Nada mais chato na era das redes sociais do que ter que ficar justificando suas ações para os outros. Até porque o que não falta hoje na internet são os "especialistas em tudo" - ou, trazendo para o setor automotivo, os chamados "pilotos de teclado". Pois imagine a ira dessa galera quando a BMW anunciou que o Série 1, único hatch de tração traseira da categoria até então, daria lugar a algo, digamos, mais tradicional na nova geração. Foi aquele linchamento...
Para os puristas, a notícia realmente pode chocar num primeiro momento, mas o fato é que para a maioria das pessoas que compra hatches médios não importa de onde vem a tração. E o antigo Série 1 era massacrado nos comparativos por ser apertado e pouco racional em relação aos rivais. Era preciso mudar. Vendo o sucesso de modelos como Audi A3, Mercedes Classe A e o próprio VW Golf, a BMW resolveu que o novo Série 1 teria motor transversal e tração dianteira (ou integral). Antes de tacar pedra, que tal dirigir? Foi o que fizemos em primeira mão no Brasil, testando este M135i xDrive vermelho das fotos.
Antes de falar do lado esportivo do M135i, primeiro é preciso apresentá-lo como o novo Série 1, afinal, é a primeira vez que temos contato com o hatch de terceira geração (já havíamos dirigido o Grand Coupé em Portugal). Se nas fotos ele parece ter sido "suvizado", com linhas semelhantes às do X2, ao vivo ele ficou mais compacto e invocado, como convém a um rival do A3. Na verdade, a altura da carroceria ficou apenas 1,3 cm mais elevada, enquanto o comprimento ficou 0,5 cm menor, seguindo ao redor dos 4,32 m.
Acontece que a mudança de plataforma garantiu um melhor aproveitamento da cabine. O motor colocado em posição transversal permite um capô menor, então é menos espaço para a máquina e mais para as pessoas. Lá dentro, de fato agora dois adultos de até 1,80 m conseguem se acomodar sem problemas no banco traseiro, graças à maior distância para o banco da frente, ao passo que o túnel da transmissão também ficou menor (lembre-se que estamos numa versão de tração integral).
Outro ponto que melhorou foi o porta-malas, agora com 380 litros (20 litros extras) e um compartimento sob o assoalho que permite levar pequenos pertences - não há estepe, pois os pneus são do tipo Runflat, que podem rodar furados até o borracheiro. Nesta versão, a tampa do porta-malas tem abertura e fechamento elétricos. Já as portas surpreendem pela leveza, facilitando no acesso e saída da cabine.
O posto de comando segue tipicamente BMW. O banco tem múltiplos ajustes elétricos, incluindo lombar e das almofadas laterais (que podem perder o corpo em maior ou menor intensidade), além de um extensor para apoio da coxas. Em conjunto com o volante M de pega grossa e amplo range de regulagem, fica muito fácil encontrar a melhor posição de dirigir. O pedal do acelerador continua incrustado no assoalho, enquanto o do freio tem o tato firme.
Em termos de desenho interno e acabamento, o Série 1 se aproxima bastante do Série 3. As linhas do painel e a distribuição dos comandos são muito semelhante entre eles, com destaque para a "ilha central" que concentra diversos comandos ao redor da alavanca de câmbio, tais como os modos de condução, o botão de partida e o freio de estacionamento eletrônico - sim, acabaram os cavalinhos de pau do freio por alavanca...
O quadro de instrumentos é digital numa tela de 10,25" e oferece três tipos diferentes de visualização, de acordo com o modo de condução escolhido (fica azul no Eco Pro e laranja com vermelho no Sport, por exemplo). Para acompanhar, a multimídia também fica numa tela de 10,2", integrando diversos comandos do carro, mas tudo com funcionamento intuitivo por meio de sub-menus, além da opção de comandos por voz (Olá, BMW). A integração com celular via Apple CarPlay e Android Auto é sem fio, temos internet a bordo via chip 4G e há um carregador wireless à frente do câmbio.
Interessante que a BMW manteve diversos comandos físicos, apesar da multimídia. Ou seja, o ar-condicionado e até mesmo o sistema de som podem ser acessados diretamente, sem desviar a atenção para procurar o menu na tela. Temos os botões do volume, mudança de estação e inclusive das memórias das rádios, com diversos comandos redundantes - você escolhe qual jeito melhor se adapta ao seu uso.
Também é possível variar as cores da iluminação interna, no painel e nas quatro portas, pela multimídia. Ah, e como um BMW da nova safra não falta toda a sorte de assistências à condução, como piloto automático adaptativo, alerta de ponto cego, frenagem de emergência automática, aviso de tráfego cruzado, alerta de saída de faixa com atuação no volante, etc.
Além de mais sofisticado, o M135i xDrive ficou mais, digamos, utilizável. Quando dirigi o Série 2 Gran Coupé em Portugal já havia comentado que me surpreendi com a suspensão, e agora isso voltou a se repetir. Claro que um hot hatch com rodas aro 18" e mais de 300 cv não vai ser macio, mas, considerando que estamos num BMW M, sua capacidade de absorver as imperfeições do piso é muito boa - não fossem os duros pneus Runflat, dava quase para dizer que o M135i é confortável.
