A versão 4x4 do EcoSport quase sempre foi uma mera complementação de gama, sem participação efetiva nas vendas do modelo. Se o primeiro Eco 4WD (de 2004) ainda teve alguma saída (lembra da pintura amarela?), a última versão (de 2012) é praticamente uma raridade. Isso porque lhe faltavam itens de apelo, como câmbio automático e um visual que o diferenciasse dos modelos "urbanos". Agora não falta mais: na linha 2018, pela primeira vez, o Ecosport ganha tração integral em conjunto com câmbio automático, e estreia numa versão com visual exclusivo, a Storm - inspirada na F-150 Raptor. Se ele não tem a mesma valentia da picape off-road gringa, pelo menos oferece a tração 4x4 e um invejável pacote de itens de série por um preço mais baixo que o dos rivais 4x2.
Tabelado a R$ 99.990, o EcoSport Storm 4WD é baseado na versão de topo Titanium 4x2, trazendo todos os equipamentos deste modelo e alguns itens exclusivos. É o único SUV 4x4 do mercado brasileiro abaixo de R$ 100 mil que reúne tração integral e câmbio automático - o Renault Duster Dakar 4x4 sai por R$ 89.490, mas tem câmbio manual e bem menos equipamentos. Já os demais rivais, Honda HR-V Touring (R$ 107.900), Hyundai Creta Prestige (R$ 102.580) e Chevrolet Tracker Premier (R$ 99.990) são todos de tração dianteira. Uma opção mais fora-de-estrada, o Jeep Renegade 4x4, tem a vantagem do motor a diesel, mas parte de R$ 110.290 numa versão tão simples que vem com rodas de ferro. Para ficar mais próximo do Eco em equipamentos, é preciso optar pela Limited 4x4, que já supera os R$ 130 mil.
Como diferenciais em relação ao Titanium, o Storm traz interior com acabamento preto inclusive na forração do teto e colunas (solução inteligente para um 4x4, em vez dos bancos creme do Titanium), além de apliques na cor bronze no painel, console e portas - melhores ao vivo que nas fotos, por sinal. Os bancos de couro recebem a inscrição Storm bordada, enquanto as laterais dos encostos dianteiros ganharam redinhas. Por fora, a grade é nova e traz o logotipo "STORM" em letras garrafais, ao passo que a lateral vem com cobertura plástica nas caixas de roda e a traseira ostenta uma exclusiva capa de estepe, também com o nome da versão. Para completar, as rodas aro 17" possuem design exclusivo, muito bonitas, que lembram as do Fiesta ST europeu. Pena que os pneus são os mesmos Michelin da versão Titanium, com banda 100% asfalto.
Se o Eco Storm lhe pareceu mais parrudo, não é só visual. A Ford diz que altura em relação ao solo foi alterada, embora sem revelar quanto, e afirma que a suspensão dianteira ganhou 17 mm de curso, para amortecer melhor os impactos. Na traseira é tudo novo: entra uma suspensão independente multilink, necessária pelo 4x4, e molas com rigidez progressiva, ou seja, com baixa rigidez quando o carro está vazio e com alta rigidez quando ele está carregado, para melhorar a dirigibilidade. Acerto de molas, amortecedores e também as buchas são próprios do Storm.
O sistema de tração é praticamente o mesmo do anterior, vindo do Ford Escape americano, mas agora é totalmente automático: ele atua de modo permanente controlando a transferência de torque entre as rodas dianteiras e traseiras quando necessário. Por meio de sensores, o sistema entende quais as rodas que precisam de mais força e enviam torque para elas em, no máximo, 0,1 segundo. Assim, o antigo botão 4WD que existia no modelo antigo (para igualar a força nos eixos) foi aposentado. Internamente, nada indica se tratar de uma versão com tração integral.
Motor e câmbio são os mesmos do Eco Titanium: 2.0 16V com injeção direta (176 cv e 22,5 kgfm) ligado ao câmbio automático de 6 marchas (6F 35), com conversor de torque. Já a direção elétrica recebeu calibração própria, de modo a atenuar vibrações vindas do piso. No fim das contas, o Storm ficou 110 kg mais pesado que o Titanium, chegando a nada esbeltos 1.469 kg.
Esse peso extra é sentido logo nos primeiros momentos ao volante, pois o Eco parece mais "preso" para ganhar velocidade. Mesmo andando devagar, você percebe que o câmbio estica mais as marchas e faz mais reduções (às vezes até desnecessárias, a meu ver) para manter o pique. Como esse motor gosta de girar alto (torque máximo vem a 4.500 rpm), foi a solução que a Ford encontrou para não deixar o SUV lento. Ao menos, as passagens são sempre suaves, sem incômodos aos ocupantes. Mas a diferença de desempenho é sensível, e ficou clara nos nossos testes.
