– Lisboa, Portugal
Você entra em um vortex onde as árvores passam rápido e se transformam em borrões a sua volta, e isso acontece num piscar de olhos. Os pneus Michelin Pilot Sport Cup 2S cravam suas garras no asfalto, quatro tornados de borracha. O segundo conjunto de turbos - 69% maiores no Chiron - entra em ação, e os quatro estão ajudando a impulsionar este foguete pelo éter. Inúmeros computadores se comunicam constantemente; 16 cilindros estão sugando o ar da atmosfera; as setes marchas do câmbio de dupla embreagem são trocadas sem a violência que você espera, com postura e confiança. Você ouve um som que pode ser a asa subindo, o que significa que ultrapassamos os 180 km/h, mas até essa informação chegar ao seu cérebro, ele já atingiu a velocidade máxima, limitada eletronicamente, da maioria dos carros. Bem além.
Não é que tudo isso acontece, mas choca a rapidez com que tudo isso vem abaixo. Esta é uma experiência que deve ser realmente sentida para ser realmente entendida. É simplesmente diferente de qualquer coisa que já fizeram até hoje, e talvez nunca aconteça novamente.
Os tempos estão mudando, novas táticas estão surgindo - híbridos, motores elétricos, novos truques - e ainda assim o Chiron entrega uma aceleração de empurrar o estômago sem qualquer uma delas. Em vez disso, é uma maravilha moderna de troca de calor, aerodinâmica e alma old-school. E não só na aceleração; aparentemente, é uma meta dos engenheiros da Bugatti que o Chiron quebre o recorde de velocidade para carros de produção quando os testes oficiais acontecerem no ano que vem. "Para nós, é uma certeza", disse Martin Grabowski, chefe de desenvolvimento de exterior e estrutura, quando estávamos sendados em uma grande mesa de restaurante em Lisboa. "Não é um problema se vamos fazer isso, mas o quanto será. Estamos muito confiantes nisso". O fato é que isso soa diferente quando dito poucas horas após eu ter dirigido o Chiron do que quando dito durante a apresentação técnica na tarde anterior.
Essa confiança é um ponto importante para as vendas, ou ao menos era no Veyron, o predecessor do Chiron. Mas depois de dirigir o Chiron - e a experiência com o Veyron mais potente, de 1.200 cv, o "La Finale" - penso que a teoria da equipe de engenheiros está garantida. O Veyron é um foguete focado em quebrar recordes de velocidade máxima e entregar números de desempenho em retas de qualquer forma que você queira medir. É o produto mais chocante do Grupo Volkswagen, a volta de uma marca lendária que dormiu por cinco décadas, a ignição para a Bugatti novamente estampar as capas de revistas e vídeos de rap, em seu ouvido e nas profundezas de seu cérebro, onde se alojou permanentemente como o equivalente automotivo do Monte Everest. Enquanto outros supercarros estão no acampamento da base, a Bugatti oferece o foguete para a lua que te leva ao topo, por um preço.
Frank Heyl, chefe de desenho exterior, disse que os designers estamparam "+25%" em tudo que eles trabalhavam para manter o foco na meta
Em um forma simplista, o Bugatti Chiron é essencialmente mais de tudo que o Veyron foi. No último verão, no ateliê da Bugatti em Molsheim, França, Frank Heyl, chefe de design exterior, disse que os designers estamparam "+25%" em tudo que eles trabalhavam para manter o foco na meta. Um lugar em que isso é numericamente evidente no Chiron é na sua potência de 1.500 cv, cerca de 1/4 mais que os 1.200 cv do último Veyron. Quanto ao preço, a Bugatti teve sucesso em subir os 25% da meta, com um preço inicial de US$ 2.998.000, incluindo transporte, taxas e o imposto líquido. O preço é maior do que ouvimos (não-oficialmente) que o primeiro comprador pagou, e ainda irá subir mais.
