Continua quente o embate entre a indústria automotiva e o governo. Em coletiva nesta quinta-feira (4), a Anfavea (associação que reúne as principais montadoras) contestou que o setor seja privilegiado com desoneração de impostos e criticou veementemente a posição tomada pelo presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Carlos von Doellinger, ao defender a desindustrialização do Brasil em entrevista ao Valor Econômico.
O assunto ganhou corpo com os fechamentos das fábricas da Ford e da Mercedes-Benz no país, nos últimos meses, gerando discussões sobre a viabilidade de se incentivar o setor automotivo no Brasil sem gerar as devidas contrapartidas à sociedade. Com base em dados oficiais, a Anfavea revelou que, enquanto a desoneração fiscal sobre arrecadação tributária de todos os setores econômicos do país foi de 18% na última década, a do setor automotivo ficou em 8%. E mesmo assim, o segmento ainda apresenta a melhor relação entre arrecadação x desoneração. Foram R$ 11,1 arrecadados para cada R$ 1 desonerado, pelos dados da Receita Federal.
"É importante frisar que o governo não tira dinheiro do bolso ou dos contribuintes para doar a indústrias. Ele abre mão de parte da arrecadação de impostos para compensar algumas deficiências estruturais, e também para estimular regiões ou desenvolvimentos tecnológicos. Na prática, a desoneração beneficia os consumidores na forma de produtos mais avançados, seguros, eficientes e menos poluentes”, explicou Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.
"Em certa medida, isso serve para restituir a alta carga tributária de 44% sobre o preço do automóvel, o dobro do praticado na maioria dos países da Europa e mais do que isso para casos como Japão e EUA. Ninguém aguenta mais essa tributação exagerada, de forma que as desonerações pouco melhoram a nossa competitividade", seguiu Moraes, citando que políticas industriais como o Inovar-Auto e o Rota 2030 permitiram reduzir a emissão de CO2 dos veículos em 2 milhões de toneladas por ano, além de aumentar as exportações de 443 mil em 2012 para 766 mil unidades em 2017.
O estudo da Anfavea também fez questão de separar as desonerações setoriais das regionais, que somam o maior montante e não são uma demanda do setor automotivo, mas sim uma política do governo para levar as empresas para as regiões Nordeste e Centro-Oeste (casos da Ford e FCA), como forma de compensar os maiores custos logísticos de estar diante dos grandes centros urbanos e parques de fornecedores.
Para encerrar, Moraes fez duras críticas às políticas atuais para com a indústria de transformação no Brasil. "Acadêmico só fica atrás da mesa, não vai pra montadora, não vai pro chão de fábrica, não vai em laboratório, não sabe o que é a cadeia produtiva", disse em tom pesado ao fim da coletiva.
Com a falta de alguns insumos (em especial semicondutores), o baixo estoque de veículos e o agravamento da pandemia, além da alta dos preços em decorrência dessa combinação de fatores, a indústria começou 2021 sem muitos motivos para comemorar.
A produção de 199,7 mil unidades até foi 4,2% maior que a de janeiro de 2020, mas recuou 4,6% em relação a dezembro. Já as as vendas totais de 171,1 mil veículos representaram queda de 11,5% em relação a janeiro de 2020 e de 29,8% na comparação com dezembro.
Fotos: Motor1.com e divulgação
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