A Fiat foi agressiva quando posicionou o Cronos no mercado. Desde a primeira apresentação do sedã, ainda na Argentina, a marca italiana deixou claro que sua principal missão não é brigar com o VW Virtus ou Honda City (embora sua versão de topo brigue em preço com estes rivais indiretos, como mostramos no comparativo passado). O alvo prioritário é produzido em Gravataí (RS) e atende pelo nome de Chevrolet Prisma. Não por acaso, o sedã mais vendido do país.
Então, reunimos o Fiat Cronos Drive 1.3 (com todos os opcionais disponíveis) e o Chevrolet Prisma LTZ 1.4, ambos com câmbio manual, para um duelo que responderá qual o mais espaçoso, qual anda melhor, o mais equipado e, no fim, qual merece sua garagem entre esta dupla que se cruza na faixa dos R$ 63 mil.
Em 2013, o Prisma deixou de ser um simples "Celta sedã" para se tornar um membro da família Onix, então uma novidade. Para ele, esta evolução foi extremamente positiva, deixando de lado um interior simples e apertado para se colocar como uma das referências no segmento preferido das famílias brasileiras. Não à toa, o modelo assumiu a liderança de vendas da categoria e a mantém até hoje, mesmo com uma crescente concorrência.
Uma das provas desta evolução está no entre-eixos praticamente igual ao do Cronos (2.528 mm contra 2.521 mm), mesmo sendo um projeto mais antigo. Em compensação, largura e altura do Fiat são maiores, o que resulta em melhor acomodação dos passageiros, principalmente no banco traseiro. Se para as pernas ambos são bem parecidos, para a cabeça e ombros, ainda mais quando há três pessoas atrás, o novato faz valer seu projeto com base num hatch maior (Argo).
Mas mais do que isso, o Cronos ganha no conforto. Seus bancos são maiores e mais aconchegantes, principalmente os assentos, tanto na frente quando atrás. Para o motorista, o Prisma é a escolha de quem gosta de uma posição bem alta, que chega a ser exagerada. Como a regulagem de altura é limitada, mesmo na regulagem mais baixa, a cabeça fica perto do teto (tenho 1,65 m de altura) e o painel de instrumentos, baixo. No Cronos, a posição também é elevada, mas a regulagem de altura mais ampla permite se posicionar mais baixo e o painel fica diante de você, não abaixo. No entanto, o puxador de porta saliente esbarra na perna esquerda, coisa que não acontece no rival.
O Fiat também é melhor no acesso à maioria dos comandos. Por exemplo, o botão de regulagem dos retrovisores externos está na porta, enquanto o Prisma pede uma esticada de braço até a coluna A. O mesmo vale para a central multimídia MyLink 2, que fica um pouco baixa, enquanto o Fiat adotou a tela flutuante, que a deixa bem à mão. No sedã argentino, acessar qualquer comando exige menos tempo de desatenção ao trânsito que no gaúcho da GM.
Porém, a parte mais importante de um sedã é o porta-malas. E neste ponto, o Cronos leva a vantagem mais uma vez. São 25 litros a mais (525 contra 500) de capacidade, conseguido com seus 8 cm extras de comprimento. Além disso, a tampa abre sozinha quando acionada, com a ajuda de duas molas à gás - o que é bom quando estamos com as mãos carregadas. No Prisma, a abertura elétrica apenas destrava a tampa, ficando a seu cargo puxá-la para cima. Com o encosto rebatido, o Cronos cria um piso quase plano por permitir rebater também o assento, enquanto o Prisma fica com um degrau considerável.
Mesmo sendo uma versão intermediária, o Cronos Drive não deve nada ao topo de linha Precision no acabamento. Ele segue o (bom) padrão do Argo, com plásticos rígidos texturizados e de boa qualidade, com peças alinhadas. Difícil achar um vão maior entre as partes do painel, nem mesmo entre as portas e o próprio painel. Adotar o mesmo padrão de construção aplicado em Goiana (PE) para os Jeep Renegade/Compass e a picape Toro foi uma decisão acertada da FCA para Betim (MG).
