As últimas notícias ligadas à Ford Brasil não foram das mais animadoras: fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo (SP) e consequente fim do Fiesta, e o encerramento da produção do Focus e Focus Fastback na Argentina, que significará a saída da marca do segmento de hatches e sedãs médios. Para piorar, a marca já anunciou que deixará de fazer o Fusion nos próximos anos, o que deixa em aberto seu futuro também em nosso mercado.
O fato é que a Ford vem passando por, talvez, a maior transformação de sua história. Nos EUA, a marca revelou que deixará de apostar em hatches e sedãs para investir exclusivamente em SUVs, crossovers e picapes. A estreia da nova geração do Escape, SUV do Focus, deu uma ideia do que podemos esperar: crossovers com cara mais de carro e menos de jipe, para substituir os hatches e sedãs. Por outro lado, haverá também uma linha mais robusta, onde estarão o Bronco e o baby-Bronco, além das picapes. Pela primeira vez, a Ford terá uma picape de porte médio-compacto de construção monobloco, como a Fiat Toro, que será vendida inclusive no Brasil entre 2021 e 2022.
O problema é que a Ford precisa de notícias boas para o mercado brasileiro, e para já. E aí entra o Edge ST desta reportagem. Mostrado no Salão do Automóvel do ano passado, ele estreia fazendo o papel de "esportivo familiar". A marca se disse surpresa com a grande demanda pelo Mustang no país e quer fazer do Edge ST uma opção com desempenho forte sem abrir mão do espaço e conforto para a prole.
O ST corrige de cara a maior falha do Edge Titanium importado anteriormente, isto é, a falta do motor EcoBoost. No lugar do antigo 3.5 V6 aspirado, de 284 cv e 34,5 kgfm, entra o novo 2.7 V6 biturbo com injeção direta, que entrega 335 cv e 54,5 kgfm. Para acompanhar, agora temos um câmbio automático de 8 marchas no lugar do antigo de 6 posições, e agora com seletor giratório em vez da alavanca tradicional, além das borboletas para trocas manuais no volante.
Como esperado num ST, suspensão e direção têm ajustes próprios, enquanto as rodas são aro 21" com gigantescos pneus 265/40 R21 - no lugar dos 245/50 em rodas 20" da antiga versão Titanium. Por dentro, a versão esportiva se destaca pelos bancos exclusivos de couro e camurça (com refrigeração e aquecimento), além do volante e soleiras personalizadas. O sistema de som premium da Bang & Olufsen com 12 alto-falantes também merece menção, assim como as telas de 8" traseiras que complementam a multimídia SYNC 3 de 8" com DVD na dianteira - elas podem ser usadas de forma simultânea ou separada para vídeos, jogos ou simplesmente para ouvir música.
O motor V6 turbo impressiona pelos números, mas o Edge ST é um mamute que supera as 2 toneladas - 2.031 kg para ser mais exato. Então, apesar da potência e torque abundantes, o SUV tem uma inércia grande, e isso pode ser sentido diversas vezes ao rodarmos com o ST. Não que o desempenho deixe a desejar, pelo contrário, como mostrou ao acelerar de 0 a 100 km/h em 6,6 segundos - tempo de VW Golf GTI. A questão é que depois dos 160 km/h ele perde um pouco do ímpeto e demora até atingir os 200 km/h (pista de testes fechada, hein, pessoal!). Isso porque, além de grande e pesado, a aerodinâmica do bicho também não colabora.
Chamar o ST para uma dança numa estrada de serra também não é uma ideia das melhores. Isso porque a suspensão, apesar de firme, não consegue conter a oscilação da carroceria e, ao menor sinal de desequilíbrio, o controle de estabilidade intervém e acaba com a brincadeira. O câmbio também não aceita reduções radicais e nem sempre é rápido nas mudanças, tirando um pouco da animação. Já a direção tem peso adequado e permite boa leitura do solo. Por fim, nas frenagens, esperávamos um resultado melhor que os 42,3 metros percorridos de 100 km/h até a parada completa - novamente culpa do peso excessivo.
SUVs grandes e esportivos podem funcionar, como mostram o BMW X6 e o Porsche Cayenne, mas é uma equação difícil de acertar. Digamos que o Edge ST está mais para um SUV de luxo com boa performance. Se você encará-lo assim e parar de exigi-lo como carro esporte, aí as coisas ficam mais interessantes. Ele tem gadgets legais e tecnologias de assistência ao condutor que estão nos melhores alemães e suecos, como alerta de saída de faixa, frenagem automática de emergência e piloto automático adaptativo com função stop and go, ou seja, que acompanha o trânsito urbano.
A questão final é que o Edge ST não apenas tem motor e equipamentos de marca premium, como também cobra o preço dos rivais mais refinados. Pelos R$ 299 mil pedidos pela Ford, por exemplo, a Volvo oferece o XC60 T8 R-Design (R$ 299.950), que tem nada menos que 407 cv gerados pelo conjunto de propulsão híbrido.
Fotos: divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, 6 cilindros em V, 24 válvulas, 2.700 cm3, biturbo, injeção direta, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE |
335 cv a 5.000 rpm / 54,5 kgfm a 3.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automático de 8 marchas; tração integral |
SUSPENSÃO | independente McPherson dianteira e independente multibraços na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve de aro 18" com pneus 225/45 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira nas quatro rodas, com ABS e ESP |
PESO | 2.031 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.790 mm, largura 1.934 mm, altura 1.730 mm, entre-eixos 2.850 mm |
CAPACIDADES | tanque 70 litros, porta-malas 602 litros |
PREÇO | R$ 299.000 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (combustível gasolina) | ||
---|---|---|
Edge ST | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 3,1 s | |
0 a 80 km/h | 4,6 s | |
0 a 100 km/h | 6,6 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 5,2 s | |
80 a 120 km/h em S | 4,2 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 42,3 m | |
80 km/h a 0 | 27,1 m | |
60 km/h a 0 | 15,1 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 7,1 km/l | |
Ciclo estrada | 11,5 km/l |
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