Para a Ford, ainda não era a hora de dar uma nova geração ao EcoSport. Mas a concorrência veio com força e apostou no que chamam de "valor agregado". O caminho em comum de todos eles é oferecer ao cliente diversos "mimos" para (tentar) justificar o valor pago, principalmente nas versões mais caras. A aposta da Ford para atender este público é o EcoSport Titanium que, além de uma lista de equipamentos bem recheada, trouxe um novo conjunto de motor e câmbio.
Foram poucas as mudanças visuais no EcoSport 2018. A grande concentração da engenharia foi na construção. Como será vendido na Europa e Estados Unidos, o Eco teve todo o processo de manufatura revisto. De fato, encaixes de peças e alinhamento da carroceria estão melhores, assim como o isolamento acústico do SUV.
Para acompanhar a evolução, a versão Titanium adotou o motor 2.0 Duratec Direct. Vindo do Focus, se destaca pela injeção direta e duplo comando de válvulas variável, o suficiente para colocar o Eco no posto de mais potente SUV compacto do Brasil: rende até 176 cv, contra 173 cv do Peugeot 2008 1.6 THP, 166 cv do Hyundai Creta 2.0 e 153 cv do Chevrolet Tracker 1.4 turbo. No lugar do câmbio automatizado de dupla embreagem PowerShift, ganhou caixa automática emprestada do Fusion, também com 6 marchas e conversor de torque. A mudança visou melhorar o conforto ao rodar e tirar um item com histórico de problemas no modelo.
Já tinha passado alguns dias com o EcoSport renovado, mas na versão Freestyle (que enfrentou o Renault Captur CVT neste comparativo aqui) com o motor 1.5 e câmbio automático. Naquela ocasião, o SUV já mostrou que realmente evoluiu em construção e acabamento, mesmo na versão intermediária. Então, não esperava nada menos da Titanium. Por mais que interior claro seja difícil de manter limpo, dá um toque de requinte ao carro e chama a atenção, principalmente quando contrasta com a cor da carroceria.
Outro ponto que já esperava algo de bom era sobre o motor. Já o conheço do Focus, gosto das respostas dele. São saudáveis 176 cv com pico a elevadas 6.500 rpm. Me diverti muito com o hatch deixando o 2.0 falar alto, mostrando que ainda podemos ser felizes sem turbo. Mas será que funciona no EcoSport?
Logo na saída vemos que a calibração do acelerador é bem direta - você mal pisa e a borboleta abre bastante, fazendo o Eco arrancar com vontade, ainda que as passagens de marcha sejam suaves. O SUV não é dos mais leves, com 1.359 kg, mas responde muito bem, principalmente em altas rotações. Na prova de 0 a 100 km/h foram 9,8 segundos e, na retomada de 80 a 120 km/h, 7,2 s. É praticamente o mesmo ritmo do Creta 2.0, que cravou 9,9 s e 7,0 s nas mesmas medições, na ordem. Ambos, porém, ficam para trás do Tracker 1.4 turbinado, que fez 9,3 s e 6,5 s, respectivamente.
Em termos de consumo, o Eco com injeção direta conseguiu resultados melhores que os do Creta: médias de 7,2 km/l na cidade e 9,2 km/l na estrada, contra 6,3 km/l e 10 km/l do Hyundai. Mas o Tracker novamente fez valer seu motor de menor cilindrada, com turbo e injeção direta, além do start-stop: médias de 8,3 km/l e 11 km/l, na ordem. Lembrando que todos esses valores foram obtidos com etanol.
A suspensão do EcoSport foi recalibrada. Além de maior curso na dianteira, as buchas foram redimensionadas para absorver melhor os impactos. Funcionou, já que mesmo com rodas de 17" e pneus 205/50, o SUV passa suave sobre as imperfeições do piso. A direção elétrica tem calibração com bom feedback, mesmo em velocidades mais altas na estrada. Para manobrar, leveza. Só que na hora de enfrentar uma estrada de terra, mesmo leve, dá dó das rodas (que casariam melhor com um Fiesta Titanium). É possível andar mais rápido com o EcoSport 2.0, mas convém não abusar. Qualquer coisa, há controles de tração e estabilidade e sistemas anti-capotamento.
