Scania Super: andamos no último novo motor a diesel da história da marca
Novo propulsor de 13 litros recebe uma série de inovações para sobreviver até o fim do motor a combustão
Às vezes precisamos um pouco de distanciamento histórico para entender o que está acontecendo. Estamos há anos vendo o crescimento da eletrificação também nos transportes e, enquanto um caminhão elétrico viável no Brasil ainda é uma realidade distante, já estamos vivendo os últimos dias do motor a combustão.
A Scania acaba de revelar para o mercado brasileiro o novo motor 13 litros da linha Super, que começará a ser produzido no Brasil a partir de fevereiro. E, segundo Silvio Munhoz, diretor comercial da empresa, este será "o último novo motor à combustão" que a Scania apresentará globalmente". Então esta é a última vez em que o Motor1.com terá a chance de andar em um novo Scania a diesel ou gás pela primeira vez. A mudança está chegando.
Super: tudo novo para ter 8% de economia
Galeria: Scania Super lançamento no Brasil
Se esta é novidade, vamos a ela. O novo motor 13 litros turbodiesel da Scania (12,7 litros) recebeu grandes alterações, que foram acompanhadas por uma série de mudanças em diversos sistemas do caminhão para atingir uma promessa de reduzir o consumo de combustível em 8%. As mudanças não foram necessariamente para atender às novas normas de emissões Proconve P8 (Euro 6), pois os modelos com os motores atuais fora da linha Super já estão em conformidade e conseguiram uma economia de 2% no consumo.
A primeira grande alteração dos Scania Super está no cabeçote. Sai de cena o comando de válvulas no bloco com cabeçotes individuais para cada cilindro e chega um cabeçote unificado com duplo comando (DOHC) como em um carro para o motor de seis cilindros em linha.
Além de mais eficiente, a Scania afirma que a mudança foi necessária para suportar a pressão de injeção de combustível, que agora chegou a 250 bar. A Scania ainda reduziu a fricção interna dos componentes do propulsor, além de ter revisado e melhorado os sistemas de lubrificação e de refrigeração e melhorou a eficiência do turbo compressor.
Agora, a Scania oferecerá a linha Super 13 litros com 4 opções de entrega de desempenho:
POTÊNCIA | TORQUE | FAIXA DE PICO DE TORQUE |
420 cv | 234,53 kgfm | 900-1.280 rpm |
460 cv | 254,93 kgfm | 900-1.290 rpm |
500 cv | 270,22 kgfm | 900-1.320 rpm |
560 cv | 285,52 kgfm | 900-1.400 rpm |
Mudanças além do motor
Novo motor Scania Super 13 litros
Outra importante modificação da linha Super é a nova família de transmissões automatizadas. Com um total de 14 marchas, sendo a primeira com relação 20,8:1 e a última 0,78:1 (sobremarcha). A primeira delas é a G25 que será utilizada nos motores de até 460 cv. Agora, a carcaça é de alumínio e a marca dispensou o uso de anéis sincronizadores. As marchas reversas não estão mais na transmissão.
Com isso, ela ficou 70 kg mais leve que a caixa equivalente anterior. A G33, para mais de 460 cv, passou pelas mesmas alterações e ficou 60 kg mais leve. A lubrificação da caixa agora trabalha com jatos de pulverização para o novo óleo de transmissão para reduzir as perdas por bombeamento dos fluídos.
Nas G25 e G33, o sistema de freio hidráulico da caixa (retarder) também foi otimizado e está oferecendo 680 cv de potência de frenagem. Falando em potência de parada para além dos freios de serviço, o novo cabeçote ainda permitiu a instalação de um sistema de freio motor por liberação de compressão dos cilindros (CRB), adicionando mais 475 cv de potência de frenagem.
A terceira alteração no conjunto motriz foi o eixo traseiro, com Scania apresentando a linha RB885, agora com o eixo cardã trabalhando reto, antiga demanda dos clientes segundo a marca. Outra importante mudança nos eixos de tração é que eles incorporam as marchas à ré, ficando acopladas à engrenagem planetária do diferencial.
Novo tanque com pressurização (FOU)
A Scania também retrabalhou o sistema de injeção de Arla 32 no sistema de escape. Agora são dois estágios, sendo o primeiro logo após a saída turbina e o outro no silencioso. Por último, a marca ainda alterou o tanque de combustível, que agora trabalha pressurizado e reduz o volume morto no reservatório dos atuais 15% para 5%.
