– Santa Monica, California
Não tenho ideia do porquê a Mitsubishi ressuscitou o nome Eclipse, especialmente num SUV ou algo do tipo. A marca pode continuar usando essa palavra, mas não acho que isso significa o que eles acham que significa. Sim, eu assisti toda a apresentação do modelo, onde explicaram a teoria, a rima e o suposto motivo (o legado) por trás da nomeação, mas continuo sem entender o motivo. Eu e nem ninguém que nasceu depois de 1990, que foi coincidentemente o ano em que o Eclipse original chegou ao mundo.
A verdade é que o novo Eclipse não tem nada a ver com o carro que lhe emprestou o nome, um cupê com motor turbo que era tão divertido de dirigir quanto simples de manter. Agora, se tornou um SUV cujas novidades vão evocar emoção zero no seu público alvo, que, sem nenhuma surpresa, são os millenials. Assim, a única boa lembrança sobre o nome Eclipse será daqueles dias em que o sol é encoberto e achamos legal ficar olhando para o céu. Suspiro.
De volta ao Eclipse Cross, a Mitsubishi está confiante nele para adentrar o insanamente competitivo setor de crossovers. Nos EUA, a marca está fazendo diversas ações de marketing em programas de TV, mídias sociais, influenciadores - e eu aplaudo isso. Numa linha cheia de crossovers sem graça, ao menos a marca está ambiciosa com seu novo produto.
Pena que o Eclipse Cross não traz nada de novo para a categoria, a não ser uma coisa: ele tem design diferente. Não que isso seja um destaque, pois quem o reconheceria como um Mitsubishi? No entanto, ele usou a mesma inspiração do Toyota C-HR: ou você ama ou odeia. Diferentemente do C-HR, que é exagerado de qualquer angulo, o Eclipse Cross não é ruim em termos visuais. Especialmente quando pintado nessa cor, a Red Diamond Metallic, que destaca seu perfil atlético. O desenho da Mitsubishi para a dianteira, que eles chamam de "Dynamic Shield", aparenta agressividade e se encaixa bem com o formato e tamanho do Eclipse Cross.
Mas a parte ruim é a traseira. O Eclipse Cross carrega um formato nada atraente e desnecessário da tampa do porta-malas, como no Toyota Prius. Além disso, a lanterna que atravessa o carro cria um ponto cego quando você olha pelo retrovisor interno. Há como se fosse uma barra no meio da área de visão. Se isso deixasse o carro bonito, até poderia perdoar, mas não é atraente e nem prático.
Por dentro, o Eclipse Cross apresenta uma nova tecnologia no centro, com um touchpad para controlar a central multimídia. A predominância da cor preta no interior é quebrada com uma boa quantidade de acabamentos em prata e preto brilhante. O carro testado, um topo de linha SEL Touring, tinha bancos de couro com costuras em laranja.
Diferente dos bancos, que são confortáveis, com boa espuma e apoios, a sensação no interior parece ser um pouco menos aconchegante. Baseado apenas em números, o Eclipse Cross, com seus 4,46 m de comprimento e 1,82 m de largura, é um dos menores do segmento. Mas isso não serve de desculpa para prejudicar a funcionalidade. Por exemplo, o Jeep Compass, que é menor (4,39 m de comprimento e 1,87 m de largura), oferece mais espaço para a cabeça, pernas e capacidade de carga. De fato, o Eclipse Cross fica atrás dos competidores no conforto aos passageiros. Como ponto positivo, o banco traseiro se reclina e move-se para frente e para trás em todas as versões, com nove posições de encosto e oito de deslizamento.
O novo Eclipse está cheio de tecnologias, mas muitas se limitam às versões mais caras, que se chamam ES, LE, SE e SEL. Itens como o Apple CarPlay e Android Auto e a tela de 7" com o touchpad não estão na versão abaixo da LE, enquanto o head-up display só existe na SEL. O monitoramento de ponto cego não aparece até a versão SE, ao passo que os faróis automáticos e os avisos de colisão frontal e de saída de faixa, além do piloto automático adaptativo, só estão no pacote Touring da versão SEL.