Do Focus também veio o volante, com borboletas para as trocas de marchas, que combinou com o painel de instrumentos e a bela tela colorida de 4,2" ao centro, com diversas informações. A central multimídia elevada com tela de 8" atende pelo nome de SYNC 3 e tem espelhamento de smartphones via Apple CarPlay e Android Auto, além de GPS, Bluetooth e USB. O painel, com partes emborrachadas, ficou realmente bonito, mas parece não pertencer ao EcoSport. Como assim?!
Explico. O Eco manteve a plataforma. No interior, o espaço na frente é bom, mas os bancos são estreitos, apesar de terem espuma confortável. No geral, a cabine parece compacta para aquilo tudo, deixando o volante o quadro de instrumentos um tanto "grandes". Para quem vai no banco traseiro também há pouco espaço, principalmente nesta versão Titanium, com o teto-solar que tira uns 3 dedos de altura para a cabeça. O mesmo vale para o porta-malas de apenas 356 litros. Nas portas, algumas rebarbas, espaços vagos e desalinhos, algo que não agrada quem assinará um cheque de mais de R$ 90 mil.
Quando foi lançado, o marketing da Ford bateu no peito e disse que o EcoSport 2018 tinha a melhor relação custo/benefício do segmento. O Titanium foi lançado por R$ 93.990, mas enquanto fazíamos este teste, subiu para R$ 95.890. De série, ele traz direção elétrica, ar-condicionado automático (poderia ser bi-zona), sistema de som Sony (tem até canal central e agrada até os audiófilos mais exigentes, considerando ser um modelo "popular"), SYNC 3 de 8", acabamento em couro claro, controles de tração e estabilidade, assistente de subida em rampa, aviso de ponto-cego, faróis de xenônio com luz diurna em LED, rodas de 17", aviso de tráfego cruzado quando em marcha ré, abertura de portas e partida com chave presencial, teto-solar, câmera de ré e 7 airbags (frontais, laterais, cortina e joelho para o motorista). Lembra o que eu disse sobre valor agregado? É isso, pacotão de itens para exibir.
Então o Eco melhorou? Sim! Novos itens, novo motor, novo câmbio e desenho levemente modificado. Se só isso contasse, o SUV da Ford seria um dos melhores do segmento. Mas peca em espaço interno, algo importante para quem procura por um SUV, e há detalhes no acabamento que dão aquela desanimada. Fora o estepe externo que obriga a abertura lateral da tampa traseira, exigindo espaço atrás do carro. Algumas coisas só serão resolvidas com uma nova geração...
Fotos: divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.999 cm3, duplo comando com variador em admissão e escape, injeção direta de combustível, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 170/176 cv a 6.500 rpm / 20,6/22,5 kgfm a 4.500 rpm |
TRANSSSÃO | automático de seis marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 17", pneus 205/50 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e EBD |
PESO | 1.359 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES |
comprimento 4.269 mm, largura 1.765 mm, altura 1.693 mm, entre-eixos 2.519 mm |
CAPACIDADES | tanque 52 litros; porta-malas 356 litros |
PREÇO | R$ 95.890 |
MEDIÇÕES MOTOR1 | ||
---|---|---|
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,3 s | |
0 a 80 km/h | 6,7 s | |
0 a 100 km/h | 9,8 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 7,4 s | |
80 a 120 km/h em S | 7,2 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 39,2 m | |
80 km/h a 0 | 24,7 m | |
60 km/h a 0 | 13,6 m | |
Consumo (etanol) | ||
Ciclo cidade | 7,2 km/l | |
Ciclo estrada | 9,2 km/l |
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