquer SUV compacto e perceba que ele é bem mais baixo, além dos 10 mm que a suspensão esportiva tira naturalmente.
E isso combinou com o RS Q3. Na dianteira, a grade dianteira com colmeias em 3D e enormes entradas de ar combinam com os faróis fullLED, seguindo o protocolo com os apliques laterais que cobrem os 10 mm a mais de bitola no total e as rodas de 21" com largos pneus 255/35 de composto esportivo, até a traseira com o parachoque com belo extrator de ar, ponteiras ovais dupla (marca do escape esportivo RS, adaptativo) e o spoiler traseiro integrado na tampa, esta com operação elétrica.
Mas ninguém procura o teste de um esportivo sem querer saber os detalhes técnicos. Pois bem, o Audi RS Q3 manteve o lendário 2.5 de 5 cilindros turbo (EA855 evo) da marca alemã. Na comparação com a geração anterior, são 60 cv a mais, chegando aos 400 cv, e 48,9 kgfm de torque (3 kgfm extras) que se cruzam no gráfico de torque e potência (de 1.950 a 5.850 rpm e 5.850 a 7.000 rpm).
Apesar de usar a base do motor que fez a fama da Audi nas competições, pouco ele traz do passado. Feito todo em alumínio, tem pistões com refrigeração a óleo, revestimento nos cilindros, virabrequim forjado e um cabeçote com duplo comando variável, sendo que no de escape ainda há um variador de abertura das válvulas, além da injeção direta e indireta de combustível. Toda essa matemática nos leva a um motor sempre vivo e com um dos mais belos roncos do mundo automotivo.
Mas o que não me agradava na geração do Audi RS Q3 não era o motor. Já eram 340 cv, mas faltava algo. Lembro que durante um evento da marca no autódromo Velocittá, foi o único a me decepcionar, devendo bastante em dinâmica e comunicação com o motorista. Era como acelerar um SUV comum com um motorzão, mas sem qualquer coisa além disso.
Mais do que o motor com 400 cv, a grande virada do RS Q3 vem na troca da plataforma. Finalmente ele recebe a base MQB (substitui a antiga PQ35) e isso nos traz uma evolução construtiva facilmente percebida. Uma estrutura mais rígida e leve faz toda a diferença principalmente quando falamos de um esportivo que exige bastante destes componentes tanto nas acelerações quanto na dinâmica.
Ao sentar no RS Q3, já percebemos um ponto da evolução. Se antes a posição de dirigir era alta e bastante "cadeirinha", o SUV deixa o motorista em uma posição mais baixa, como um hatchback, e os comandos como volante, este revestido em Alcantara e de base reta, e pedais, com belo acabamento em alumínio, bem mais centralizados. Os bancos esportivos abraçam o corpo sem deixar de lado o conforto e completam o pacote.
O RS Q3 Sportback usa o câmbio S-Tronic (automatizado de dupla embreagem) com 7 marchas e sistema de tração integral. Nesta geração, o SUV pode ter de 50% a 100% de tração no eixo traseiro, diferente do anterior que ativava a traseira apenas quando a dianteira patinava. É uma mudança de comportamento que nos leva a desacreditar que um "SUVzinho" faz o que ele faz com tanta facilidade.
Em nossos testes, o RS Q3 Sportback cravou aceleração de 0 a 100 km/h em apenas 4,9 segundos. Um número de respeito, mas é uma sensação ainda melhor ao volante quando ele, no controle de largada, sai destracionando a traseira para, em fração de segundo, permitir a dianteira também cravar os largos pneus 255/35 R21 no asfalto. Apesar de seu porte, impõe respeito.
A dinâmica sim é algo que tira um belo sorriso do rosto. Com o clássico seletor de modos de condução (Efficiency, Comfort, auto e Dynamic), ele pode ser um SUV que faz 8,5 km/l na cidade e 12,6 km/l na estrada com uma certa dose de conforto ou um esportivo com o comportamento digno de um hatchback. Pela primeira vez, no volante temos uma tecla "RS Mode", que ativa 2 modos selecionáveis que, no meu caso, um dele era a função mais esportiva do RS Q3 em direção, suspensão, motor, transmissão e até mesmo ronco, já que agora ele traz o escapamento esportivo da linha RS para o Brasil pela primeira vez.
