Na última semana, surgiram as primeiras imagens vazadas da recém-lançada Fiat Titano com emblemas da Ram. Aparentemente, a Stellantis planeja vender a novidade retomando o nome Ram 1200 no México, onde esse modelo costumava ser a Fiat Fullback, que na verdade já era uma Mitsubishi L200 Triton. Com a Titano, será similar: o projeto original veio de uma parceira entre a Peugeot (Landtrek) e a chinesa Dongfeng.
Existe um conceito no setor automotivo conhecido como "badge engineeiring", ou engenharia de emblema para ficarmos no português. Ele ocorre quando um grupo automotivo vende um veículo sob diferentes marcas. E poucas empresas detêm tantas marcas quanto a Stellantis. E aí pode ocorrer de tudo: de Fiat vendido como Ram a Alfa Romeo com emblemas da Dodge para a América do Norte.
Dodge Hornet
Alfa Romeo Tonale
E o Brasil tem grande parcela nessa culpa, principalmente se você vive no México. Por lá, claro, há diversas Ram "puras", como as 1500, 2500 e os modelos voltados ao trabalho. Mas se você entrar no site mexicano da marca, verá diversos rostinhos conhecidos do Brasil ostentando o emblema da marca que provavelmente mais representa a gana dos estadunidenses por grandes caminhonetes.
Ram 700 / Fiat Strada
Talvez o caso mais emblemático dessa problemática sinergia entre as marcas da Stellantis seja a Fiat Strada. Ela chega ao México como Ram 700, mas é fabricada em Betim (MG) como qualquer versão da picape desde seu lançamento nos anos 1990. Mas, para os mexicanos, é um produto Ram.
Mas é interesante notar que, no mercado mexicano, a Ram não carrega o ar de picape de luxo e artigo de ostentação agrária do qual goza no mercado nacional. Lá, a Ram é vista como uma marca de veículos de trabalho também, algo que provalvemente jamais veremos no Brasil, uma vez que a Stellantis já percebeu o potencial do mercado de picapes grandes de luxo no Brasil, arrastando concorrentes como Ford F-150 e Chevrolet Silverado pelo mesmo caminho. Dificilmente será uma "divisão comercial" da Stellantis por aqui, o nome Ram já tem muito valor.
Ram 700 Longhorn (México)
E somente por isso é estranho ver uma Strada com emblema Ram no México. Principalmente nas versões de Cabine Simples básicas, é um Fiat "pé-de-boi" para trabalho. Para os mexicanos, ver esse conceito aplicado aos modelos da Ram já é algo muito mais comum.
Por lá, a Ram 700/Fiat Strada, é oferecida nas versões SLT Regular Cab (Cabine Simples), SLT Crew Cab (Cabine Dupla), Big Horn, Big Horn CVT e Laramie CVT. Respectivamente, seriam similares às nossas Endurance, Freedom e Volcano. Todas trazem sob o capô o nosso conhecido motor 1.3 8V Firefly, rodando apenas com gasolina por lá e entregando 99 cv de potência e 13 kgfm de torque. O câmbio é manual de 5 marchas ou automático do tipo CVT nas configurações que trazem a sigla no nome. Os preços no México partem de 323.900 pesos mexicanos, ou cerca de R$ 100.282.
Ram Promaster Rapid / Fiat Fiorino / Peugeot Partner Rapid
Se o lançamento da Peugeot Partner Rapid já foi um tanto estranho, dado que é literalmente uma Fiat Fiorino com emblemas da francesa, imagine-se andando pela Cidade do México e avistando uma Fiorino com emblemas da Ram. No mínimo curioso, mas esta é a Ram Promaster Rapid, até o nome é herdado da Peugeot.
Para os mexicanos, a nossa Fiorino sai como Ram de Betim (MG) com o motor 1.4 Fire EVO - ele mesmo, o veterano - entregando 84 cv de potência e 12,3 kgfm de torque, mas roda só na gasolina. O câmbio é sempre manual de 5 marchas. No México, ela é vendida em versão única por 299.900 pesos mexicanos (R$ 93,1 mil).
Ram 1000 2022
Ram 1000 / Fiat Toro
A Ram 1000 nada mais é que a Fiat Toro para exportação. Fora do Brasil, ela recebeu um facelift em 2021, mas não usou o motor 1.3 turbo como aqui. Por lá, a picape intermediária ainda escondia o veterano motor 1.8 aspirado da antiga família e.Torq.
A Ram 1000 era vendida em uma versão só, chamada Bighorn, em países como México e Colômbia. Basicamente a Fiat Toro Freedom, com os mesmos equipamentos como ar-condicionado de duas zonas e o painel de instrumentos digital de 7” e a central multimídia de 8,4”, porém adotando os 7 airbags de série da versão Volcano.
Ram Promaster / Fiat Ducato / Citroën Jumper / Peugeot Boxer
A interação de Fiat com Peugeot e Citroën para grandes vans comerciais vem de longe: 1978 para ser exato. Com a criação da Stellantis em 2021, os veículos desta categoria ganharam mais uma casa: a Ram. No mercado mexicano, a Ram Promaster nada mais é que uma Fiat Ducato feita por lá, tanto que foi exportada por anos para o Brasil. Até 2023, quando passou a vir para cá importada da Itália. Uma pena, já que a segunda geração do trio Ducato, Boxer e Jumper foi fabricada no Brasil até 2016.
No México, a Ram Promaster é oferecida apenas na versão 2500, equivalente à Ducato Cargo brasileira com 11,5 m3 de volume de carga. Como lá não a há a restrição de peso conforme o tipo de habilitação, a Promaster leva mais 1.800 kg, enquanto a Ducato equivalente por aqui leva somente cerca de 1.300 kg.
Como a Ram Promaster 2500 não vem do Brasil, não tem o motor 2.2 turbodiesel da nossa Ducato. A receita é bem estadunidense: o veteraníssimo Pentastar da Chrysler 3.6 V6 a gasolina com 284 cv de potência e 36 kgfm de torque. O câmbio é automático de 9 marchas. Oferecida em versão única, custa por lá 990.900 pesos mexicanos (R$ 307,8 mil).
Ram 1200 Fiat Fullback Mitsubishi L200 dianteira
Ram 1200 Parte I: Fiat Fullback/Mitsubishi L200 Triton
A Fiat Titano pode ter sido a primeira picape média da marca no Brasil, mas não foi a primeira do tipo globalmente. Mas é bem confuso: existiu a Fiat Fullback de fato na Europa. Era parte de uma parceria da marca com a Mitsubishi, por isso que é uma antiga L200 Triton com outros emblemas. Aí, a então Fiat-Chrysler Automobiles (FCA) deu passo além e vendeu esse modelo como Ram 1200 no México e nos Emirados Árabes Unidos.
Ram 1200 2024 (México) - Imagens vazadas
Ram 1200 parte II: Fiat Titano/Peugeot Landtrek
Esta estratégia continuará a ser utilizada no México com a chegada da nova Ram 1200, desta vez baseada na Fiat Titano e Peugeot Landtrek, como revelam imagens vazadas de uma apresentação no país e que está sendo compartilhada por diversos concessionários locais nas redes sociais.
Sob o capô estará outro motor, o 2.4 turbo de quatro cilindros abastecido a gasolina, que gera 210 cv e 31,2 kgfm. Este propulsor é usado pela Peugeot Landtrek em outros mercados, como Chile e África do Sul. A transmissão pode ser uma manual ou automática, ambas de 6 marchas, enquanto a tração é 4x2 na maior parte da linha, exceto a versão topo de linha, que terá tração 4x4.
Ai, ai. Essa Stellantis, viu?