Ainda que com certo atraso, a Renault foi a primeira a responder ao sucesso do Ford EcoSport. Isso aconteceu em 2011, com o lançamento do Duster, quando a marca do oval azul já se preparava para lançar a segunda geração de seu SUV compacto. O novo Eco veio em 2012 e, mais moderno que o Duster, não teve dificuldade de manter a soberania de vendas do segmento. Mas o tempo passou.
SUVs compactos se tornaram a febre do mercado nos últimos anos, e tanto a Ford quanto a Renault precisavam se mexer para brigar contra caras novas como Honda HR-V, Jeep Renegade, Nissan Kicks e Hyundai Creta, entre outros. Mas cada marca trilhou um caminho diferente. A francesa optou por desenvolver um Captur maior e mais parrudo para os mercados emergentes, com a base do Duster (na Europa ele parte do Clio). A norte-americana preferiu refinar o EcoSport a um nível até então desconhecido para o modelo, principalmente porque pela primeira vez ele será vendido também nos EUA, a partir de 2018.
Assim, o Ford chega (pouco) renovado no estilo e (muito) modificado no conteúdo. Apenas a dianteira reestilizada e o novo desenho das rodas identifica o EcoSport 2018 por fora - nem mesmo as lanternas foram alteradas. Mas ele traz um conjunto mecânico inédito, unindo o novo motor 1.5 de 3 cilindros ao câmbio automático de 6 marchas, além de um interior bem mais refinado. Para este primeiro teste, optamos pela versão Freestyle (R$ 86.490), que segundo a Ford deverá ser a mais vendida da gama.
Pelo lado da Renault, agora chegou o Captur mais esperado: com motor 1.6 SCe aliado ao câmbio automático CVT. Ele finalmente une propulsor e transmissão modernos, em oposição ao 2.0 com câmbio de 4 marchas. O CVT é da mesma família do primo Nissan Kicks, mas com a vantagem da opção de trocas manuais. Para encarar o Eco, se apresenta na versão Intense (R$ 88.400), a de topo com esse conjunto mecânico.
Apesar de trazer muitas novidades mecânicas e internas, o Eco 2018 é uma atualização de meia vida da atual geração. Ou seja, não muda onde ele talvez mais precisasse - o tamanho. A tampa traseira também segue com estepe na parte externa, o que obriga sua abertura lateral. Olhando pela ficha técnica, o Ford parece apenas 7 cm mais curto que o Renault, mas na verdade o Eco tem apenas 4,10 m de comprimento se descontado o pneu sobressalente. O Captur mede 4,33 m, o que na prática significa uma carroceria 23 cm maior que a do rival.
Desta forma, nada muda no espaço do Eco. Bom na frente, mas limitado no banco traseiro. Não que seja apertado, mas não oferece a mesma liberdade de movimentos do Captur. O Renault também é muito mais amplo no porta-malas, com capacidade de 437 litros contra 356 litros do Ford - fator que limita o uso familiar. Novidade do Eco é uma espécie de prateleira no porta-malas, que permite deixar o piso plano quando rebate-se o encosto traseiro. Mas nada que chegue próximo ao espaço encontrado no Captur.
Bancos maiores e com nova espuma fazem parte do EcoSport 2018, melhorando a acomodação de motorista e passageiro. A posição de dirigir é boa, sem ser muito alta, enquanto o volante agora é o mesmo do Focus, de três raios. No Captur a posição é exageradamente elevada, e o volante peca por só ajustar em altura - regula também em profundidade no Ford. Ponto positivo fica por conta dos bancos, grandes e cômodos, mas o encosto dianteiro poderia ser menos espesso, para liberar mais espaço para os joelhos dos ocupantes de trás.
Falhas de ergonomia são mais sentidas do Captur, que tem os botões do modo Eco (condução econômica), do limitador de velocidade e do "piloto automático" escondidos debaixo do freio de estacionamento. No Eco os botões dos vidros elétricos na porta poderiam estar mais próximos do motorista. E faltam alças de teto para os passageiros.
Salto enorme no EcoSport, o interior agora está muito mais para o Focus do que para o Fiesta, do qual ele deriva. Além do volante, o SUV pegou emprestado do hatch médio o computador de bordo com tela colorida de 4,2" e boa parte do quadro de instrumentos, agora bem mais vistoso que anterior. O computador de bordo é bastante completo, incluindo quatro informações ao mesmo tempo (na tela de consumo traz média, instantânea, autonomia e litros por hora) e também a pressão dos pneus.
O painel passa a ser revestido de material emborrachado, como no Fiesta mexicano, e há acabamento cinza escuro brilhante em algumas peças da cabine - estranhamente, as saídas de ar e o suporte da central multimídia são pretos, parecendo que faltou pintura ali. Também ainda não foi desta vez que o Eco se livrou das rebarbas plásticas (você ainda as encontra no recorte das peças junto às portas, por exemplo). Mas uma antiga reclamação foi resolvida: o SUV enfim ganhou central multimídia. Para compensar a espera, o sistema Sync 3 é dos melhores, trazendo tela de 8" sensível ao toque com excelente resolução, comandos rápidos e menus fáceis de navegar, além de conexão Apple Car Play e Android Auto.
