Desde que se tornou Caoa Chery, a marca apresentou diversos modelos modernos e bastante melhorados do que conhecíamos da empresa chinesa por aqui, como os SUVs Tiggo 5x, 7 e 8 e os sedãs Arrizo 5 e 6. Mas um modelo não se encaixava muito bem em tudo isso: o Tiggo 2. Projeto mais antigo nascido do falecido Celer, foi o primeiro a carregar o nome Caoa Chery, mas não era (ou é...) um modelo que representava o potencial da empresa nesta nova fase.
Três anos depois, o Caoa Chery Tiggo 3X chegou às concessionárias para mudar um pouco a situação entre os modelos mais baratos da marca. Ao invés de aposentar o Tiggo 2, acabou virando um outro modelo à parte e com outro nome, mesmo que ainda use a mesma arquitetura e seja uma reestilização do SUV baseado no Celer - e esta estratégia será muito utilizada pela Caoa Chery, como já vimos com o recém-lançado Arrizo 6 Pro e acontecerá o mesmo com Tiggo 7 Pro e Tiggo 8 Pro.
O rebatismo vai um pouco além da ideia de manter dois modelos na linha, como Chevrolet, Fiat e Volkswagen já fizeram – ou até mesmo a própria Caoa, que chegou a ter três gerações do Hyundai Tucson nas lojas ao mesmo tempo. Trocar o nome do Tiggo 2 para 3X ajuda a mostrar que é um produto diferente do anterior, algo necessário visto que o Tiggo 2 estava sempre com alguma promoção para conseguir alavancar as vendas, mas volta e meia perdia espaço para opções mais refinadas e caras como Tiggo 5X.
É um jeitinho? Nem tanto, visto que o Tiggo 3X mudou bastante e corrigiu alguns dos defeitos do Tiggo 2, tornando-se uma opção muito mais interessante diante do antecessor. Por outro lado, não tinha como fazer milagre e reconstruir o carro do zero, então herdou problemas que já havíamos notado no modelo anterior e que acabam destoando dos demais modelos da marca, principalmente os SUVs.
Visualmente, é um carro que chama a atenção nas ruas. Ainda desconhecido nas ruas, o seu estilo lembra um pouco o de alguns modelos da Hyundai, principalmente pela linha fina de LED na parte superior e o formato da grade. Esta identidade aparece em outros carros na China, como Tiggo 7 e Tiggo 8 Plus. Mas é só essa parte, pois a traseira é a mesma, mantendo até o formato das lanternas – se não fosse pela cor vermelha e pela régua em preto ligando as lanternas, passaria como um Tiggo 2.
Por dentro, não é exagero dizer que o Tiggo 3X deu um salto considerável e até pode disputar diretamente com alguns carros da categoria pela forma como foi montado. Um pouco de plástico com preto brilhante aqui, uma imitação de fibra de carbono ali, boa montagem e as peças de menor qualidade acabam bem disfarçadas, dando a impressão de ser um carro mais refinado.
Mas se tem uma coisa que não se consegue mudar sem praticamente trocar a geração de um carro com base mais antiga é a ergonomia. Os bancos dianteiros combinam materiais de forma estranha, com o encosto duro e o assento mole, além de fazer um vão na junção entre os dois quando regulamos a altura (que varia apenas o assento, vale pontuar). Isso leva a uma posição de dirigir que cansa após um tempo atrás do volante. No pacote, alguns botões foram colocados em locais ruins, como o que alterna entre o modo Eco e Sport, posicionado na parte inferior esquerda do lado do motorista, quase camuflado.
Em troca, seu espaço interno está dentro da média para o segmento, desde que leve quatro pessoas e não sejam muito altas. Acima disso, começa a ficar desconfortável, mas não podemos esperar muito mais por um carro deste segmento – se precisa de mais espaço, seria melhor olhar para o Tiggo 5X que é um SUV maior. O porta-malas de 420 litros é um dos pontos fortes, com comprimento e profundidade o suficiente para fazer uma compra grande ou carregar toda a bagagem.
O pacote tecnológico é o argumento que os vendedores na concessionária vão usar para te fazer escolher o Caoa Chery Tiggo 3X. Inicialmente, o carro impressiona. A multimídia usa uma tela de 9”, colorida e compatível com Android Auto e Apple CarPlay (embora com fio). Tem um sistema razoável, mostrando tudo o que precisa na tela principal, mas pode ser um pouco confuso de navegar em alguns dos menus, como para mudar a fonte do áudio e, quando regular o ar-condicionado, ela tirar o espelhamento da tela, por exemplo, para exibir as informações da climatização.
