Quando a Ford anunciou o fechamento das fábricas no Brasil, logo surgiram acusações de que a marca queria subsídios do governo apra continuar produzindo. Do outro lado, as fabricantes sempre dizem que o problema vai vai além disso, pedindo pela reforma tributária e uma política clara que crie condições para a produção nacional. Em uma entrevista, Pablo Di Si, CEO da Volkswagen na América Latina, concordou e pediu por uma redução nos impostos.

Durante uma live com o Valor Econômico, Pablo Di Si comenta que os subsídios fazem sentido por um período limitado para começar uma operação e uma empresa se instalar, depois caminhar com as próprias pernas. O executivo até comenta que não recebe nada do tipo no estado de São Paulo (a marca tem fábricas em São Bernardo do Campo e Taubaté), pois o governo estadual deve os créditos do ICMS acumulados pela diferença de alíquota entre os estados e operações de exportações.

Para o executivo, o que o país precisa é rever os impostos e criar um ambiente favorável para que as empresas possam investir, citando a discussões sobre um “Rota 2050”. “Não estou falando de benefícios, mas de regras claras que incentivem as empresas a investirem em tecnologia sustentável e poder acelerar”, explica Di Si. Este tipo de reclamação foi constante no período entre o fim do Inovar-Auto e o início do Rota 2030, por atrapalhar nos investimentos de longo prazo sem que tivesse uma meta clara para a indústria brasileira.

A principal reclamação do CEO da Volkswagen América Latina é a alta carga tributária, que chega a 54% dependendo do veículo. “Primeiro, precisamos olhar para o futuro e definir o que queremos, não como empresas, mas como governo. Queremos um país industrializado? Não falo só do setor automobilístico. Qual o futuro da indústria no Brasil? Vejo coisas na contramão, por exemplo, o aumento de impostos no Estado de São Paulo”, afirma o chefe da empresa na região.

A referência feita pelo argentino é o aumento do ICMS feito pelo governo estadual sobre diversos produtos, incluindo automóveis novos e usados. A alíquota passou de 1,8% para 5,3% nos carros seminovos e de 12% para 13,3% entre os 0 km, o que na prática está elevando o valor final em mais de R$ 1.000 nos modelos mais baratos.

Di Si não foi o primeiro a falar sobre isso. Em uma apresentação global sobre a criação da Stellantis, fusão da Fiat-Chrysler com o Grupo PSA (dono de Peugeot e Citroën), Carlos Tavares fez a mesma reclamação ao falar do fim da produção da Ford no Brasil. Na ocasião, o CEO da Stellantis disse que os governos na América Latina precisam decidir se querem ter uma indústria automotiva ou não, se querem carros eletrificados ou não.

O CEO da Volkswagen continua o discurso e explica como a previsibilidade e a redução dos impostos se complementam para incentivar a indústria no país:

“Precisamos definir essa parte estratégia. Em vez de ficar chorando, fazendo mimimi, o que não gosto muito, vamos trabalhar juntos para solucionar nossos problemas. Acredito que na agenda do governo precisamos apoiar não somente a redução tributária, mas simplificá-la, pois há muitos impostos no Brasil. Simplificando isso, já ajuda as empresas a colocar mais foco nas pesquisas com consumidores, na redução de custos, na parte logística. Precisamos aliviar a burocracia e liberar as empresas para serem mais leves e eficientes."

Há quem acredite que, com a redução dos impostos, a úncia coisa que aconteceria é que as fabricantes teriam mais lucro por não baixarem o preço dos carros. Di Si é bem categórico ao falar que os carros ficariam sim mais baratos. “O consumidor brasileiro, quando você adiciona toda a cadeia, paga 53% a 54% de impostos. Eu não quero nenhum benefício. Eu gostaria de reduzir os impostos para o consumidor para que o carro chegue mais barato para o consumidor”, afirma o executivo argentino, dizendo que isso permitiria aumentar o volume de produção, pois o cliente teria mais dinheiro.

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Galeria: Volkswagen T-Cross - Fábrica São José dos Pinhais

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