A Citroën tem um plano ambicioso. Até 2024, a marca francesa quer passar dos atuais cerca de 1% de mercado para 4% na América Latina, sendo que o Brasil o crescimento deverá ser de 4 vezes os atuais 1,3%. E o primeiro passo é a chegada do novo C3, um hatch "com atitude SUV" para ser uma solução de mobilidade.
Solução de mobilidade? Sim. O novo Citroën C3 2023 apostará em um posicionamento de preços agressiva no mercado para uma briga que vai desde as versões mais caras de Renault Kwid e Fiat Mobi até versões de Chevrolet Onix, Hyundai HB20 e outros hatches compactos. Veja como é, versões, preços e como anda a novidade.
Projeto global, toques "made in Minas Gerais"
Inegável que o Citroën C3 foi um dos projetos que mais ganhou com a fusão que deu origem ao grupo Stellantis. A PSA já trabalhava no seu novo carro de entrada da Citroën quando tudo aconteceu. A equipe de engenharia de Porto Real (RJ) juntou forças com a de Betim (MG) para criar um carro para agradar o mercado brasileiro.
O novo C3 é o segundo modelo na América do Sul com a plataforma CMP, seguindo o Peugeot 208, e o primeiro produzido no Brasil. Nascido com a proposta global de ser um carro acessível, é bem clara sua missão principalmente em países emergentes, como o Brasil. O refinamento de conjunto mecânico e suspensão para a nossa região ficou a cargo da engenharia local, uma troca entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, que rodaram 1 milhão de quilômetros, além de simulações em laboratórios.
O C3 terá duas opções de motores. Aproveitando a alíquota de imposto, o 1.0 aspirado Firefly, de 3 cilindros, está nas versões mais baratas, com 71/75 cv e 10/10,7 kgfm de torque, ligado ao câmbio manual de 5 marchas, e o 1.6 aspirado, o EC5, com 113/120 cv e 15.4/15,7 kgfm com câmbios manual de 5 marchas e automático de 6 marchas. Como curiosidade, na Argentina ele usará o 1.2 aspirado, importado da Hungria, no lugar do 1.0 "Fiat".
Em dimensões, o novo Citroën C3 é maior do que pode parecer por fotos. Se muito se achou que teria o porte de Mobi e Kwid, o C3 aponta diretamente a Onix, HB20 e companhia. Veja a tabela abaixo comparado a dois representantes dos dois segmentos, de compactos e subcompactos.
Citroën C3 | Chevrolet Onix | Fiat Argo | Fiat Mobi | Renault Kwid | |
Comprimento | 3.981 mm | 4.163 mm | 3.998 mm | 3.566 mm | 3.680 mm |
Largura | 1.733 mm | 1.730 mm | 1.724 mm | 1.633 mm | 1.579 mm |
Altura | 1.586 mm | 1.476 mm | 1.503 mm | 1.495 mm | 1.474 mm |
Entre-eixos | 2.540 mm | 2.551 mm | 2.521 mm | 2.307 mm | 2.423 mm |
Porta-malas | 315 litros (VDA) | 275 litros | 300 litros | 235 litros | 290 litros |
Com isso, o C3 tem praticamente o comprimento do seu "primo" de Stellantis, o Fiat Argo, mas menor que o Chevrolet Onix, por exemplo. Por outro lado, tem quase o entre-eixos do Chevrolet, mas leva uma vantagem na altura, tanto pela suspensão elevada quanto pela própria carroceria. Comparado aos subcompactos, é consideravelmente maior que os dois representantes. E seu porta-malas é o mais da tabela.
Versões, equipamentos e preços
Citroën C3 Live 1.0 MT (R$ 68.990): airbag duplo, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampas, ar-condicionado, direção elétrica, monitor de pressão dos pneus, vidros dianteiros elétricos, painel digital, travas elétricas, rodas de 15" com calotas;
Citroën C3 Live Pack 1.0 MT (R$ 74.990): Live + sistema multimídia com tela de 10" e espelhamento sem fio, porta USB para a primeira fileira, volante com comandos de som, chave com telecomando, banco do motorista com ajuste de altura e limpador e desembaçador traseiros;
Citroën C3 Feel 1.0 MT (R$ 78.990): Live Pack + vidros traseiros elétricos, alarme, 2 portas USB traseiras, luzes diurnas em LEDs, rodas de liga-leve de 15", painel com faixa azul, volante com ajuste de altura, logo cromado na dianteira e maçanetas na cor do carro;
Citroën C3 Feel 1.6 MT (R$ 86.990): Feel 1.0 + motor 1.6 de até 120 cv;
Citroën C3 Feel Pack 1.6 AT6 (R$ 93.990): Feel 1.6 MT + câmbio automático de 6 marchas, modo ECO, rodas de 15" diamantadas, câmera de ré e volante em couro;
Citroën C3 1.0 First Edition (R$ 83.990): Feel 1.0 + faróis de neblina, pintura em dois tons, airbumps laterais, moldura no farol de neblina;
Citroën C3 1.6 AT6 First Editon (R$ 97.990): Feel Pack 1.6 AT + pintura bitom, barras de teto, airbumps, moldura decorativa no farol de neblina, tapetes exclusivos, badges.
