Análise: Hatches compactos serão a próxima vítima dos SUVs
Depois das peruas e dos sedãs, agora são eles que vão sofrer com a "suvização" do mercado
Quando começa a morrer carro da que era, até então, a principal categoria do mercado brasileiro, é hora de acender o alerta: depois das peruas, dos hatches médios e dos sedãs, a próxima vítima dos SUVs serão os hatches compactos. E diversos deles já começaram a se despedir, alguns sem deixar sucessor, outros para dar lugar a... SUVs e crossovers.
Basta pegar o retrospecto recente para lembramos de diversos exemplos: Ford Fiesta, Nissan March e Ford Ka nos deixaram de 2019 para cá, sem contar o Toyota Etios que está em vias de sair de linha (conforme Motor1.com antecipou em setembro do ano passado) e também o Fiat Uno, que a própria marca disse ainda não ter definido seu futuro. O movimento, no entanto, não é só culpa dos SUVs. Com as normas cada vez mais rígidas de segurança, aumento de preço dos insumos e exigência por novos equipamentos de conforto e comodidade, ficou complicado para as montadoras conseguir gerar lucro com hatches compactos.
Nissan já tirou o March nacional de linha e prepara o Magnite para assumir seu lugar em 2022
Na comparação com os hatches, os SUVs são vistos pelo consumidor como produtos superiores - e eles aceitam pagar mais por isso. Então, o que veremos em breve no Brasil é um pouco do que está acontecendo agora na Índia: uma enxurrada de mini-SUVs, com comprimento abaixo dos 4 metros, para atuar no lugar dos atuais hatches compactos como opção mais acessível dos SUVs compactos que temos até então, como Renegade, T-Cross e Tracker, só para citar os mais vendidos.
Os primeiros modelos do tipo a chegar ao Brasil serão o Citroën C3 Sporty (nome ainda não definido), no segundo semestre deste ano, e o Nissan Magnite em 2022. O modelo da PSA já roda em testes na Índia e no Brasil, e aqui vai assumir o lugar do C3 na linha de montagem da fábrica da PSA em Porto Real (RJ), tornando-se o primeiro nacional a usar a nova plataforma CMP do grupo Stellantis (mesma do novo 208 feito na argentina).
Ali perto, em Resende (RJ), o Nissan Magnite começará a ser fabricado em 2022 para ocupar o lugar deixado pelo March. E esse caso é emblemático para explicar como os hatches vêm perdendo força. Faz tempo que a nova geração do March (chamada de Micra na Europa) é cotada para produção local, mas a verdade é que "a conta nunca fechou". Ele se tornou um carro mais caro e sofisticado que o atual, mas ao mesmo tempo ainda pequeno para que o cliente enxergasse valor nele. Ou seja, para ter o preço do antigo, o investimento não valia a pena.
O atual C3 dará lugar ao "C3 Sporty", mini-SUV desenvolvido em parceria com a Índia
O Magnite surge de uma plataforma mais simples, uma derivação da CMA usada pelo Renault Kwid. Mas ele tem muito do design "parrudinho" do irmão maior Kicks, além da carroceria mais alta e altura do solo elevada. Então, mesmo sendo mais barato de produzir que o novo March (o que certamente é), o Magnite poderá ser vendido com preço superior ao antigo March sem que a clientela sinta que está perdendo alguma coisa - afinal, é um "SUV".
Bom para a Nissan, bom para a Citroën. Tanto é que a marca francesa colocou como prioridade na sua nova gama nacional o pequeno SUV. O projeto Smart Car, do qual o modelo faz parte, prevê ainda um hatch e um sedã. Mas sinceramente ficamos na dúvida sobre esse hatch, a não ser que seja algo tipo o Renault Kwid. Fora isso, faz mais sentido ter como carro de entrada esse "SUVinho", da mesma forma que a Nissan terá o Magnite.
E não para por aí: tanto o Magnite quanto o C3 Sporty terão derivações dentro de seus Grupos. Na Aliança Renault-Nissan, já surgiu na Índia o Renault Kiger, irmão de base do Magnite que acabou conhecido como "SUV do Kwid". Uma vez que o Magnite comece a ser produzido no Brasil, o caminho fica aberto para a Renault fazer o Kiger aqui também. Já o modelo da Citroën, agora dentro do Grupo Stellantis, deve originar o aguardado baby-Jeep atuar abaixo do Renegade.
Irmão de base do Magnite, o Renault Kiger materializa a visão que a VW teve com o Taigun
A ideia de um mini-SUV não é nova. E a Volkswagen sabe bem disso, tanto que mostrou o conceito Taigun no Salão de São Paulo de 2012. Usando a base do up!, ele era exatamente a prévia de um crossover compacto para atuar, na época, abaixo do EcoSport. Acabou sendo abortado por, acreditem, ser compacto demais. Mas volta e meia ele retorna a aparecer na mídia como solução da VW para entrar no segmento dos SUVinhos, começando pela Índia. No Brasil, especula-se que Gol, Fox e up! serão substituídos não por um hatch, mas por algo na linha do Taigun, obviamente adaptado aos dias de hoje.
E quanto ao Ka? Bem, a Ford tinha pronto o projeto de um crossover compacto para ocupar o lugar do hatch, bem como o substituto do EcoSport e um inédito SUV médio - foram todos abortados com a decisão de fechar as fábricas no Brasil. Já o Etios também vai dar lugar a um SUV, mas neste caso um modelo médio, o Corolla Cross, que custará mais ou menos o dobro do hacth de entrada da marca. De todo modo, será menos um hatch compacto no mercado...
Fotos: divulgação e arquivo Motor1.com
Galeria: Nissan Magnite - Ao Vivo
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