A Bugatti já vendeu metade dos 500 exemplares que ela disse que produziria - bem mais que qualquer estimativa - então perguntei ao CEO da marca, Wolfgang Durheimer, se o preço já ficou estável. "Não, ele irá subir", e imediatamente justificou "Quanto mais vendemos, mais o preço sobe". Nota aos leitores: se você considera ter um Bugatti, faça logo seu pedido. Pague no cartão de crédito, ou em malas de dinheiro, ou de alguma forma que se fazem esse tipo de coisa.
Voltando ao mantra do "mais de tudo". Com toda a potência adicional - sem mencionar o torque brutal de 163,1 kgfm - tudo teve que ser revisto. O chassi, a suspensão e as rodas agora têm que suportar mais pressão e calor. Um trabalho de engenharia ainda melhor na aerodinâmica e trocas térmicas foram essenciais. Não cometa erros: este 8.0 litros com 16 cilindros, 64 válvulas, quatro turbos, praticamente um projétil de fibra de carbono, é sem dúvidas a Mãe dos Dragões.
Lidar com uma imensa pressão do ar não seria um pequeno desafio, e algumas mudanças cruciais foram necessárias. O extrator dianteiro foi revisto, o que ajudou a adicionar downforce sem adicionar muito arrasto. Por trás dos belos faróis com LEDs estão entradas de ar funcionais, o que reforça a filosofia "forma por performance". Entradas de ar e cortinas de ar na frente ajudam a empurrar o ar pelas rodas, que quando em altas velocidades, usam toda a refrigeração que podem. A traseira da coluna B se abre para fazer uma entrada maior de ar, pois o diretor de design Etienne Salomé nos disse, "esta é uma zona de alta pressão, e sabíamos que tinha que se abrir logo cedo". Um novo difusor traseiro e uma parte inferior lisa, e intensos testes em túnel de vento se combinam para fazer o Chiron o master de tudo nesta órbita.
Os 2,5 segundos para acelerar de 0 a 96 km/h são dignos de nota, mas o tempo de 0 a 198 km/h abaixo dos 6,5 segundos e o 0 a 297 km/h de cerca de 13,5 segundos são o que realmente surpreendem
E ainda há um aerofólio. Um sofisticado, adaptativo, que ocupa a traseira toda, não apenas ajuda com o downforce dependendo do modo de condução, mas também pode atuar como um flap de freio, como nos aviões no momento do pouso. E para ter certeza que toda essa massa irá parar rapidamente, a Bugatti chamou a AP Racing. Com oito pistões na dianteira e seis na traseira, as pinças seguram a velocidade de forma linear e reconfortante.
Ajudando a causa, peso foi removido de toda as partes do carro, levando a besta de 16 cilindros a um leve peso total de 1.995 kg. Se você vê o tamanho e presença do motor pessoalmente, deve pensar que ele, sozinho, já pesaria este peso. Para arrumar espaço para os turbos maiores, os engenheiros tiraram quilos e quilos de todo lugar, desde o motor, passando pela bateria, até o coletor de escape. Até a fibra de carbono que foi usada em algumas partes tem desenho para salvar peso, mas tem a mesma resistência do anterior. Todo este trabalho ajuda a ter um 0 a 96 km/h abaixo dos 2,5 segundos, digno de nota, mas o 0 a 198 km/h fica abaixo dos 6,5 segundos, e o 0 a 297 km/h é feito em carca de 13,5 segundos, o que é realmente o surpreendente.
Se o motor grande e os turbos são o aperitivo e prato principal, o estilo é a sobremesa. Como o líder de design da Bugatti, Achim Anscheidt, me disse no último verão, "se você entre em um McLaren P1, você vê apenas fibra de carbono. Você se sente em um carro de corrida. Nós queremos ter luxo, uma cabine de um GT".