Como é?
A Citroën tem o desafio de fazer um carro com qualidades dos hatches compactos, mas não quer invadir a faixa de preço deles. Temos um visual que conversa com a proposta de lembrar um SUV, como a suspensão elevada para 18 cm de altura do solo e os apliques nos para-lamas, assim como os faróis em duas partes, algo que remete diretamente ao C4 Cactus, seu irmão maior.
Sua plataforma CMP é refinada o suficiente para trazer aços de ultra-alta resistência e partes formadas a quente e nos oferecer uma boa qualidade de montagem. Encaixes, pintura, alinhamentos, tudo coloca o C3 em uma boa posição. As portas, bem leves, fazem com que você se recalibre na hora de fechar para não dar aquela pancada exagerada. Percebemos a simplicidade do projeto em pontos como esse.
O acabamento é feito basicamente por plástico rígido. Não tem onde fugir para ser barato, mas ao menos a Citroën teve a preocupação de, a partir da versão Feel, oferecer uma faixa em azul para quebrar a monotonia do preto e cinza. Peças estão bem encaixadas e alinhadas, sem rebarbas, mas não espere algum tipo de acabamento em tecido que não sejam os bancos, ou suave ao toque. O painel de instrumentos é simples, basicamente um velocímetro digital, computador de bordo, nível de combustível e temperatura do motor.
O espaço interno é bom. A Citroën aproveitou que os bancos dianteiros foram instalados em posição alta, para dar a sensação de estar em um SUV ao dirigir, e criou um espaço para os pés dos passageiros do banco traseiro. Há um bom espaço para as pernas, mas não tanto quanto o que vemos em Chevrolet Onix e Fiat Argo, por exemplo. Dois adultos se acomodam ali, mas o terceiro terá um problema com ombros. Se for alto, agradecerá o teto elevado do C3. No porta-malas, os 315 litros vem com uma boa profundidade, apesar de acesso prejudicado pela parte elevada da traseira.
Como anda?
O primeiro contato com o novo Citroën C3 2023 foi curto, mas já nos deu uma boa impressão do compacto. Escolhi a versão Feel 1.0, com o Firefly, para a primeira volta. Impossível não perceber que ele teve a grande colaboração dos engenheiros da Fiat em seu projeto, seja o lado bom ou o lado não tão bom assim.
Com a experiência de quem já colocou esse motor nesta plataforma no Peugeot 208, a engenharia da Stellantis conseguiu trabalhar pontos de conforto. Mesmo com a vibração característica de um 3-cilindros, pouco é levado para o interior do carro. A base moderna do C3 ajudou nisso, além de um trabalho de coxins e balanceadores para equilibrar - quem já andou de tricilíndrico popular sabe o quão isso pode incomodar.
A arquitetura de 2 válvulas por cilindro do Firefly dão ao C3 uma força em baixas rotações que anima para ver como ele se sairá em um teste e convivência mais completos. As trocas de marchas são feitas cedo, mas os engates longos conhecidos do câmbio Fiat tiram um pouco o brilho de um conjunto bom. Esperamos um carro econômico nesse jogo, apesar da marca não divulgar os números homologados.
A suspensão elevada é importante para o conforto e fácil uso na cidade. A Citroën já tinha uma experiência de calibração desde o C4 Cactus e transferiu ao C3. Molas e amortecedores foram trabalhados para dar conforto aos ocupantes e não bater seco nem mesmo no pior piso. Os pneus 195/60 R15 são de série em todas as versões e mais largos e altos do que encontramos em carros maiores e complementam o pacote de conforto do C3. Só a direção que poderia ser mais comunicativa em velocidades mais altas.
Aproveitamos para um rápido contato com o C3 1.6 automático. O conjunto de 120 cv em um carro de 1.107 kg deu ao C3 uma agilidade interessante para a cidade com o conforto do câmbio automático Aisin, que aprendeu com os anos a fazer trocas suaves. Leve, pouco de faz necessário mais potência ou torque. A própria suspensão e direção parecem melhor acertados com este conjunto que no 1.0. Surpreendeu.
O C3 2023 é uma amostra do que a Citroën quer para seu futuro, no Brasil e no mundo. Dar acessibilidade em um mercado que cada vez mais olha para modelos mais caros pode funcionar. Acabou economizando em pontos como apenas dois airbags e pequenas falhas de ergonomia, mas superou expectativas no conjunto geral. Agora esperamos um teste completo para detalhar tudo isso com a novidade.