Até mesmo o novo sistema "Mitsubishi Connect" só está disponível nas versões mais caras. Lançado com o Eclipse Cross, o serviço assinado permite contactar serviços rodoviários, rastrear outros motoristas ou pedir informações pelo Google Home ou Amazon Echo, podendo até programar a temperatura no interior do veículo. As versões SE e SEL têm assinatura gratuita de dois anos.
Mas o que você quer realmente saber é como o Eclipse Cross anda, certo? Não se anime se, como eu, você estava esperando por algo que lembrasse o verdadeiro Eclipse. Depois de todo o discurso da marca sobre resgatar o nome para simbolizar esportividade e diversão, o novo Eclipse falhou.
Se não fosse o nome, eu poderia ter menos expectativas. Mas o que a Mitsubishi fez aqui é como a Mazda apresentando um esportivo RX-9 sem motor rotativo, Skyactiv ou qualquer coisa assim. Não chame algo de um nome que ele não pode representar. Para começar, o motor 1.5 turbo do Eclipse Cross não anima. São 154 cv e 25,4 kgfm de torque, o que é pouco perto de outros SUVs com motores semelhantes. O novo Honda CR-V 1.5T tem 192 cv e 24,7 kgfm de torque e o Chevrolet Equinox 1.5T (versão de entrada não vendida no Brasil) dispõe de 172 cv e 28,1 kgfm de torque.
Casado com o câmbio automático CVT e pico de torque aparecendo a 2.000 rpm, o Eclipse Cross prova ser um bom carro urbano. Mas não significa que é rápido. Para ultrapassar um caminhão na estrada a 100 km/h, afundo o pé no acelerador, mas parece que não fiz nada. Há aceleração, mas pouca para dar confiança, causando um leve pânico quando estamos na faixa ao lado, nos movendo em velocidade mais baixa que o esperado. Imagine isso em uma subida de serra...
De série em quase todas as versões (um opcional de US$ 600 na ES), o Super All-Wheel Control, a tração integral da Mitsubishi, tem três modos de condução selecionáveis. É útil de você for fazer uma travessia com pedras ou num lugar sem pavimentação. Na parte asfaltada e cheia de curvas de nosso teste, pudemos sentir o vetorizador de torque trabalhando, o que é uma boa surpresa. Testamos também o S-AWC no modo Gravel (cascalho) em um trecho feito para isso. Enquanto um Land Rover daria risadas de nosso trecho fora de estrada, as pequenas subidas eram mais do que a maioria dos motoristas desse tipo de carro irá enfrentar, mas prova que o Eclipse Cross pode sair da rotina.
Quando usado no trecho cheio de curvas de Santa Monica, o Eclipse agradou. A suspensão é plantada no chão, mas ainda há muita rolagem da carroceria e pouca comunicação da direção. Os freios responderam bem quando mais exigidos.
A Mitsubishi está em seu quinto ano de aumento de vendas nos EUA, boa parte pelo foco em SUVs. Em quatro anos, o volume do segmento subiu 123%, então não podemos questionar a estratégia de construir veículos do segmento do momento. Mas, como já mencionei, é um segmento competitivo. E também pode ser confuso. Carros que impressionam em termos de design, funcionalidade e desempenho não são muitos. O que faz vender SUVs é preço, comodidades e, em alguns casos, a marca.
O Mitsubishi Eclipse Cross começa em US$ 24.290 (cerca de R$ 80 mil), mas oferece o melhor nas versões mais caras. Uma versão como esta, completa, passa dos US$ 31.000 (equivalente a R$ 102.300), o que, francamente, é demais. A Nissan ganha em preço. A Mazda oferece mais prazer ao dirigir. Hyundai e Kia têm mais equipamentos. Honda e Toyota têm fama de invencíveis. General Motors, Jeep e Subaru são melhores em acomodação. O que sobra para a Mitsubishi é uma pequena parcela do mercado, usando seu passado para isso.
Infelizmente, o Eclipse Cross não é um Eclipse e nem um SUV que se destaca. As vendas no Brasil deverão começar ainda no primeiro semestre, com posicionamento acima do ASX, mas ainda sem valores definidos.
Fotos: Mitsubishi USA
MITSUBISHI ECLIPSE CROSS 2018
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