Na aceleração de 0 a 100 km/h, por exemplo, o tempo aumentou em 2 segundos - de 9,8 para 11,8 segundos. Já na retomada de 80 a 120 km/h, o Storm exigiu 2,2 segundos a mais que o Titanium para completar a prova (9,4 s contra 7,2 s). E nas frenagens o maior peso também influenciou, sendo que a parada quando vindo a 100 km/h passou de 39,2 metros para 40,7 metros. Outro sintoma aparece no consumo. Com mais peso e o motor sendo mais exigido, a média urbana não passou de 6,5 km/l com etanol, contra 7,2 km/l do Titanium. Ao menos, na estrada a média se manteve nos 9,2 km/l.
Mas a perda em agilidade e economia é compensada pela maior versatilidade e até pela dirigibilidade do Eco 4x4. A suspensão traseira multilink e a tração automática deixam o SUV mais preciso nas curvas, especialmente sob chuva, condição na qual o sistema 4x4 envia a tração para o eixo traseiro assim que percebe a falta de aderência, oferecendo um grip extra que o motorista percebe na hora. Além disso, o Storm é mais confortável que as demais versões, que já haviam ficado mais macias, mas sem a mesma competência em pisos ruins.
Poderia ser até melhor caso a Ford tivesse optado por pneus de uso misto, com a lateral mais alta (os escolhidos têm perfil 50, nada a ver com a proposta do carro) e banda com desenho mais off-road. Questionada, a marca explicou que foi uma decisão baseada no fato de que poucos clientes vão usar o carro na terra. OK, mas se o Storm é uma versão específica 4x4 da linha Eco, por que não oferecer pneus mistos ao menos como opção ao consumidor na hora da compra?
Mesmo com os pneus de asfalto, lá fomos nós em busca de lama para o Eco Storm. E como estava num dia chuvoso, a tarefa foi fácil. Em trechos retos, sem subidas, não tivemos problemas de superar os pontos enlameados, mesmo com o pneu já todo revestido de marrom. Mas em duas situações fui inventar de subir um barranco, e aí o Eco patinou e não saiu do lugar. Mesmo transferindo o torque para as rodas traseiras, faltou tração para os pneus. Em compensação, gostei da aborção dos impactos pela suspensão e da dirigibilidade na terra. É um carro gostoso de acelerar mesmo em pisos ruins e condições de baixa aderência, com uma direção esperta e uma tocada fácil. Mas, mesmo não sendo um off-road (falta reduzida, altura do solo e outras coisas), eu trocaria esses pneus assim que o tirasse da loja.
Isso me leva à conclusão de que eu não teria dúvidas ao optar pelo Eco Storm em vez do Titanium. Por apenas R$ 3.140 extras que os R$ 96.850 cobrados pelo Titanium, você leva a suspensão traseira multilink, o sistema de tração integral e ainda o visual "topa tudo" - ainda que eu ainda não tenha me decidido sobre esses adesivos no capô e na lateral. Todos os equipamentos mais desejados estão lá, como chave presencial e partida por botão, central multimídia Sync3 com tela flutuante de 8" e Android Auto/Apple Car Play, teto-solar, ar-condicionado digital, 7 airbags, controle de estabilidade, couro, volante com borboletas para trocas de marcha, painel emborrachado e até as barras transversais do teto (item do Storm).
Os pontos negativos são os conhecidos do demais EcoSport: espaço interno no banco traseiro e porta-malas, com uma ligeira perda em desempenho e consumo em relação ao Titanium 4x2. Mas, se esses itens não são prioridade para você, ao menos o Storm não é um mero SUV de shopping. Calçado com pneus adequados, ele pode te acompanhar em algumas aventuras.
Fotos: Mario Villaescusa
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.999 cm3, duplo comando com variador em admissão e escape, injeção direta de combustível, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 170/176 cv a 6.500 rpm / 20,6/22,5 kgfm a 4.500 rpm |
TRANSSSÃO | automático de seis marchas; tração integral 4WD |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e multilink na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 17", pneus 205/50 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e EBD |
PESO | 1.469 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES |
comprimento 4.269 mm, largura 1.765 mm, altura 1.693 mm, entre-eixos 2.519 mm |
CAPACIDADES | tanque 52 litros; porta-malas 356 litros |
PREÇO | R$ 99.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 | ||
---|---|---|
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 5,1 s | |
0 a 80 km/h | 8,0 s | |
0 a 100 km/h | 11,8 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 9,2 s | |
80 a 120 km/h em S | 9,4 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 40,7 m | |
80 km/h a 0 | 26,0 m | |
60 km/h a 0 | 14,8 m | |
Consumo (etanol) | ||
Ciclo cidade | 6,5 km/l | |
Ciclo estrada | 9,2 km/l |
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