Não adianta lutar contra: carros elétricos e autônomos vão dominar o mundo - e em menos tempo do que você imagina. Então é melhor nos acostumarmos com o futuro, ainda que nós, entusiastas, tenhamos certo receio destes automóveis que não fazem barulho e são (quase) capazes de dispensar o motorista. Pois a Nissan surpreendeu ao anunciar, durante o Salão de Tóquio, que o novo Leaf será vendido no Brasil em 2019. A segunda geração do carro elétrico mais emplacado do mundo chega com maior autonomia, mais potência, mais bonito e com uma série de itens de tecnologia, incluindo condução semi-autônoma. Fomos até o campo de provas da Nissan em Oppama, no Japão, para acelerar a novidade em primeira mão.
O Leaf nasceu em 2009 como aposta da Nissan para o até então quase inexplorado mercado de carros elétricos. Mesmo tendo design exótico e autonomia de apenas 160 km, o modelo conquistou nada menos que 280 mil clientes nestes oito anos de vida. Agora a segunda geração aposta num estilo mais consensual e teve a autonomia ampliada para 400 km (legislação japonesa), ainda que as baterias ocupem exatamente o espaço das anteriores. A recarga leva 8 horas (220 V) ou 16 horas (110 V), com opção de recarga rápida (80%) em 40 minutos. A plataforma do Leaf é exclusiva dele, mas, segundo a Nissan, pode gerar "filhotes" futuramente.
A questão do design não ser mais "chocante" como antes tem a ver com o fato de que agora o carro elétrico já não precisa chamar a atenção, explica o engenheiro da Nissan Hiroyuki Furuya. "No começo era preciso mostrar ao mercado que ele era um carro diferente dos outros, agora fizemos algo mais do gosto geral", conta Furuya. De fato, o novo Leaf tem visual de um hatch médio tradicional: moderno, sim, mas com linhas comuns a outros lançamentos recentes da Nissan. Ponto alto fica por conta da coluna C pintada de preto brilhante, combinando com o teto e a tampa traseira. Já a dianteira tem traços que lembram a nova geração do Micra europeu (o nosso March). Porém, tão importante quanto a forma, no caso do Leaf, é a função. E nisso a nova geração se destaca pelo coeficiente aerodinâmico (Cx) de baixos 0,28.
As novas baterias de 40 kwh são acomodadas de forma tão discreta que praticamente não se nota intromissão no habitáculo - exceto pelo assoalho um pouco elevado. O Leaf se revela generoso para quatro ocupantes adultos, mais uma criança. Com o banco do motorista ajustado para meu 1,78 m, fiquei folgado no banco de trás, tanto na área da cabeça quanto das pernas. Também o porta-malas é muito bom para um hatch, com 435 litros e amplo acesso.
Tendo como principal rival o híbrido Toyota Prius, o Leaf exibe acabamento correto, mas sem luxos, tal qual o Toyota. Painel e laterais de porta são de plástico rígido, embora de tato agradável, enquanto o volante é exatamente o mesmo que encontramos no Kicks. A diferença, para pior, é que a direção do hatch elétrico só ajusta em altura - e despenca ao liberarmos a trava de ajuste. Chamei o engenheiro Furuya para questionar isso e ele, visivelmente sem graça, me pediu desculpas. "Nós sabemos desse problema, reconhecemos".
Outros itens que lembram o Kicks são o quadro de instrumentos, com tela TFT de 7" ao lado do velocímetro analógico, e a central multimídia com tela de 7" e conexão Apple CarPlay, além do sistema de câmeras 360 graus que ajuda na hora de estacionar. Se bem que, no Leaf, estacionar é uma tarefa que ele cuida praticamente sozinho.
Pro Pilot Park é o nome do sistema de estacionamento automático do novo Nissan. Em relação aos diversos "park assist" que conhecemos, a vantagem deste é que não precisa de outros carros nem de faixas no chão para fazer a leitura da vaga e estacionar. Além disso, ele sabe parar em vagas paralelas e perpendiculares, fazendo a leitura de mais de uma posição para você escolher. Daí basta clicar na vaga que você deseja na central multimídia e ficar pressionando o botão de estacionamento automático que ele se encarrega de colocar o carro no espaço desejado.
Isso só é possível graças aos 12 sensores ultrassônicos instalados ao redor do carro, e também às 4 câmeras de alta resolução. São eles também que enviam informações para o sistema de condução semi-autônoma Pro Pilot. Então vamos dirigir e ver como a coisa toda funciona.
