Muitos dos fãs gostam do Civic, mas é Accord que serve de exemplo do que a Honda pode fazer no segmento do sedãs. Afinal, ele já foi o carro mais vendido da marca nos Estados Unidos, onde ainda enfrenta rivais fortes como Toyota Camry e Nissan Altima. Perdeu espaço nos últimos anos, sendo ultrapassado pelo CR-V e pelo Civic, por conta na demora na troca de geração e, claro, pela nova preferência do público, os SUVs.
Embora seja muito bem visto nos EUA, o Accord não tem o mesmo prestígio no Brasil. A nova geração chega por aqui com preço salgado: R$ 198.500. É um valor que o coloca bem no meio dos alemães, as referências para quem compra sedãs acima de R$ 150 mil. Vale a pena deixar de levar um Audi ou BMW para escolher um Honda? É o que vamos ver neste teste.
A décima geração do Accord foi apresentada em 2017 e estreou algumas novidades na Honda. Para começar, trouxe a nova identidade visual da empresa, que está sendo levada para outros modelos, como o híbrido Insight e o futuro City. O motor 3.5 V6 foi trocado por um 2.0 turbo de 4 cilindros, com menos potência e mais torque. E ainda recebeu um câmbio automático de 10 marchas. Esqueça o CR-V, é o Accord que mostra o potencial da Honda.
A maioria das pessoas diria que o Accord deu um passo atrás ao deixar de lado o motor 3.5 V6 de 280 cv e 34,6 kgfm de torque a 4.900 rpm. Vamos com calma. O 2.0 turbo gera 258 cv a 6.500 rpm e 37,7 kgfm entre 1.500 e 4.000 rpm. Sim, perdeu 22 cv, mas ganhou 3,1 kgfm e sua força aparece muito mais cedo do que no V6. Não convenceu? E se eu disser que este motor é uma versão "amansada" do usado no Civic Type-R?
O desempenho forte ficou claro em nossas medições. Embora não tenha pretensão esportiva, o sedã levou apenas 6,6 segundos para chegar a 100 km/h e a retomada mais demorada foi a de 40 a 100 km/h, em 4,6 segundos. Com 10 marchas, a Honda poderia ter se embananado na hora de montar as relações, mas mostrou competência. O câmbio é ágil e suave a ponto de não exigir trocas manuais mesmo quando pisamos fundo. O que estranhei um pouco foi o acionamento da transmissão, por meio de botões no console central. Se deixar o carro em um estacionamento com manobrista, não esqueça de avisar que a ré é ativada pressionando um botão um pouco escondido.
Assim como os sedãs alemães, o Accord tem o rodar um pouco mais firme se comparado ao Civic. Não quer dizer que seja desconfortável - a suspensão trabalha bem na maior parte do tempo. Porém, em uma situação mais exigente, ele transmite mais as irregularidades da pista do que seu irmão menor. O lado bom é que este acerto deixa o sedã afiado nas curvas e grudado no chão. Esportividade e conforto é uma boa combinação, principalmente neste segmento.
A decepção veio no consumo urbano. A marca diz que ele faz 9 km/litro na cidade, valor que até pode ser alcançado em situações de trânsito livre. Mas basta entrar em uma via com muitos semáforos ou cair em um congestionamento para ver o rendimento desabar. Ao longo de nosso teste, a média urbana ficou em 6,4 km/litro. Um sistema start-stop teria ajudado a resolver este problema. Já na estrada o resultado foi bem melhor, marcando 15,1 km/litro, enquanto o divulgado pela empresa de 12,3 km/litro.
A tendência dos sedãs de luxo é oferecer tecnologias de condução semi-autônoma, pela combinação do piloto automático adaptativo com função stop-and-go (parando e voltando a andar automaticamente, seguindo o carro à frente), com o assistente de permanência em faixa. Isso faz com que o carro seja capaz de acompanhar o trânsito e ainda faça curvas leves virando o volante sozinho.
O Accord chega perto de fazer isso. No papel, ele tem tanta capacidade quanto os demais, só que ele depende de ruas e estradas com faixas bem pintadas e, ainda assim, não é uma garantia. Em uma semana de teste, tentando usar a função em diversas situações, o assistente de faixa só funcionou três vezes - e em uma delas, ele desativou poucos segundos depois.
