Após quatro anos de apoio ao presidente Alberto Fernández e ao seu candidato Sergio Massa, os principais sindicatos e centrais sindicais da Argentina convocaram para hoje, 24 de janeiro, uma greve geral em protesto contra o novo presidente Javier Milei, a pouco mais de um mês de assumir o comando. Cerca de metade das fábricas de lá devem ficar paradas durante os protestos.
Ricardo Pignanelli, secretário-geral da Smata (o sindicato que representa 117 mil trabalhadores do setor automotivo), definiu Milei como "o Fantasma da Ópera, pelo terror que gera em cada lugar que aparece". A Smata acabou de acordar com as principais empresas um aumento salarial de 39% em relação aos salários de dezembro, para enfrentar a inflação que afeta a economia argentina há décadas.
Os salários básicos acordados pela Smata para o setor hoje começam em 380 mil pesos (R$ 2,2 mil) mensais para concessionárias e oficinas mecânicas, enquanto nas fábricas de automóveis partem de 800 mil pesos (R$ 4,8 mil). As cifras foram confirmadas pelo próprio Pignanelli, em diferentes entrevistas.
Tanto Pignanelli quanto o secretário-geral adjunto da Smata, Mario "Paco" Manrique, convocaram os trabalhadores do setor a aderirem à greve geral que acontece entre meio-dia e meia noite. Pignanelli e Manrique rejeitaram o plano de governo de Milei e marcharão sob o lema "a Pátria não se vende", em oposição às reformas que o novo presidente enviou ao Congresso.
No entanto, a Smata não fez menção à crise que atravessa a indústria automotiva argentina. Desde segunda-feira, três fábricas automotivas estão paralisadas devido às dívidas que acumularam com o exterior. São empresas que, no ano passado, aceitaram a proposta do ex-candidato à presidência apoiado pela Smata: o então ministro da Economia, Sergio Massa, incentivou as montadoras a contrair dívidas com o exterior sob a promessa de devolver esses fundos em dólares à taxa de câmbio do Banco Central.
Massa não cumpriu essa promessa e hoje várias fábricas e empresas de autopeças estão paralisadas: seus fornecedores externos de peças e insumos não querem mais enviar componentes até que essa dívida seja paga. Esse é o motivo pelo qual, em 24 de janeiro, várias montadoras estarão paralisadas, mas não é devido somente à greve geral: é pela falta de peças para fabricar veículos.
Toda essa movimentação ocorre apenas 44 dias após Milei assumir o cargo. No setor automotivo, o sindicato dos mecânicos (Smata) conseguiu que a produção seja suspensa em metade das fábricas de automóveis do país. A outra metade está fechada por falta de peças, devido à dívida em dólares que contraíram por sugestão do candidato opositor a Milei, Sergio Massa (apoiado pelo Smata).
Nessa disputa de interesses e poderes, os donos de concessionárias agrupados na ACARA (Asociación de Concesionarios de Automotores de la República Argentina) divulgaram hoje um comunicado de apoio a Milei, anunciando que as agências de veículos operarão normalmente amanhã. "É o momento de apoiar, também de debater, mas com o país em movimento e produzindo", disseram os representantes da Acara.
"Chamamos à reflexão aqueles que acreditam que, paralisando as atividades, contribui-se com alguma coisa", acrescentou a entidade.
A greve chega em um momento crítico para o mercado automotivo argentino. Por um erro das terminais agrupadas em Adefa (associação dos fabricantes de lá), as vendas de carros estão paralisadas há um mês em todo o país. As montadoras anunciaram uma redução de impostos para os carros, mas ninguém do governo de Milei ainda confirmou como ou quando isso será implementado.
No meio dessa situação, com uma economia impactada pela desvalorização do peso e pela alta inflação, os consumidores decidiram adiar suas decisões de compra até que se defina como serão os preços dos carros após a implementação das novas cargas tributárias. O Motor1 Argentina consultou as principais fábricas de autos sobre as medidas que tomarão durante a greve geral de amanhã. O detalhe da atividade em cada planta é informado a seguir.
A planta de produção de Pacheco (Buenos Aires), onde a pick-up Ranger é fabricada, operará apenas até o meio-dia, quando a greve geral terá início. A atividade na linha de produção será retomada somente na quinta-feira, 25, às 6 da manhã, com o início desse turno de fabricação.
As atividades administrativas permanecerão funcionando na quarta-feira, embora a opção de trabalhar remotamente tenha sido disponibilizada para aqueles que têm dificuldades em se deslocar até o local de trabalho.
A planta de Alvear (Santa Fé), onde a Chevrolet Tracker é fabricada para o mercado argentino, estendeu as férias da equipe além do previsto, pois não pôde retomar as atividades devido à falta de peças, por conta da dívida acumulada com os fornecedores no exterior.
A planta de Virrey del Pino (Buenos Aires), que produz a Sprinter, está em recesso devido a férias. Está previsto que a produção seja retomada apenas na segunda-feira, 29 de janeiro.
A Fábrica Santa Isabel (Córdoba) deveria retomar suas atividades após as férias, na segunda-feira, 22 de janeiro, mas não houve produção devido a problemas no pagamento aos fornecedores no exterior. A linha de fabricação dos modelos Renault Kangoo, Renault Sandero, Renault Logan, Renault Alaskan e Nissan Frontier pode ser reativada apenas na quinta-feira, 25 de janeiro, mas ainda não está confirmado.
As fábricas de Ferreyra (Córdoba, onde o Fiat Cronos é fabricado) e El Palomar (Buenos Aires, onde os Peugeot 208, Peugeot Partner e Citroën Berlingo são produzidos) não informaram como será a atividade durante a greve geral: "Estamos em conversações com os sindicatos para definir sobre o dia 24", afirmou a empresa.
A planta de Ferreyra opera sob o sindicato Smata, enquanto El Palomar é a única planta automotriz controlada pela Unión Obrera Metalúrgica (UOM). Ambas as entidades aderiram à medida de greve convocada pelas principais centrais sindicais do país. Durante a preparação, operários da planta de Ferreyra informaram ao Motor1 Argentina que amanhã será trabalhado no primeiro turno (das 6 às 12h, exceto na seção de Carroceria e Pintura, que não trabalhará durante todo o dia), enquanto o segundo turno de produção foi totalmente suspenso.
A fábrica de Zárate (Buenos Aires), onde os modelos Hilux e SW4 são produzidos, interromperá a produção durante as 12 horas da greve geral à qual a Smata aderiu. A planta planeja iniciar a montagem em formato CKD da Hiace nos próximos dias, mas isso só acontecerá entre o final de janeiro e o início de fevereiro. Ao mesmo tempo, a empresa desmentiu um boato que circulou nas últimas horas: não interromperá a produção devido à falta de peças, apenas a planta será paralisada durante o tempo que durar a greve.
As fábricas de Pacheco (onde são produzidos os Taos e Amarok) e Córdoba (Ducati, VW Caminhões e VW Transmissões) estenderam o período de férias devido à falta de peças por conta da dívida com o pagamento aos fornecedores no exterior. Não há data confirmada para o reinício das atividades.
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Eletroescola? Projeto de lei prevê aulas de direção com carros elétricos
Projeto de Lei propõe regularização do mototáxi
Governo federal pode ser obrigado a abastecer carros oficiais com etanol
Marca britânica Jaguar deixa de vender carros no Reino Unido
China quer instalar uma fábrica de automóveis na Argentina
Brasil quer equipar 33% dos eletrificados com baterias nacionais até 2033
EUA: plano do governo para barrar chinesas poderá afetar Ford e GM