Perto do Eco, o Captur não consegue disfarçar sua simplicidade. Os plásticos do acabamento interno são todos rígidos e brilhantes, que não condizem com a etiqueta de quase R$ 90 mil. O mesmo vale para a tampa do porta-objetos acima do painel, que aparenta fragilidade. Para completar, a central multimídia de 7" é a mesma dos Renault mais baratos, com resolução um tanto fraca para esta categoria, embora o sistema seja fácil de usar. A montagem, ao menos, é correta e não deixa vãos entre as peças. Os bancos são bonitos e totalmente revestidos de couro, em contraste com o restante simplório da cabine.
Em termos de itens de segurança, ambos vêm de série com controles de tração e estabilidade, com função de assistente de partida em rampa, e airbags frontais e laterais. Só o Ford, porém, traz os airbags do tipo cortina e para o joelho do motorista, totalizando 7 bolsas infláveis.
Primeiro SUV nacional com motor de 3 cilindros, o EcoSport 1.5 chama a atenção pelos números: rende 137 cv de potência e e 16,2 kgfm de torque, contra 120 cv e os mesmos 16,2 kgfm do motor 1.6 de 4 cilindros do Captur. Na transmissão, o Ford abandona o câmbio Powershift de dupla embreagem em favor de um automático convencional, com conversor de torque, mantendo as 6 marchas. O Renault estreia uma caixa CVT com 6 marchas simuladas.
A marca americana fez excelente trabalho no isolamento das vibrações do motor tricilíndrico. Pouquíssimas vezes, quase sempre com o motor frio, se percebe a trepidação característica deste tipo de propulsor. Já o ruído é bem diferente do antigo Sigma 1.6 de 4 cilindros, um pouco mais "nervosinho" em altas rotações. Na prática, o Eco ficou mais agradável de dirigir na cidade, já que grande parte do torque máximo é entregue até 2.250 rpm e deixa o SUV com boa sensação de força nas retomadas e trocas rápidas de faixa, tão comuns no trânsito.
Como havíamos notado na primeira avaliação do EcoSport 1.5, porém, o desempenho não é melhor que o da antiga versão 1.6. Em nossas medições, a aceleração de 0 a 100 km/h foi de 11,8 s para 12,3 segundos, enquanto a retomada de 80 a 120 km/h passou de 8,9 s para 10,1 segundos. A explicação? Simples: apesar de ter seus problemas de durabilidade, o câmbio Powershift não roubava tanta energia do motor quanto a caixa automática convencional. Mas a troca valeu a pena: as mudanças de marcha são suaves e a programação do câmbio é esperta, entendendo quando há subidas pelo caminho e quando é preciso reduzir rápido para ganhar força. Além disso, tem modo esportivo (S), que faz as trocas em rotações mais altas, e vem de série com borboletas no volante para mudanças manuais.
O Ford perdeu um pouco de performance, principalmente na estrada, mas ainda assim abre fácil uns dois carros do Captur nas acelerações. Embora o motor 1.6 da Renault tenha bom torque em baixos giros, a caixa CVT é totalmente voltada para o conforto, prejudicando o desempenho. Na aceleração de 0 a 100 km/h, o Captur levou "eternos" 14,2 segundos e tomou do Renegade 1.8 a condição de lanterninha da turma. Depois de embalado a situação melhora, mas não muito: na retomada de 80 a 120 km/h foram 11,3 segundos - 1,2 s atrás do rival. Curioso é que o Renault pesa apenas 14 kg extras em relação ao Ford, mas em movimento parece muito mais. O Captur é realmente lento nas saídas, enquanto o CVT fica realizando suas "falsas" trocas de marcha para dar sensação de movimento. Exageradas para um carro 1.6, as rodas aro 17" com largos pneus 215/60 também ajudam a "amarrar" o modelo.
Transmissões CVT têm como maior virtude fazer o motor trabalhar com baixo giro na maior parte do tempo. Na estrada, de fato, o Captur mantém cerca de 2.500 rpm a 120 km/h na reta - mas não pode aparecer um aclive que ele já perde o pique. No Eco a caixa de 6 marchas deixa o motor a 2.800 rpm na mesma situação. Ambos rodam em relativo silêncio na estrada, mas o Ford é sempre (bem) mais econômico: média de 11,8 km/l contra 10 km/l, com etanol.
Em relação ao Eco 1.6 Powershift, o novo 1.5 AT também não mostrou melhora no consumo, com os mesmos 11,8 km/l na estrada e 8,2 km/l na cidade, contra 8,5 km/l do anterior. Novamente é preciso se levar em conta a energia consumida pelo conversor de torque como vilão de um consumo melhor - vamos aguardar o teste da versão manual para poder tirar a prova. Mesmo assim, foi bem melhor que o Captur, que registrou apenas 7,1 km/l em circuito urbano, com etanol.
