Talvez você não lembre, mas o Renault Sandero foi um dos primeiros carros de entrada a ter opção de câmbio automático no Brasil. Isso aconteceu em 2011 e a caixa de 4 marchas estava ligada ao antigo motor 1.6 16V da Renault, com até 112 cv e 15,5 kgfm de torque. A segunda e atual geração do Sandero aposentou este conjunto e colocou no lugar o câmbio automatizado Easy R num momento em que diversas marcas estavam desistindo deste tipo de transmissão.
De fato, a própria Renault sabe que o Easy R empacou pelos mesmos problemas que ficaram conhecidos em outros automatizados de embreagem simples, como os trancos e lentidão nas trocas. Para complicar, recentemente chegaram os Ford Ka e VW Gol com transmissões automáticas "de verdade". A partir disso, a espera pelo Sandero (e também Logan e Stepway) com a transmissão CVT (que já equipa Captur, Duster e Duster Oroch) começou a esquentar.
E aqui está ele. A principal novidade na linha 2020 do Sandero e seus derivados é a transmissão CVT, que está disponível nas versões Zen e Intense (que tomam o lugar das antigas Expression e Dynamique). Mas antes vamos começar por outros aspectos. A reestilização demorou porque boa parte do design foi elaborado no Brasil e é diferente (e mais profunda) do que o encontrado em outros mercados, como na Europa.
Para se afastar do aspecto de modelo de entrada - e do Kwid -, o Sandero ganhou detalhes cromados, linhas mais definidas nos para-choques e lanternas traseiras que invadem a tampa com assinatura em LEDs (inspiradas no Mégane europeu), assim como os faróis com LEDs de luz diurna em todas as versões. A maçaneta e abertura deram lugar a um botão escondido dentro do losango da Renault, que por sua vez agora fica sobre um ressalto na chapa, em destaque.
No interior, as mudanças foram bem pontuais. Os comandos dianteiros dos vidros elétricos traseiros passaram do console central para a porta do motorista, e esta agora recebe acabamento em tecido ou couro, dependendo da versão. O novo volante veio do Clio europeu, com desenho mais harmônico, mas os comandos do sistema de som ainda estão em uma alavanca na coluna, assim como o botão para ligar o piloto automático se manteve no painel. As colunas e o teto receberam acabamento escurecido em todas as versões.
Os bancos mudaram com dupla função. Além de abrigar os airbags laterais (agora de série em todas as versões), eles ganharam novas espumas e laterais mais pronunciadas em prol do conforto dos ocupantes, além de terem novo tecido para dar sensação de frescor ao interior já conhecido. Já que estamos falando em segurança, a Renault reforçou a estrutura do Sandero (que não foi tão bem no Latin NCAP) e isso deu a ele 14 kg a mais. As versões com câmbio CVT e a esportiva R.S. recebem os controles de tração e estabilidade e assistente de partida em rampas, itens que também deveriam constar das demais versões, ainda que como opcional.
Como já aconteceu em outros Renault, a central multimídia Media Evolution agora traz conexão Apple CarPlay e Android Auto, além da tela capacitiva, mas não levou a tomada USB para um ponto mais baixo do painel, como no Kwid 2020, e a manteve logo acima da tela, sujeita a esbarrões e olhares alheios. A chave canivete é um pequeno detalhe que agora é item de série.
Percebeu que o Sandero das fotos tem apliques nos para-lamas e é mais alto? Não, ele não é o novo Stepway. Esse carro 40 mm elevado e com plásticos nas coberturas de roda é o Sandero CVT - e nem adianta falar que prefere comprar o seu sem isso pois é algo proposital e não apenas estético. O que chegou a ser julgado como uma versão aventureira abaixo da Stepway na época dos flagras é, na verdade, uma solução obrigatória para que a caixa CVT do Captur e Duster entrasse no Sandero.
A explicação é que o formato da caixa CVT X-Tronic é diferente das demais e, se instalada na altura "normal" do Sandero, ficaria muito próxima do chão e com risco de ser danificada em lombadas maiores e buracos mais profundos, por exemplo. A solução foi elevar a suspensão e colocar rodas de 16" com pneus 205/55. Para disfarçar esse incremento, vieram os apliques plásticos.
A Renault apresentou o Sandero CVT para um grupo restrito de jornalistas em um dia tipicamente paulistano. A chuva caía forte na cidade e, com isso, o trânsito estava mais travado que o normal. Era a situação quase perfeita para avaliar um carro que aposenta o pedal de embreagem e tem proposta urbana. De cara, o visual agrada mais pessoalmente do que pelas fotos, principalmente as grandes lanternas traseiras e os faróis com as luzes diurnas em LEDs.
O motor 1.6 SCe é moderno e agrada. Feito em alumínio, tem soluções como injetores instalados no cabeçote (diferente da injeção direta, apenas jogando o combustível diretamente na área de admissão), radiador de óleo e duplo comando com variador na admissão. Rende até 118 cv e 16 kgfm de torque com pico a 4.000 rpm, mas entrega isso de forma linear desde baixas rotações. Chamado se X-Tronic CVT, este câmbio é uma evolução do que encontramos, por exemplo, no Nissan March. Bem casado ao motor, aproveita esta força em baixas rotações para colocar os 1.140 kg do Sandero em movimento, além de ter o conforto da condução "lisa", sem trocas de marcha.
A suspensão 40 mm elevada do Sandero CVT fez bem ao modelo, que é mais confortável e enfrenta os obstáculos urbanos com mais tranquilidade, além de ter melhor absorção dos impactos. Pena que a Renault insistiu na direção eletro-hidráulica (até o Kwid tem sistema totalmente elétrico), pesada para manobrar e em baixas velocidades, mas ainda comunicativa em velocidades mais altas.
O Sandero CVT tem a capacidade de simular 6 marchas, mas as trocas acontecem apenas pela (alta) alavanca do câmbio. Como dito anteriormente, o trânsito travado não permitiu que eu fizesse uso de tal artifício, mas os 11 segundos no 0 a 100 km/h divulgados pela Renault parecem plausíveis considerando a potência do 1.6 e a (boa) disposição do Sandero neste test-drive. O consumo também será algo que traremos em breve, com a publicação de um teste completo do modelo.
Com preços de R$ 62.990 (versão Zen) e R$ 65.490 (Intense), o Sandero CVT entra em uma briga por um novo cliente, o dos populares automáticos, contra uma turma que inclui Fiat Argo 1.8 AT Precision (R$ 63.590), Ford Ka 1.5 AT (de R$ 55.790 a R$ 68.990) e ainda terá pela frente os novos Chevrolet Onix e Hyundai HB20 ainda este ano.
Sim, o Renault Sandero 2020 ficou mais refinado e se afastou do Kwid. Porém ainda é o Sandero que já conhecemos de alguns anos: agrada pelo espaço interno e confiabilidade, mas não é tão atual quanto Argo e Polo e ainda terá a concorrência dos novos Onix e HB20 em breve.
Fotos: divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.597 cm³, duplo comando com variador na admissão, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
115/118 cv a 5.500 rpm / 16,0 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático CVT com simulação de 6 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve de 16" com pneus 205/55 R16 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EDB |
PESO | 1.140 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.070 mm, largura 1.730 mm, altura 1.570 mm, entre-eixos 2.590 mm |
CAPACIDADES | tanque 50 litros; porta-malas 320 litros |
PREÇO | R$ 65.490 (Intense) |
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