Com o modo RS ativo, o RS Q3 Sportback coloca ainda mais respeito com a sinfonia do 5 cilindros saindo pelo escape duplo - um dos mais belos roncos entre os esportivos, ao menos na minha opinião. Lembra da tração jogando 100% na traseira? Entro em uma curva fechada com o pé cravado e o RS Q3 me responde apontando a dianteira para dentro e me ajudando a contornar, apesar de uma leve saída de frente facilmente controlável. Uma dinâmica que faz inveja ao antigo RS Q3.
Sigo na brincadeira com o RS Q3 e aponto em outra curva, com a mesma resposta. A direção é direta e bem rápida e conversa comigo a todo momento e é sincera sobre o que acontece ali. Marcha seguida de marcha, com o clássico "tiro" pelo escapamento nas trocas, e sempre com uma vitalidade justamente pela oferta de torque e potência se cruzando no gráfico de rotação. Parece que ele quer sempre mais, mas a velocidade já era alta demais. Sem sustos, já que os freios são extremamente responsivos e não dão sinais de fadiga - e cravando 35,9 metros de 100 a 0 km/h. As pinças dianteiras são de 6 pistões com discos de 375 mm perfurados e frisados.
Mas há tempos que não precisamos nos sacrificar para ter esportivos. O RS Q3 Sportback, com a ajuda da eletrônica e da engenharia, é totalmente usável no dia a dia. A não ser pela suspensão mais firme e pneus de perfil baixo, ele se comporta quase como um Q3 normal. Entre os equipamentos, destaque para o piloto automático adaptativo, sistema de som Bang&Olufsen, ar-condicionado de 2 zonas (com saída para o banco traseiro), alerta de saída de faixas, sistema de estacionamento automático e outros. Em conectividade, espelhamento (Apple CarPlay e Android Auto) sem fio e carregador por indução.
E como a carroceria de cupê prejudica o espaço traseiro? Para as pernas, é o mesmo do Q3, mas os mais altos já ficarão com a cabeça bem mais perto do teto, principalmente com 1,80 m pra cima. No porta-malas (com abertura elétrica), os mesmos 530 litros do Q3 em sua carroceria tradicional. Totalmente plausível conviver com ele no dia a dia, sinceramente, e ainda com o direito a aquela acelerada pra apagar os problemas.
Qual o preço disso tudo? R$539.990, mas pelo menos o RS Q3 Sportback não tem aquela vastidão de opcionais que vemos normalmente nos Audi. Se fosse para escolher um RS Q3, com certeza seria nessa forma mais esportiva da carroceria, que combina bem mais com a proposta. E finalmente eu e ele nos entendemos muito bem, apagando totalmente a má impressão da geração anterior.
Fotos: Leo Fortunatti (Motor1.com) e divulgação Audi
MOTOR | dianteiro, transversal, 5 cilindros, 20 válvulas, 2.480 cm3, duplo comando com variador no escape (com variador de tempo) e admissão, injeção direta e indireta, turbo, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE |
400 cv de 5.850 a 7.000 rpm; Torque: 48,9 kgfm de 1.950 a 5.850 rpm |
TRANSMISSÃO | automatizada de dupla embreagem (S-Tronic) com 7 marchas; tração integral |
SUSPENSÃO | McPherson na dianteira e multilink na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve aro 21" com pneus 255/35 R21 |
FREIOS | discos ventilados e perfurados na dianteira e discos ventilados na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.790 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.507 mm, largura 1.851 mm, altura 1.557 mm, entre-eixos 2.681 mm; |
CAPACIDADES | tanque 60 litros; porta-malas 530 litros |
PREÇO | R$ 539.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (gasolina) | ||
---|---|---|
Audi RS Q3 2.5T | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h |
2,5 s |
|
0 a 80 km/h | 3,5 s | |
0 a 100 km/h | 4,9 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 4,2 s | |
80 a 120 km/h em S | 3,5 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 35,9 m | |
80 km/h a 0 | 22,8 m | |
60 km/h a 0 | 12,8 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 8,5 km/l | |
Ciclo estrada | 12,6 km/l |
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