O painel de instrumentos digital de 7” (apenas na versão Pro) é melhor do que a encomenda e mostra quase tudo o que precisa, deixando somente o medidor de combustível e de temperatura para os contadores nas laterais (em LEDs). Algumas coisas não funcionam tão bem, como o indicador de autonomia restante, que é um pouco impreciso, ou a função para mudar o desenho, que não é alterado ao mudar para o modo Sport - ao alternar entre Eco e Sport, o painel passa de azul para vermelho.
Guiar o Tiggo 3X cria uma contradição. Para começar, o motor 1.0 turbo de três cilindros, que entrega 102 cv a 5.500 rpm e 17,1 kgfm a partir de 1,500 rpm trabalha melhor na cidade por conta de um bom número de torque em baixas rotações. O câmbio automático do tipo CVT que simula 9 marchas foi ajustado para ficar nessa faixa em que o torque é entregue, o que faz o Tiggo 3x desenvolver bem na cidade, apesar do seu fôlego limitado.
Anda bem e com desenvoltura para subidas mais leves, só exigindo mais força em alguma ladeira desafiadora. Na unidade que testamos, o CVT dava alguns trancos em situações específicas, principalmente nas arrancadas, algo que já tínhamos notado no lançamento e que indica que o Tiggo 3x poderia ter um refinamento maior na calibração da transmissão. Em movimento, funciona suave como um...CVT.
Na estrada o pique desaparece pela falta de potência, tornando as ultrapassagens e retomadas bem mais difíceis. Em nosso teste, marcou 0 a 100 km/h em 12,5 segundos e uma retomada de 40 a 100 km/h em 9,9 segundos - como comparação, o Chevrolet Tracker 1.0 turbo, que também usa um motor sem injeção direta, faz a retomada de 40 a 100 km/h em 7,7 s, e vai de 0 a 100 km/h em 11,6 s. Também não ajuda no consumo, pois fizemos 8,9 km/litro na cidade e 12,2 km/litro na estrada, com gasolina – o Tracker registra números semelhantes com etanol.
A direção elétrica do Tiggo 3x é um ponto a ser considerado. Leve para manobras, a calibração acaba focando muito no conforto e, por não ser tão direta, não tem boa comunicação com o motorista e exige mais atenção como, por exemplo, desvios rápidos de trajetórias. Um sinal da idade do projeto? Pode ser. Já a suspensão é bem ajustada, sem batidas secas nem nas piores situações e ainda deixando o Tiggo 3x com menor rolagem da carroceria que no Tiggo 2.
O Caoa Chery Tiggo 3x tentará te atrair pela lista de equipamentos. Nesta versão, Pro, ele custa R$ 105.990 e já oferece faróis em LEDs, rodas de 16", piloto automático, multimídia com a tela de 9", câmera de ré e chave presencial. Em segurança, há os controles de tração e estabilidade, mas deve mais airbags, com apenas os 2 obrigatórios por lei.
Pode parecer interessante, mas o Tiggo 3x bate em uma barreira chamada concorrência de marcas mais tradicionais. O Honda WR-V na versão EXL custa R$ 104.600 e já traz seis airbags e ar-condicionado digital, enquanto o Volkswagen Nivus Comfortline sai por R$ 106.790, entregando um painel digital mais completo, seis airbags e um motor 1.0 turbo mais potente (sim, não tem rádio, mas este preço é já incluindo a central Composition Touch, atualmente um opcional). Isso sem considerar a chegar do Fiat Pulse, que já fica competitivo na versão Audace por R$ 107.990.
Alguns pontos valem ser observados no SUV. Ele evoluiu partes como motorização e equipamentos, mas tropeça em outras como a falta de airbags e uma ergonomia ainda na era do Celer. Sabemos que a marca pode mais, observando os irmãos maiores como o Tiggo 5x e o Tiggo 8, por exemplo, o que deixa o Tiggo 3x ainda um pouco fora do que esperamos de um carro da marca. Se tivesse o preço do Tiggo 2 mais completo, na faixa dos R$ 95 mil, jogaria com o custo/benefício diante da concorrência. Gostou? Negocie com o vendedor, ele talvez te entenda.
Caoa Chery Tiggo 3x 1.0T CVT
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