Se um dia os produtos made in China foram motivos de piadas e dúvidas, o novo JAC T40 com câmbio CVT mostra que isso caminha para o fim. Basta ver qual mercado está cada vez mais preparado para a eletrificação, o próximo grande passo da indústria automobilística, e entendemos o que os chineses estão fazendo: evoluindo rapidamente.
A JAC chegou ao Brasil em 2011, durante o boom das chinesas no mercado brasileiro. De várias que tentaram a sorte, poucas sobreviveram e menos ainda têm realmente uma participação relevante, tanto em vendas quanto em importância. Além da JAC, de Sergio Habib, podemos citar a Chery, que agora está nas mãos da Caoa e promete vários lançamentos de peso, e a Lifan, esta ainda como coadjuvante.
Aquele momento foi importante para o mercado brasileiro. A partir dali, as grandes montadoras locais precisaram se mexer e equipar seus modelos de entrada sem subir muito o preço, já que os chineses tinham um bom pacote de equipamentos com valores agressivos. Ao mesmo tempo, porém, muita gente torceu o nariz para automóveis que não tinham a mesma qualidade dos nacionais e importados de países mais tradicionais.
Mas, como já disse, os chineses estão evoluindo. E não apenas quando falamos em geração para geração, mas as melhorias feitas de ano para ano também são notórias. Menos de um ano depois da chegada do JAC T40 1.5 manual, a versão com câmbio CVT chegou às lojas e, mais do que simplesmente eliminar o pedal de embreagem, explica a teoria descrita acima.
Além do câmbio automático, o T40 traz ao Brasil o novo motor 1.6 Green Jet, que, além de maior cilindrada, tem cabeçote com duplo comando variável (admissão e escape). Não ganha tanto em números quando comparado ao 1.5 (apenas 1 cv e 1,4 kgfm de torque), mas muda o cenário quando falamos na forma como entrega esta força. As respostas em baixas rotações são claramente melhores, mesmo com o 1.6 ainda sendo abastecido apenas com gasolina, enquanto o motor anterior (que se mantém no restante da linha) é flex. Segundo a JAC, esta "conversão" demoraria cerca de um ano e atrasaria os planos da marca para 2018 com o T40.
Se você pensa que por ser um chinês, o T40 traz um câmbio antigo, errou. O funcionamento é suave, com as transições de relações sem trancos e repostas rápidas. Não é tão avançada quanto a caixa utilizada, por exemplo, no Nissan Kicks e sua simulação de 7 marchas mesmo no modo automático. Por outro lado, o da JAC simula 6 marchas nas trocas manuais, com comportamento bem semelhante ao de um câmbio com engrenagens comuns.
O motor também colabora. O GreenJet é consideravelmente melhor que o 1.5, vibrando menos e entregando respostas mais prontas em baixas rotações. Nos números de teste, foi 0,3 segundo mais rápido no 0 a 100 km/h (11,9 s) que o 1.5 manual, mas suavidade de funcionamento é bem superior. Enquanto a versão manual recebeu duras críticas pelo acerto do acelerador e embreagem, esta nova versão surpreendeu positivamente. O consumo foi bom na cidade, com 10,6 km/l, mas apenas razoável na estrada, com 12 km/l.
Se compararmos o T40 com outro SUV 1.6 CVT, o Nissan Kicks, ele é 0,3 segundo mais lento até os 100 km;h, mas o chinês é cerca de 80 kg mais pesado que o japonês. Conseguiu ter praticamente o mesmo número na frenagem, ajudado pelos discos nas quatro rodas (e suas pinças vermelhas de gosto duvidoso), com 41 metros na parada completa quando vindo a 100 km/h. Em preto ou prata ficaria mais discreto e combinaria mais com a proposta de um crossover.
A suspensão também foi melhorada. As buchas e batentes foram revistos e agora o T40 se aproxima do amortecimento de modelos mais tradicionais de nosso mercado. Ainda bate seco em algumas situações, principalmente buracos mais profundos ou situações onde há vários remendos no asfalto. Mas, se comparado aos primeiros T40 que testamos, é digno de aplausos. Falta apenas um ajuste fino. O mesmo vale para a direção elétrica, que é leve nas manobras e para rodar na cidade, mas tem pouca comunicação em velocidades mais altas, como estradas, e isso transmite certa insegurança.
O T40 foi projetado inicialmente como sucessor do hatch J3. Mas Habib, "dando seus pitacos", o transformou em um crossover, de olho na tendência do mercado. O modelo chama a atenção por seu desenho, principalmente do público que não tem tanto conhecimento sobre automóveis. Querem saber que carro é, quem o faz, quanto custa. Ficam animados ao ver o acabamento interno, que é realmente bom, com destaque para os componentes de toque macio no painel. O espaço interno fica entre os Onix Activ e HB20X e a turma do Creta e Kicks, com boa acomodação para quatro adultos. Já o porta-malas, com 450 litros, é raso pela presença de uma divisória de isopor, que eu tiraria para aumentar o espaço.
Então o T40 chegou ao nível dos rivais tradicionais? Bom, no geral ainda não. Os chineses evoluíram na construção, desenho e, agora, mecânica. Mas tentam oferecer tecnologias que ainda precisam de mais desenvolvimento. O sistema start-stop, por exemplo, desliga o sistema de som ao religar o carro de tanta corrente necessária. A central multimídia tem tela de 8", mas não oferece qualquer conectividade além do Bluetooth e USB. O painel de instrumentos, com uma boa tela central, tem os demais instrumentos pequenos e com operação por um complicado botão no lado esquerdo. Fiquei alguns minutos entendendo que a seção "odômetro" era, na verdade, a autonomia que eu tinha ainda com aquele tanque.
A unidade avaliada também estava com um problema na montagem que não permitia o fechamento perfeito do capô (em velocidade ele acusava estar aberto no painel). Ah, um conselho: não compre com o teto preto. É um envelopamento que, de perto, não engana ninguém. Ao menos, o T40 CVT oferece controles de tração e estabilidade e assistente de partida em rampas como item de série, e eles funcionam como devem.
Por R$ 70.990, o JAC T40 CVT está de olho na turma de baixo (Onix Activ, HB20X, Ka Freestyle). Oferece mais espaço e porte que eles, mas ainda deve um rede maior de concessionárias e mais confiabilidade da marca. O público ainda tem "medo" de comprar um carro chinês, justamente pelo preconceito e, principalmente, pela forma como foram apresentados ao mercado, como produtos baratos e e de baixa qualidade. Um bom caminho para reverter isso (ou ao menos vender mais) seria praticar preços realmente competitivos, mais distantes dos modelos tradicionais do mercado. Mas as chinesas dizem que isso é impossível.
Fotos: divulgação / Vídeo: Paulo Henrique Trindade
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.590 cc, 16 válvulas, duplo comando variável, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE |
138 cv a 6.000 rpm; 17,1 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automática tipo CVT com simulação de 6 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio aro 16" com pneus 205/55 R16 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS |
PESO | 1.220 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.135 mm, largura 1.750 mm, altura 1.568 mm, entre-eixos 2.490 mm |
CAPACIDADES | tanque 42 litros, porta-malas 450 litros |
PREÇOS | R$ 70.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
JAC T40 CVT | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 5,7 s | |
0 a 80 km/h | 8,3 s | |
0 a 100 km/h | 11,9 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 9,0 s | |
80 a 120 km/h em S | 8,8 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 41,0 m | |
80 km/h a 0 | 26,1 m | |
60 km/h a 0 | 14,9 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 10,6 km/l | |
Ciclo estrada | 12,0 km/l |
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