Além das melhorias e da promessa de redução no consumo de combustível, a Scania segue oferecendo o sistema de revisões flexíveis auxiliadas por telemetria. Com o acesso remoto, a empresa consegue verificar a severidade de uso e programar as paradas para manutenção de acordo. Um uso leve terá menos paradas (até 50% menos de acordo com a empresa), enquanto o uso severo precisará parar mais. Com menos paradas, a Scania diz querer reduzir em até 50% o volume de óleo descartado.
Durante a apresentação do Scania Super, a marca ainda falou brevemente que irá investir em um sistema de locação de caminhões por meio do "Scania Locadora". No entanto, não falou em muitos detalhes. A apresentação completa deste novo produto deve acontecer somente durante a Fenatran, que ocorre em novembro.
V8 e gás continuam
Scania 770R V8
A Scania permanecerá oferecendo motores das linhas, 7, 9 e 13 litros não Super com melhorias como menores perdas por fricção, otimização da admissão e do escape, taxa de compressão maior e reprogramação da central eletrônica. A marca também empreendeu otimizações nos sistemas de filtragem dos gases de escape e está utilizando o sistema de tanques pressurizados. Tais propulsores estavam homologados para o Proconve P7, mas já passariam nas normas P8 mesmo sem as atualizações.
Outra boa notícia é que a Scania ainda não abriu mão de seus icônicos motores V8 de 16 litros. Eles também passaram por melhorias e serão oferecidos com duas opções de desempenho: 660 cv com 336,51 kgfm de torque entre 950 e 1.400 rpm e 770 cv com 377,29 kgfm entre 1.000 e 1.450 rpm. Com isso, o último é o propulsor mais potente do mundo usado em caminhões.
Scania P340 a gás
O atual modelo que pode rodar com gás, seja GNL, GNV ou Biometano, segue em linha com o propulsor de ciclo Otto. Durante o IAA Transportation em Hannover (ALE), a Scania revelou os novos R420 e R460 a gás, mas as novidades ainda nem começaram a chegar à Europa e devem passar a ser oferecidas por aqui em um segundo momento.
Andando pela 1ª vez, pela última vez
O contato atrás do volante com o novo Scania Super foi de apenas 10 minutos, mas rendeu. O teste foi feito em um condomínio fechado no interior de São Paulo com inclinações de até 7% nas vias. O Motor1.com andou no novo 460R com caixa G25 puxando um carreta graneleira de 3 eixos espaçados (Vanderleia). Ela trazia um lastro de 10 toneladas, totalizando cerca de 30 toneladas de peso combinado.
O bom de ter andado nesta unidade menos potente é que ele não trazia o novo freio hidráulico de transmissão (retarder). Então, para segurar o conjunto em declives de até 7%, somente o novo freio motor por liberação de compressão (CRB) estava disponível. Mesmo levando-se em consideração que o caminhão estava relativamente leve, o desempenho do sistema impressiona. Com 5 níveis de assistência, conseguia manter a velocidade na decida de forma controlada e, usando o nível máximo, o caminhão efetivamente conseguiria parar sem tocar nos freios de serviço
A Scania prometeu que as novas caixas de câmbio agora conseguem realizar trocas em 150 milésimos de segundo e isto foi posto à prova nas subidas. Um troca de marcha demorada subindo com 30 toneladas pode não só tirar o embalo como, em casos extremos, fazer o caminhão se "arrastar" para subir. Mas as trocas da G25 eram de fato rápidas, melhores até que as finadas transmissões automatizadas de veículos de passeio que testei no passado.
Novo Scania Super
Juntando que o caminhão perde menos tempo na troca e que o motor já atinge o pico de torque em 900 rpm, o 460R encarou as ladeiras com competência e pouca perda de embalo e exigindo pouca aceleração. Outro destaque foi o silêncio do interior, que ainda tem boa ergonomia e não fica balançando desnecessariamente graças ao acerto das suspensões da cabine.
Apesar do contato curto, já deu para ver que a Scania "se deu ao trabalho", por assim dizer. Já que é o último novo propulsor que a marca desenvolverá em sua história global, que o seja com o máximo de tecnologia e eficiência. Até porque ele precisará durar até a transição para um transporte com menor índice de emissão de carbono, ou puramente elétrico, ainda levará uns bons anos.
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