Antes de eu assumir o comando, o Pro Pilot me levou pra dar uma volta. Saímos pela pista da Nissan atrás de um Infinity e tudo o que fiz foi manter as mãos (de leve) no volante. O Leaf mantinha a distância estipulada do carro da frente e seguia na mesma velocidade dele, parando sozinho inclusive, e depois retomava a aceleração (bastando para isso um leve toque no acelerador). O sistema funciona entre 30 e 100 km/h e, diferentemente de outros semi-autônomos que já andei, ele realmente vira o volante para fazer a curva (e não somente puxa a direção para dentro de curvas leves). É preciso apenas que sua mão esteja na direção - por uma simples questão de legislação, pois teoricamente não precisaria.
Depois foi a minha vez de guiar - e também aqui o Leaf traz novidade. Trata-se do e-Pedal, uma função ativada por botão no console que faz o hatch desacelerar em até 0,2 g quando aliviamos o acelerador até parar completamente (inclusive em subidas e descidas). É algo semelhante ao encontrado no BMW i3, mas com maior ênfase na "frenagem", além de poder ser desligado. A ideia da Nissan é que você não precise ficar alternando entre o acelerador e o freio no trânsito, tornando a condução mais relaxada. Segundo a marca, você poderá dirigir 90% do tempo sem pisar no freio. De fato, dei duas voltas completas na pista sem usar o segundo pedal, que fica lá mais para uma frenagem de emergência. Impressionante como me acostumei rápido à comodidade proporcionada pelo sistema. Agora aguardo o teste das ruas.
Outra atração do novo Leaf está no próprio motor elétrico, que ficou mais forte que o anterior. Com 150 cv de potência e 32,6 kgfm de torque, as respostas do hatch são bastante ágeis, ainda que suaves. Ele acelera e retoma a velocidade com decisão, valendo-se do fato de que motores elétricos entregam 100% de seu torque a todo tempo, sem necessidade de esperar os giros subirem. Assim, em silêncio, o Leaf faz o ponteiro do velocímetro subir como se tivesse um bom motor turbo a gasolina, abrindo um sorriso no motorista. De 80 a 140 km/h na pista bastaram alguns segundos, mostrando que ultrapassagens serão fáceis na "vida real". De 0 a 100 km/h são cerca de 8 segundos, de acordo com a Nissan.
Em que pese o bom desempenho, a prioridade deste Nissan é conforto. A suspensão é macia e silenciosa, e ainda oferece uma agradável sensação de carro bem postado à estrada. Mesmo na pista lisinha do campo de provas japonês foi possível perceber a suavidade de rodagem do Leaf, incluindo passagem nas emendas do asfalto. Em velocidade, ouvimos apenas um pouco de vento e os pneus na pista, sem incômodos na cabine. Num rápido slalom notamos que o hatch tem tendência e sair de frente em curvas fechadas, com rolagem significativa da carroceria, mas nada que comprometa a tocada interessante do modelo.
Embora tenha confirmado a venda do Leaf no Brasil em 2019, a Nissan não falou nada em termos de preços. Até porque isso também vai depender dos incentivos que serão oferecidos (ou não) pelo regime automotivo Rota 2030 - ainda em definição. No Japão, a nova geração do hatch elétrico começou a ser vendida no dia 2 de outubro e já acumula mais de 19 mil encomendas. Custa 3.990,600 yenes, o equivalente a R$ 114.440.
Com os impostos brasileiros de hoje, dificilmente o Leaf chegaria aqui por menos de R$ 200 mil. Mas a esperança da Nissan é que isso seja revisto e o carro possa chegar em valores competitivos aos do Toyota Prius, o que significaria algo em torno dos R$ 130 mil. Assim como surpreendeu ao anunciar a venda do modelo no Brasil, quem sabe a Nissan não tenha outra boa notícia no Salão de São Paulo em 2018? É lá que vai acontecer a primeira mostra do novo Leaf ao público brasileiro, com as vendas se inciando no primeiro semestre do ano seguinte.
Por Daniel Messeder, de Oppama (Japão)
Fotos: autor e divulgação
Viagem a convite da Anfavea
MOTOR | dianteiro, transversal, elétrico |
POTÊNCIA/TORQUE | 150 cv de 3.283 a 9.795 rpm / 32,6 kgfm de 0 a 3.283 rpm |
TRANSMISSÃO | automático CVT; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio, aro 17", pneus 215/50 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e EBD |
PESO | 1.490 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.480 mm, largura 1.790 mm, altura 1.540 mm, entre-eixos 2.700 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 435 litros |
PREÇO | R$ 130.000 (estimado) |
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