A crise no Brasil continua a se agravar de todas as formas e isso afeta diretamente a indústria automotiva, que está com o sinal amarelo aceso. Além do real desvalorizado; o aumento no preço de insumos como aço; falta de componentes como semicondutores; e os efeitos da pandemia nas vendas e funcionamento das fábricas e concessionárias, as fabricantes ainda tem que lidar com as incertezas políticas do país, o que pode levar mais empresas a deixarem o mercado.
O fim da produção nacional da Ford e o fechamento das fábricas em Camaçari (BA) e Taubaté (SP) já havia levado feito alguns executivos cobrarem um posicionamento do governo brasileiro que fosse além de incentivos. Também inclua na conta o fechamento da fábrica da Mercedes-Benz, no interior de São Paulo. Até quem está fora do setor no momento acabou opinando a respeito. Carlos Ghosn, ex-CEO da Aliança Renault-Nissan, disse em uma entrevista à Revista Veja que acredita que as duas marcas que comandou podem deixar o país.
“Os mais fracos vão sair do Brasil, o que sempre acontece em grandes crises. Dentre os mais fracos, cito a Aliança [Renault-Nissan], porque para competir no Brasil é preciso ter uma montadora forte, com vontade de superar os ciclos específicos da economia local, e, se a empresa não tem essa vontade, vai ficar o tempo interior saindo e entrando do país, demitindo e contratando, parando e retornando” disse o ex-executivo.
Na apresentação dos resultados de produção e vendas de março, a ANFAVEA, Associação das Fabricantes de Veículos Automotores no Brasil, aproveitou para criticar duramente o governo, afirmando que há um forte clima de descontentamento em toda a indústria. Isso é causado pela falta de resultado nas conversas com o governo e as incertezas sobre o futuro do país.
“Os ruídos políticos nas últimas semanas forma inaceitáveis na nossa visão. Muitas das fabricantes associadas estão negociando com suas matrizes sobre novos investimentos ou sobre como manter investimentos” afirma Luiz Carlos Moraes, presidente da ANFAVEA. “Este ambiente político não ajuda, até assusta um pouco as nossas matrizes. Temos que ter muito juízo em Brasília”, disse o executivo.
Quando questionado sobre a possibilidade de mais alguma fabricante tomar a mesma decisão que a Ford de fechar as fábricas no Brasil, ainda citando as declarações de Ghosn, Moraes disse que a ANFAVEA tem “trabalhado para ter sugestões, recomendações e alertas para ter o melhor ambiente de negócios para o setor automotivo”.
“Toda hora a gente tá defendendo o Brasil lá fora para nossas matrizes, defendendo que o Brasil tem potencial por ter consumo e uma população interessada em um carro, na mobilidade. (...) Mas parece que só nós estamos preocupados com o Brasil, tem gente em Brasília que não está preocupada com o Brasil, infelizmente. Fazem barulhos desnecessários, confusões desnecessárias, em momentos importantes em que nós, executivos, estamos lá na nossa matriz defendendo mais recursos para o país”
Moraes ainda reclama que "tem gente que assume uma posição pensando na eleição em 2022" e que ainda temos que fechar a conta agora, pagar a conta do mês, pois falta muito tempo para 2022 (próxima eleição). Para o presidente da ANFAVEA, que também é diretor de comunicação da Mercedes-Benz no Brasil, é inaceitável que o país, um dos maiores exportadores alimentícios do mundo, tenha gente passando fome por causa da pandemia. “Se lá falou em ‘menos Brasília e mais Brasil’, eu não estou vendo isso chegar aqui na sociedade, nas pequenas empresas e nas grandes empresas” conclui o executivo.
Outras executivos e dirigentes de montadores engrossam o coro na cobrança por mudanças que vão muito além de incentivos. Pablo Di Si, CEO da VW América Latina, disse recentemente que não quer incentivos para a indústria, e sim uma redução dos impostos sobre os carros, que hoje impacta em cerca de 54% ao somar toda a cadeia automotiva. “Eu gostaria de reduzir os impostos para o consumidor para que o carro chegue mais barato”, disse o executivo. Outro que cobrou uma política clara foi Carlos Tavares, CEO da Stellantis, ao dizer que “o governo precisa decidir se quer uma indústria automotiva.”
Apesar das dificuldades, algumas empresas já anunciaram novos investimentos no país. Na Aliança Renault-Nissan, citada por Ghosn como uma das empresas que poderia sair do Brasil, alguns investimentos mostram que, por enquanto, elas ainda apostam no país. A Renault revelou em março que preparou um aporte de R$ 1,1 bilhão na fábrica de São José dos Pinhais (PR) para lançar 5 novos modelos até 2022 e iniciar a montagem do motor 1.3 turbo. Já a Nissan acaba de lançar o Kicks reestilizado, com a promessa de trazer a versão híbrida e-Power em breve.
Outras como a General Motors e a Volkswagen conseguiram descongelar os aportes anunciados anteriormente para alguns modelos no país. A dona da Chevrolet usará esse dinheiro para a renovação da picape S10, o utilitário Trailblazer e para preparar a sucessora da minivan Spin. Já a Volkswagen trabalha na reestilização do Polo e o lançamento de um novo carro de entrada chamado Polo Track.
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Fonte: Veja
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