O Prisma melhorou quando foi reestilizado em 2016. Mas seus plásticos possuem aspecto mais simples que os do Cronos, e também há alguns problemas de montagem. Na tampa do porta-luvas, por exemplo, já vimos diferentes gaps de montagem conforme as unidades do sedã que passaram pelos nossos testes. No encaixe entre as portas e o painel, fica um degrau de um lado e no outro não. São falhas que não esperamos ver num carro que ultrapassa os R$ 60 mil. Por outro lado, o sedã do Onix traz couro nos bancos (parcial) e no volante, algo que o Cronos só dispõe na versão Precision.
Em termos de equipamentos, Prisma e Cronos são similares. Quando equipamos totalmente o Fiat (e seu preço fica alinhado com o do GM), temos direção elétrica com regulagem de altura, conjunto elétrico (4 vidros, travas e retrovisores), sistema multimídia com tela de 7" e espelhamento de smartphone, ar-condicionado analógico, sensor de ré com câmera, rodas aro 15" de liga, faróis de neblina, computador de bordo (mais completo e com tela de melhor definição no Fiat), banco do motorista com regulagem de altura e fixação Isofix em dois pontos do banco traseiro. O Prisma oferece a mais o acabamento em couro e o serviço OnStar, mas o Cronos vem com cinto de 3 pontos para os 5 ocupantes do carro, enquanto o quinto do Chevrolet só tem a fita sub-abdominal e não há encosto de cabeça central.
Ambos ficam devendo os controles de tração e estabilidade. O caso do Cronos é mais difícil de explicar, já que a versão 1.3 GSR (com câmbio automatizado) oferece esses itens de série, assim como o assistente de partida em rampas, e ambas compartilham a arquitetura eletrônica. No Chevrolet, o ESP não foi previsto para esta geração de Onix/Prisma e não equipa nenhuma das versões. Piloto automático? Apenas nas versões sem o pedal de embreagem.
Em 2016, a Chevrolet fez uma intensa atualização de seus motores 1.0, 1.4 e 1.8. Enquanto não chega uma nova família de propulsores, os engenheiros trabalharam para reduzir atrito e peso dos componentes internos e periféricos. O resultado foi uma melhora considerável em consumo e suavidade de funcionamento. Por outro lado, o Firefly é um motor totalmente novo e, mesmo mantendo a arquitetura de 2 válvulas por cilindro, é hoje o melhor motor que equipa o Cronos.
Mesmo com cilindrada um pouco inferior à do GM, o Firefly produz maior potência e torque por uma pequena vantagem, graças também à presença do comando variável. Além disso, ele consegue entregar o torque mais cedo e ter o pico de potência mais adiante, resultando em um motor mais elástico. Por outro lado, o Cronos é mais pesado e o Prisma tem 6 marchas (com as primeiras mais curtas), o que ajuda a explicar a vantagem do Chevrolet em nossas medições instrumentadas.
A questão é que, no uso diário, o Cronos se revela melhor de conduzir. Não só pela posição de dirigir e conforto, mas pelas respostas do motor, principalmente na cidade. Enquanto o Prisma tem um comportamento que até lembra os 16 válvulas antigos, pedindo giro pra andar melhor, o Cronos pode ter as marchas trocadas já a partir das 2.000 rpm. O motor 1.4 Chevrolet já foi uma referência em torque em baixa, mas o tempo passou e os concorrentes evoluíram.
Na estrada, a 120 km/h em quinta marcha, ambos cravam entre 3.500 e 3.600 rpm, mas o Prisma tem a vantagem da sexta, que joga o ponteiro para as 3.000 rpm, reduzindo o consumo rodoviário. Já o Cronos usa a elasticidade de seu motor para beber menos na cidade. Os engates do GM são mais curtos e precisos que os do Fiat, que ainda lembra o Palio com sua alavanca um pouco desajeitada. No geral, os dois sedãs são leves e fáceis de serem dirigidos até por motoristas menos experientes.