É uma pena pois, quando funciona, o sistema é muito competente. O normal é que o carro faça um leve zigue-zague para determinar o limite da faixa, mas o Accord não precisa disso, já ficando posicionado exatamente no meio da faixa de rolagem.
A Honda tem como objetivo fazer com que todos os seus carros tenham o pacote Honda Sensing em 2022. O pacote traz uma série de equipamentos de segurança, como sistema de frenagem de emergência, sensor de ponto cego, assistente de faixa, mitigação de evasão de pista e o controle de cruzeiro adaptativo. Ainda tem oito airbags de série e controles de estabilidade e tração.
Além do sistema semi-autônomo, o Accord traz muito mais tecnologias. Conta com um head-up display com diversas funções, como mostrar a próxima instrução do navegador ou o conta-giros. Dê a seta para a direita e a central multimídia ativa a câmera posicionada abaixo do retrovisor lateral direito, eliminando de vez o ponto cego do lado oposto do motorista.
A central multimídia é a melhor da empresa, com boa resposta e facilidade de manuseio, além de parelhar celulares via Android Auto e Apple CarPlay. Está conectada a um sistema de som de 452 watts de potência e 10 alto-falantes, o que se traduz em um áudio de ótima qualidade. E, para garantir que você vai pode aproveitar este som, o Accord é equipado com um sistema chamado Active Sound Control, que emite sons na frequência contrária ao ruído detectado. Some isso ao ressonador na roda, que também elimina o ruído do asfalto, e temos uma cabine extremamente silenciosa.
As fabricantes ainda estão mexendo nas medidas de seus sedãs, algumas esticando, outras deixando-os mais largos. A Honda deixou o Accord mais dinâmico ao reduziu o comprimento em 14 milímetros, agora com 4,88 metros, e ainda o deixou 15 mm mais baixo, com 1,46 m. Ao mesmo tempo, aumentou a largura para 1,86 m (12 mm a mais) e esticou o entre-eixos para 2,83 m (15 mm maior).
Com essas medidas, o sedã oferece muito espaço interno tanto na frente quanto atrás, e ainda um porta-malas enorme de 574 litros. É capacidade suficiente para fazer alguém olhar com mais carinho para ele do que para um SUV. Como comparação, o CR-V 2019 tem espaço para 522 litros. Só que ser grande assim tem seu lado ruim. O diâmetro de giro é pequeno e, somado ao tamanho do sedã, faz com que manobras em vagas apertadas exijam paciência e atenção dobrada.
Os defeitos do novo Honda Accord são pequenos. Faltou um pouco de nacionalização para que o sistema semi-autônomo conseguisse ler as faixas mal pintadas das ruas brasileiras e o consumo na cidade não é dos melhores. O preço assusta, ainda mais que você pode olhar para carros como Audi A4, BMW Série 3 e Mercedes Classe C. Porém, o porte e as tecnologias embarcadas o deixam mais próximo de modelos acima, como A6, Série 5 e Classe E. Dentro da Honda, o Accord mostra que é possível ter um sedã mais gostoso de dirigir e mais espaçoso que o CR-V, tabelado a R$ 189.000.
Fotos: divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, 1.998 cm3, injeção direta, turbo, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE |
256 cv a 6.500 rpm; 37,7 kgfm entre 1.500 rpm e 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático com 10 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e multilink na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 18" com pneus 235/45 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.547 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.889 mm, largura 1.862 mm, altura 1.460 mm, entre-eixos 2.830 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 574 litros, tanque 56 litros |
PREÇO | R$ 198.500 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
Honda Accord 2.0T | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 3,3 s | |
0 a 80 km/h | 4,8 s | |
0 a 100 km/h | 6,6 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em D | 4,6 s | |
80 a 120 km/h em D | 4,2 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 38,7 m | |
80 km/h a 0 | 24,3 m | |
60 km/h a 0 | 13,6 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 6,4 km/l | |
Ciclo estrada | 15,1 km/l |
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