A maturidade do EcoSport pode ser percebida também no rodar mais macio e silencioso. A suspensão foi recalibrada e, na dianteira, ganhou maior curso. Na traseira, está com eixo mais rígido. No geral, o Ford ficou mais confortável nos buracos e estável nas curvas, conseguindo ótimo compromisso. Também está um pouco mais silencioso, mas neste aspecto ainda há espaço para melhoras - em altas rotações o motor 1.5 é bastante audível na cabine. A direção elétrica segue bem calibrada, leve e ágil na cidade e suficientemente comunicativa na estrada.
No Captur as heranças do Duster pesam na dirigibilidade, literalmente. É o caso da direção eletro-hidráulica, firme demais em baixa velocidade e que dá golpes ao passar por imperfeições do piso. Já a suspensão é macia e robusta, com rodar confortável, mas poderia ser mais silenciosa - ficamos ouvindo um "tum tum" quando o carro encara ruas ruins. Ao menos a altura livre do solo é imensa e não existe a mínima preocupação de raspar os para-choques em valetas e quebra-molas.
Sem poder esticar o EcoSport, a Ford apostou tudo na relação custo-benefício. E a versão Freestyle é a mais indicada neste sentido, já vindo com ESP, 7 airbags, multimídia de 8", ar digital, rodas de liga aro 16" e bancos parcialmente revestidos de couro - tudo por R$ 86.490. É, sem dúvida, um valor de briga para o segmento no qual ele se encaixa, principalmente levando-se em conta o recheio do modelo.
O Captur CVT, por sua vez, chegou quase tão caro quanto o 2.0 nesta versão Intense, tabelada a R$ 88.400. Tudo bem que ele vem equipadão, incluindo rodas aro 17", ar-condicionado automático, bancos de couro, ESP, 4 airbags e multimídia de 7", mas é pouco para justificar o preço acima do rival.
Na manutenção, a Renault cobra um pouco menos. Para cobrir os 3 anos de garantia, são necessárias três revisões (uma a cada 10 mil km) com custo de R$ 472 cada, totalizando R$ 1.416. Já na Ford as manutenções custam R$ 368 (10 mil km), R$ 564 (20 mil km) e R$ 596 (30 mil km), chegando ao total de R$ 1.528 durante os 3 anos da garantia. Já com relação ao seguro, ambos tiveram cotações parecidas para o nosso perfil padrão (homem 35 anos, casado, zona sul de São Paulo): média de R$ 3.115 para o Renault e de R$ 3.005 para o Ford.
Não restam dúvidas de que o EcoSport evoluiu bastante, mas a Ford precisará encontrar uma forma de mostrar isso ao cliente. Quem observar só por fora, achará que o carro mudou muito pouco. Para notar todas as novidades, é preciso dirigi-lo. Talvez seja suficiente para reconquistar o público que já era fã do Eco e conhece suas limitações de espaço, mas certamente haverá dificuldades para trazer um novo cliente que já viu os outros modelos do segmento.
O Captur CVT, por outro lado, não ficou bem resolvido em termos de desempenho e consumo. Confesso que esperava mais desta versão, que tinha tudo para ser a melhor do modelo - ainda fico com a 1.6 manual. Contra o Eco, seus argumentos são estilo, espaço e porta-malas. Mas o Ford anda mais, bebe menos, é mais equipado, mais bem acabado, melhor de dirigir e ainda custa menos.
Fotos: Rafael Munhoz
Ford EcoSport Freestyle | Renault Captur Intense | |
MOTOR | dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, 1.497 cm³, duplo comando variável, flex | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.597 cm³, duplo comando variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 130/137 cv a 6.500 rpm/ 15,6/16,2 kgfm a 4.500 rpm | 118/120 cv a 5.500 rpm / 16,2 kgfm a 4.000 rpm |
automática de 6 marchas, tração dianteira | automática CVT com simulação de 6 marchas; tração dianteira | |
SUSPENSÃO |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 16" com pneus 205/60 R16 | liga-leve aro 17" com pneus 215/60 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EBD | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EBD |
PESO | 1.272 kg em ordem de marcha | 1.286 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.269 mm (com estepe), largura 1.765 mm, altura 1.693 mm, entre-eixos 2.519 mm | comprimento 4.329 mm, largura 1.813 mm, altura 1.619 mm, entre-eixos 2.673 mm |
CAPACIDADES | tanque 52 litros; porta-malas 356 litros | tanque 50 litros; porta-malas 437 litros |
PREÇO |
R$ 86.490 |
R$ 88.400 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
EcoSport 1.5 AT | Captur 1.6 CVT | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 5,2 s | 6,2 s | |
0 a 80 km/h | 8,5 s | 9,6 s | |
0 a 100 km/h |
12,3 s |
14,2 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em D | 9,6 s | 10,6 s | |
80 a 120 km/h em D | 10,1 s | 11,3 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 |
42,2 m |
40,1 m | |
80 km/h a 0 | 26,4 m | 25,1 m | |
60 km/h a 0 | 14,8 m | 14,1 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 8,2 km/l | 7,1 km/l | |
Ciclo estrada | 11,8 km/l | 10,0 km/l |
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