Como parte daquelas modificações em busca de melhor consumo, a suspensão do Prisma teve a altura reduzida em 10 mm. Com isso, ficou mais ágil em curvas e mudanças bruscas de trajetória, mas perdeu conforto em pisos ruins. Vai mais além quando explorado no limite, mas o Cronos é mais confortável ao rodar e não decepciona nas curvas, embora incline mais a carroceria. Também afunda mais a dianteira nas frenagens, prejudicando as metragens nos testes. Ambos usam direção com assistência elétrica, mas o Fiat é mais leve para manobrar e ganha mais peso e comunicação em velocidades de estrada.
Se compararmos o preço do Cronos Drive básico (R$ 55.990), ele custa menos até que o Prisma LT (R$ 57.550). Para a briga ficar equilibrada com o GM LTZ, porém, trouxemos o Fiat com todos os equipamentos disponíveis. A diferença de preço continua levemente vantajosa para o Fiat, tabelado em R$ 63.200 versus os R$ 63.550 do gaúcho Prisma.
Na hora da revisão, o Cronos também é um pouquinho mais barato. Ambos têm 3 anos de garantia, com revisões tabeladas a cada 10.000 km ou 1 ano, o que acontecer primeiro. Veja a tabela abaixo:
MODELO | 1 ANO | 2 ANOS | 3 ANOS | TOTAL |
Chevrolet Prisma 1.4 MT | R$ 220,00 | R$ 460,00 | R$ 612,00 | R$ 1.292,00 |
Fiat Cronos 1.3 MT | R$ 264,00 | R$ 500,00 | R$ 432,00 | R$ 1.196,00 |
Se a Fiat queria fazer um sedã melhor que o Prisma, ela conseguiu. Além do preço competitivo, o Cronos acomoda melhor você e sua família, é melhor para dirigir e mais econômico na cidade. Agora, se isso vai significar roubar a liderança do rival nas vendas, aí é uma questão que só o tempo irá dizer.
Agradecimento: São Paulo Expo (http://www.saopauloexpo.com.br/)
Fotos: Mario Villaescusa
Chevrolet Prisma 1.4 LTZ | Fiat Cronos Drive 1.3 | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 8 válvulas, 1.389 cm3, comando único sem variador, flex | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 8 válvulas, 1.332 cm3, comando único de válvulas com variador, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 98/106 cv a 6.000 rpm; 12,9/13,9 kgfm a 4.800 rpm | 101/109 cv a 6.250 rpm; 13,7/14,2 kgfm a 3.500 rpm |
TRANSMISSÃO | Manual de 6 marchas, tração dianteira | Manual de 5 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve aro 15" com pneus 185/65 R15 | liga leve de aro 15" com pneus 185/60 R15 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira, com ABS e ESP | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.054 kg em ordem de marcha | 1.139 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.282 mm, largura 1.705 mm, altura 1.478 mm, entre-eixos 2.528 mm | comprimento 4.364 mm, largura 1.726 mm, altura 1.508 mm, entre-eixos 2.521 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 500 litros; tanque 54 litros | tanque 48 litros; porta-malas 525 litros |
PREÇO |
R$ 63.550 |
R$ 55.990 (R$ 63.220 como testado) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
Chevrolet Prisma 1.4 MT | Fiat Cronos 1.3 MT | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 5,0 s | 5,0 s | |
0 a 80 km/h | 8,0 s | 8,2 s | |
0 a 100 km/h | 11,7 s | 12,1 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em 3ª | 10,3 s | 10,9 s | |
80 a 120 km/h em 4ª | 11,8 s | 11,5 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 40,7 m | 43,7 m | |
80 km/h a 0 | 25,4 m | 27,0 m | |
60 km/h a 0 | 14,3 m | 15,0 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 8,7 km/l | 8,9 km/l | |
Ciclo estrada | 12,2 km/l | 12,0 km/l |
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