Em relação ao antigo M140i, o rodar está mais sólido e silencioso, enquanto o vão livre aumentou de 130 mm para 143 mm, ajudando na superação da valetas, quebra-molas e entradas de garagem. Tomando certo cuidado, dá para usar diariamente sem problemas (para o carro e para sua coluna).
Considere, inclusive, o modo Eco Pro de condução como "cidade" e você terá o melhor compromisso entre consumo e manter sua CNH válida. Sim, numa cidade como São Paulo, lotada de radares de 50 km/h, qualquer distração pode se tornar uma multa a bordo desse BMW. Usando o modo econômico, o câmbio automático de 8 marchas faz as trocas bem cedo e mantém o motor 2.0 turbo em rotação baixa, manso, ideal para uso urbano. Nesta condição, registramos 8,6 km/litro de gasolina na cidade e 13,7 km/litro na estrada - marcas bem razoáveis para um esportivo desse naipe.
Saudades do 6 cilindros? Bom, só se for pelo ronco, porque na prática o novo 2.0 turbo fez o novo M135i superar o antigo na maioria das provas de desempenho (não temos o teste do M140i). E, se ninguém te contar, poucos dirão que estão num carro de 4 cilindros. O ronco não tem o borbulho dos "seis canecos", mas é grosso e empolgante na medida, incluindo aqueles "pipocos" nas trocas de marcha no modo esportivo.
Para se ter ideia, o torque de 45,9 kgfm é exatamente o mesmo do M135i de 6 cilindros, enquanto a potência de 306 cv é apenas 14 cv inferior. Peso? Praticamente o mesmo de antes, com 1.525 kg. Mas, ao dirigir, a impressão é de se estar num carro mais leve, com menos inércia.
Na pista, o M135i xDrive deu show de eficiência e mostrou que, mesmo abrindo mão da tração traseira, não perdeu a agilidade nas curvas. Nas arrancadas no modo Sport e com o controle de largada acionado, o câmbio faz trocas muito mais rápidas e bruscas que no modo normal, ajudando a levar o hot hatch aos 100 km/h em apenas 4,8 segundos, contra 5,3 s do antigo com dois cilindros extras. Já as retomadas ficaram no mesmo patamar de antes, com 3,8 s de 40 a 100 km/h e 3,4 s de 80 a 120 km/h. Por fim, as frenagens foram boas (38,5 metros quando vindo a 100 km/h), mas sem números de destaque.
É na tocada que o Série 1 esportivo surpreende. Para reduzir a tendência dos carros de tração dianteira e integral a subesterçar, ou seja, alongar a trajetória da curva, a BMW desenvolveu um controle de tração chamado ARB (do alemão Aktornahe Radschlupfbegrenzung), que pode ser traduzido como um atuador de limitação de deslizamento das rodas.
O que muda principalmente é que o sistema fica integrado à unidade eletrônica do motor, e não mais no controle de estabilidade como antes. Isso permite, segundo a marca, uma transmissão de informação até três vezes mais rápida, para melhorar a precisão da resposta, reduzir as perdas de aderência e os movimentos da direção sob aceleração total (o famoso torque steer). Além disso, o sistema BMW Performance Control atua sobre os freios das rodas internas à curva, de modo a melhorar a entrada de curva e reduzir a saída da frente.
E como isso aparece na prática? Bom, digamos que no limite o novo M135i desgarra de lado, com uma leve tendência de traseira, enquanto a frente fica ali, grudada aonde você apontou o volante. Isso não só permite que a gente entre mais rápido na curva como também se divirta no contorno dela com leves correções. Para os menos experientes, também é um comportamento mais seguro que o antigo, com sua traseira "animada" que podia assustar em algumas ocasiões.
Some isso à direção precisa e com bom peso (principalmente no modo Sport), ao motor explosivo e ao câmbio esperto e temos um dos melhores hot hatches do mundo, mesmo abrindo mão da tração traseira. É mais um caso de não julgar pela ficha técnica. Daí a importância de experimentar antes de sair metralhando na rede social, não é mesmo?
PS: eu não esqueci do preço, mas achei melhor deixar aqui no rodapé para vocês curtirem o carro sem pensar na conta, porque ela é salgada: R$ 297.950 - ainda assim o mais "barato" BMW com mais de 300 cv.
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, 1.998 cm³, injeção direta, turbo, intercooler, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE |
306 cv de 4.500 a 6.250 rpm / 45,9 kgfm de 1.750 a 5.000 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático de 8 marchas; tração integral |
SUSPENSÃO | independente McPherson dianteira e multilink na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve aro 18" com pneus 225/40 R18 |
FREIOS | discos ventilados nas quatro rodas com ABS e ESP |
PESO | 1.525 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.319 mm, largura 1.799 mm, altura 1.434 mm, entre-eixos 2.670 mm |
CAPACIDADES | tanque 50 litros; porta-malas 380 litros |
PREÇO | R$ 297.950 |
MEDIÇÕES MOTOR1 | ||
---|---|---|
BMW M135i xDrive | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 2,3 s | |
0 a 80 km/h | 3,4 s | |
0 a 100 km/h | 4,8 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 3,8 s | |
80 a 120 km/h em S | 3,4 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 |
38,5 m |
|
80 km/h a 0 | 24,3 m | |
60 km/h a 0 | 13,8 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 8,6 km/l | |
Ciclo estrada | 13,7 km/l |
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