Essa ninguém pode tirar da Jeep. Por causa da marca, há uma palavra na língua portuguesa para definir um veículo 4x4 e com grande capacidade no fora-de-estrada: jipe. Mas todo jipe tem que ser 4x4? Na história da própria Jeep no Brasil, já existiu um SUV familiar 4x2 que servia tanto para a cidade quanto para sair do asfalto, a Rural Willys, e talvez o Commander seja o verdadeiro herdeiro dessa mentalidade.
Mas fiquem tranquilos, este não é mais um texto do nosso colunista Jason Vogel e não vou me estender na história da Rural. A questão que vou abordar aqui é se um Jeep Commander, principalmente na luxuosa versão Overland com o motor 1.3 turbo flex (T270), tração 4x2 e sete lugares, ainda merece usar o nome da marca, ainda que seja o menos jipe dos Jeep. Para isso, levamos o SUV de R$ 262.990 para a fronteira entre Minas Gerais e São Paulo usando tudo que o SUV tinha para oferecer.
O Jeep Commander recebeu a linha 2025 em abril. A grande novidade ficou por conta da introdução do motor 2.0 turbo a gasolina de 272 cv da Ram Rampage em algumas versões. As outras, como a Overland flex testada, passaram praticamente incólumes às modificações. Mas houve uma considerável redução de preços que, no caso desta aqui, foi de R$ 27.000. Além disso, o SUV passou a contar com 5 anos de garantia de fábrica.
Entre os principais itens de série, o Jeep Commander flex T270 4x2 AT6 conta com faróis de LED, controle de cruzeiro adaptativo, frenagem autônoma de emergência, assistente de manutenção em faixa, painel de instrumentos digital, multimídia com tela de 10,1", 7 airbags, abertura elétrico do porta-malas, bancos de couro e suede com regulagem elétrica e memória para o motorista, monitor de ponto cego, carregador de celular sem fio, rodas de liga leve de 19", ajuste elétrico para o banco do passageiro, teto-solar, Alexa integrada e sistema de som Harman Kardon com 9 alto-falantes e subwoofer.
A Overland é a versão mais cara - e completa - do Jeep Commander 2025 a ainda utilizar o propulsor 1.3 turbo flex T270, compartilhado com Renegade, Compass e até a Fiat Toro. Quando abastecido com etanol, entrega 185 cv de potência e 27,5 kgfm de torque. Com gasolina, o torque se mantém, mas a potência cai para 180 cv. Com esse propulsor, o único câmbio disponível é o automático de 6 marchas e a tração é dianteira.
Um dos maiores modelos feitos sobre a plataforma Small Wide 4x4 da Stellantis fabricados em Goiana (PE), o Commander não esconde o porte. São 4.769 mm de comprimento, 1.859 mm de largura, 1.680 mm de altura e 2.794 mm de entre-eixos. Por isso, é o único da turma que tem 7 lugares, de série na versão Overland. O porta-malas com 5 lugares em uso é farto: 661 litros na medição camarada da Stellantis. Com sete, são apenas 233 litros.
Uma das maiores carrocerias de Goiana com o menor motor, o câmbio mais simples e tração lá no eixo dianteiro ainda recebem mais um empecilho. É o peso de 1.715 kg. O tanque leva 61 litros de combustível. Para um carro que, pelo InMetro, faz apenas 11,4 km/l com gasolina na melhor das hipóteses (uso rodoviário), eficiência não parece ser o alvo.
Mas algumas características de jipe deste Jeep ainda estão lá. O ângulo de entrada é de 20,1 graus, o de saída é de 22,2 graus e o central é de 21,1 graus. O vão livre do solo de 208 mm também é um fator que ajuda com um pavimento que não é lá essas coisas. A carga útil do modelo é de 540 kg.
A ideia original de testar o Commander era apenas ver como o modelo com o motor menor se comportava em uma viagem com 6 pessoas e bagagem. O destino era Delfim Moreira (MG) e não era nem na cidade mesmo, íamos para a zona rural a 30 km do centro do município, sendo os 8 km finais sem asfalto.
O recado que veio de quem vive no sítio era sério: "se chover, só chega 4x4". Por acaso, são donos de uma Toyota Hilux diesel 4x4 com pneus lameiros para completar. Considerando que íamos com um Commander carregado, com o peso sobre as rodas sem tração e pensado para uso familiar, começaram as preces para que a chuva não viesse.