A Bugatti diz que suas pesquisas mostram, na maioria, que os compradores decidem se querem comprar o carro ou não nos 10 a 15 primeiros segundos que ele se senta nele. Então eles tiveram um cuidado especial em coisas que o motorista pode perceber. Como o volante é sentido pelas mãos, ou a sua costura. Mostradores e painéis são sólidos e bons ao toque. Uma coisa que a equipe de design sentiu que era importante, e confirmado por Etienne Salomé, foi que o velocímetro se destaca, e é de verdade, o oposto aos painéis digitais. Desse jeito, em algumas décadas, uma criança pode olhar pela janela em um evento como Pebble Beach e, olhando para o interior, ver os números de velocidade máxima acima dos 400 km/h mesmo com o carro parado e desligado. Há detalhes de bom gosto em tudo que se vê, como o primeiro airbag que sai por um compartimento de fibra de carbono. No geral, o interior é moderno, luxuoso e elegante.
Se a Bugatti quis fazer um carro melhor que o Veyron, ela fez isso nos detalhes e em cada quilômetro até a limitação eletrônica de 418 km/h
Todos esses toques se apagam de sua mente no momento em que você crava o pé direito no acelerador. De 650 rpm da marcha lenta ao impulso que instantaneamente sobe os giros, todos os sentidos agem simultaneamente, junto com a ferocidade pura do que está acontecendo ali com o Chiron. Assim que os turbos começam a trabalhar e os cilindros a bater, dentro da cabine é um santuário da pilotagem.
Para ver se o Chiron é invencível perante outros carros, em um trecho de estrada do interior, a cambagem diferenciada - e a enorme quantidade de torque que chega às rodas - causa um medo, que imediatamente leva meu pé esquerdo ao freio. A rápida e linear desaceleração é confortante, assim que reduzimos para algo que é o dobro da velocidade da estrada. Nas mãos do meu co-piloto, o vencedor de LeMans Andy Wallaca, provavelmente seria motivo para ele não piscar.
Ainda assim, quando estamos na relativamente lisa e surpreendentemente plana estrada portuguesa, o mostrador vai ao invencível. Ao mesmo tempo em que a Bugatti está confiante em seu novo quebrador de recordes de velocidade, vejo que meu medo não tem nada a ver com a minha falta de coragem, mas sim com a força do Chiron. A velocidade vem de forma tão suave e rápida que o ponteiro do velocímetro sobe como um Audemars Piquet, e se a estrada fosse mais larga e se Andy não me dissesse que tinham carros vindo, eu manteria o pé embaixo até a hora do almoço.
Chegamos aos 298 km/h", disse Andy. Por Deus, se eu achasse um lugar mais largo, um pouco mais longo e sem carros, penso comigo mesmo, entre espanto e choque...No fim, usei apenas 1.444 cv. São duas Ferrari 488 GTB, com uma dupla de pacotes de desempenho da Porsche por cima, e mais alguns pôneis extras.
Absurdamente, o Chiron pode ser usado diariamente, assim como qualquer um quer usar um hipercarro no seu dia a dia. Há espaço para coisas como smartphone, óculos e uma garrada de água. No porta-malas dianteiro do carro, cabe uma mochila. Se podemos voar na classe comercial, vivemos com isso. O que temos certeza é que, se a Bugatti quis fazer algo melhor que o Veyron, fez isso em cada detalhe, de todos os jeitos e em cada quilômetro por hora até a velocidade limitada eletronicamente acima dos 418 km/h. E, no ano que vem, teremos um novo recorde de velocidade.
Fotos: Bugatti
MOTOR | W16, 8.0, quadriturbo |
POTÊNCIA/TORQUE | 1.479 cv, 163,1 kgfm |
TRANSMISSÃO | automatizada de dupla embreagem, sete marchas |
0 A 96 KM/H | 2,5 segundos |
VELOCIDADE MÁXIMA | 418 km/h (limitada eletronicamente) |
TRAÇÃO | integral |
PESO | 1.995 kg |
LUGARES | 2 |
PREÇO | US$ 2.998.000 |
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