O Commander vai bem no uso citadino, confortável, bem acabado e espaçoso. O consumo sofre. Com gasolina em uso urbano, fez somente 8,7 km/l. Mas tratou bem os ocupantes. A versão Overland é mais completa e os sensores de estacionamento e as câmeras ajudam a manobrar os mais de 4,7 m do SUV.
Mas chegou a hora de colocar 6 pessoas no Commander e pegar a estrada. Considerando um peso médio de 75 kg, já eram 450 kg apenas de ocupantes e sem contar as bagagens. O carro teria que subir a serra no limite da carga útil e com o peso exatamente no eixo que não tinha tração.
Ainda com a turma animada para a viagem, os ocupantes elogiaram bastante o silêncio a bordo do Commander. E veio a primeira supresa: após um revezamento de lugares durante o abastecimento, quem foi na terceira fileira preferiu ela a sentar no meio da segunda fileira. Eram pessoas com estatura próxima a 1,65 m, mas ainda assim os assentos extras do Jeep se mostraram bem aproveitados. As malas, por outro lado, precisaram ficar empilhadas sobre o sétimo assento.
Outra surpresa boa da viagem foi a estabilidade na estrada, mesmo carregado. A suspensão independente do Commander não só continuou filtrando os buracos da Rodovia Presidente Dutra sem bater fim curso como ainda continuou passando segurança. Mesmo nas curvas da serra saindo de Delfim Moreira para a zona rural, o Commander nunca deixou de passar segurança para o motorista.
Mas tem um porém: o câmbio de 6 marchas. É um problema em comum com todos os modelos da Stellantis que o utilizam, mas foram destacados pelo carro cheio. Para manter os 110 km/h de velocidade máxima da Dutra, bastava um pequeno aclive para a transmissão fazer a redução de sexta para quinta marcha. As trocas foram constantes. E fica mais um recado: Commander 1.3 cheio na estrada tem que ser tratado como carro 1.6 aspirado. Planeje as ultrapassagens com cuidado, pois o propulsor, que já é o mínimo para entregar performance no Commander, é bastante exigido com o carro cheio.
Então chegaram os temidos 8 km de terra. Por sorte não choveu. A estrada até estava em boas condições, mas repleta de curvas cegas e inclinações com grandes pedras soltas pelo caminho. Aí alguns elementos do Commander brilharam, literalmente: os faróis de LED deram conta de manter a visibilidade no trajeto, que foi feito a noite. Como o SUV ainda mantém uma boa altura do solo e ângulos descentes de entrada e saída, não deu medo de encarar buracos, valetas e desníveis pelo caminho. Mas apenas para fins de transparência: Fiat Uno Mille e Chevrolet Monza eram vista comum pelo trajeto.
O maior obstáculo era a própria entrada do sítio. Em aclive e com uma curva desnivelada no meio. Se a chuva tivesse vindo, o aviso de trazer um 4x4 de fato seria certeiro. No seco, apenas desliguei o controle de tração e coloquei o câmbio em modo manual. Nem pedi para ninguém descer. Acelerei fundo e, quando as rodas patinavam, joguei o volante para os lados para manter a tração. Não foi a tarefa mais simples do mundo, mas o Commander nem reclamou.
Pergunte a qualquer jipeiro: uma boa altura do solo, pneus corretos e um motorista minimamente ciente do que está fazendo podem te levar longe na trilha. Ainda mais numa situação que, para quem é de Delfim Moreira, é corriqueira. A chuva seria um agravante de fato, mas não vi necessidade de um 4x4 com reduzida e bloqueio de diferencial para chegar ao sítio.
Apesar de um pouco de aperto com as bagagens, o Commander cumpriu bem a tarefa de levar 6 ocupantes e suas malas, sem sustos. Claro, o consumo de 10,1 km/l com gasolina na estrada enquanto carregado, não é dos melhores e um dos reflexos da combinação do motor menor com a caixa de câmbio com menos relações. No trecho sem asfalto, relativamente longo e feito na escuridão da noite, o SUV da Jeep também facilitou a tarefa.
Puxando a memória da antiga Rural Willys que, mesmo enquanto um veículo 4x2, era utilizado até como perua escolar numa época em que asfalto no Brasil era exceção, dá para dizer que não é o 4x4 que faz o jipe. E mesmo quando a Jeep não usa tudo o que tem para o off-road, não consegue deixar de fazer um jipe.
Jeep Commander Overland 1.3T
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